6: SE ANJOS E ARCANJOS NÃO EXISTISSEM

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REN

Meus dedos começaram a ficar mais trêmulos ainda. Minhas pernas pareciam ser feitas de gelatina.

Só podia ser uma visão. Eu estava sonhando, sim. Aquele homem a minha frente era imaginação de uma pessoa que tinha acabado de perder a mãe.

Fruto de uma inconsequência mental de querer ter um pai presente.

Um que pudesse ter salvado Analu. Um que fosse como ela esperava.

Perfeito.

Fechei os olhos e apertei-os com força, respirando fundo.

— Você não é real. — Apontei para onde supostamente estaria seu corpo, já que eu não conseguia vê-lo. — Você vai desaparecer, você não existe. Eu me afundarei na maré de dor e sofrimento que quer carregar meu corpo.

Abri os olhos lentamente e ele não estava mais lá.

De uma forma inconveniente, Uriel tinha desaparecido. Eu estava tão apegado a ideia de ter alguém do meu lado, ocupar de certa forma a ausência de minha mãe que ousei acreditar em suas paranoias que anjos existiam.

E que eu era filho de um.

Deixei meus ombros caírem e funguei, mordendo os lábios. Tinha sido somente minha imaginação mesmo. Virei-me para a escada e... ele estava ali. Olhando-me inexpressível.

Me assustei e gritei, caindo no sofá e arregalando os olhos.

— "Maré de dor e sofrimento que quer carregar meu corpo?" — Repetiu e rolou os olhos azuis. — Sério isso? Já não basta o sofrimento de Analu, você ainda tem que se fazer de inocente, meu filho?

Como é que é?

Aquele babaca estava cutucando uma ferida aberta, sem nem se importar. Quem ele achava que era? Para aparecer nesse exato momento, todo pomposo. Enquanto eu estava sofrendo por perder minha mãe?

Ele recolheu as asas brancas e estralou as costas.

— Você é Uriel? — Rosnei.

— O que você acha? — Perguntou.

— Espere aí. — Não sabia quem estava controlando minha boca e meu cérebro, mas com certeza, mal conseguia ouvir minha voz. — Minha mãe morreu e você não foi capaz de salvá-la! Eu... eu... o que diabos você está fazendo aqui se nem existe? Anjos não existem, merda!

Uriel franziu as sobrancelhas, nenhum um pouco irritado pela minha demonstração ridícula de grito e incômodo. Ele levantou-se da escada e começou a olhar pela casa, sorrindo tristemente de vez em quando.

Depois, virou-se para mim com expressão azeda.

— Escute bem o que vou dizer, Ren. Primeiro, se anjos e Arcanjos não existissem eu e você não estaríamos aqui, porque querendo ou não, você é meu filho. Segundo, não podia ter feito nada para salvá-la, pois somente nosso Pai sabe a hora de cada humano. Mas não que você esteja interessado nisso. O que consegui fazer foi aplacar sua dor enquanto morria e levá-la diretamente para o Céu, onde ela viverá com os pais dela e... comigo.

Engoli em seco, retorcendo os dedos. Tudo. Tudo o que nunca quis acreditar, que pensei ser loucura, estava sendo jogado na minha cara com força.

Enquanto eu era obrigado a aceitar sem titubear.

Meu peito subia e descia tranquilamente. Nem parecia que um turbilhão estava subindo por todo meu corpo. Mas aquela informação queimou em meu coração.

As bizarrices já tinham cobrado seu preço em minha cabeça, mas ele não parecia ter notado.

— Sabe o que é pior, idiota? — Continuou, começando a ficar estúpido e rosnando, como eu. Jesus, me ajude... espere... do que eu estou falando? Meu pai está na minha frente e ele é... um Arcanjo, como posso... Confusão, isso me definia. — Olhe para mim! — Gritou, fazendo-me dar outro pulo. — Ela morreu por suas patadas!

— Pelas minhas o quê? — Se era para discutir, que seja, pelo menos ainda conseguia raciocinar mais ou menos bem. — Analu começou a morrer desde o dia em que você a abandonou! Não seja hipócrita!

Ele bateu palmas lentamente, debochando.

— Então agora você acredita que é um Anticristo? Depois de vinte cinco anos, bastou sua mãe morrer e eu aparecer para que você se desse conta?

Parei. Sem querer, em voz alta, eu tinha admitido que acreditava ou que sempre, lá no fundo, mantinha uma esperança de ser diferente.

Arqueei as sobrancelhas e fingi ironia.

— É difícil não acreditar quando alguém aparece com asas na minha frente, não acha?

Uriel cruzou os braços.

— Muito engraçado. Já conseguiu emprego no circo?

— Nossa, você lê mentes? — Mostrei um sorriso nojento. — Eu estava quase te perguntando a mesma coisa.

Uriel ficou em silêncio e puxou a ar com força.

— Eu amei sua mãe, de verdade — falou mansamente —, foi a única humana por quem tive sentimentos. Verdade seja dita, eu não vim só por que ela morreu, e sim por que preciso de sua ajuda. Proponho um acordo.

Aquelas palavras doeram.

Ele na mesma frase tinha dito que a amava e que não ligava para a própria.

Segurei as lágrimas remanescentes.

— O que você propõe? — Perguntei friamente.

— Nós matamos o assassino de sua mãe e em troca... você virá ao Inferno comigo.

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Assim fica meio complicado, né? KKKKKKKKKKKKKKK

Espero que tenham gostado :3

Bjocas da Gótica Suave :)

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