5: INDO PELO MESMO CAMINHO

184 24 16
                                    

REN

O que faço agora? Para onde ir? Quanto tempo se passou mesmo?

Eu não sabia mais nem o que pensar coerentemente. Aquele homem, Alan, disse-me que conhecia minha mãe, pois fizeram faculdade juntos. Ele garantiu que poderia cuidar do velório, caixão, essas coisas.

Da minha mãe.

Não estava em condições de dirigir, mas não conseguia ficar ali parado. Jesus, ela tinha morrido e nosso último momento fora brigando... ah, enxuguei a torrente de meleca que insistia em correr por meu nariz.

Ela morreu acreditando que a odiava.

Analu tinha ido de forma tão abrupta que... não parecia real. Quase acreditei que aquilo fosse um maldito e odioso pesadelo. Que eu acordaria em minha cama e a encontraria na varanda fumando seu cigarro.

Mas... eu não acordei.

Liguei o carro e dei as costas para o corpo de Analu, sentindo uma forte ardência no peito e na cabeça. Não sabia para onde estava dirigindo, mas começou a chover... só por quê o mundo estava de mal comigo.

Muito mal.

Respirei fundo e quando me dei conta, desci do carro e me vi na frente da nossa Igreja.

Óbvio que as portas estariam fechadas as três da manhã, mas não me importei e caminhei até as escadas. Os pingos gelados fazendo-me estremecer.

— Ótimo. — Murmurei.

O que estou fazendo aqui?

Mas sabia muito bem.

Meu subconsciente tinha tomado meu corpo e fizera-me vir para o único e verdadeiro lugar que odiava.

O lar de meu pai.

Olhei para o céu e observei a chuva caindo com força, alguns relâmpagos começaram a iluminá-lo. Não fiquei com medo. Não sentia nada.

— Você está vendo isso?! — Gritei com vontade, nem me importando se acordaria os moradores locais. Se os policias aparecessem e me prendessem, estariam fazendo um perfeito trabalho. Ri que nem um maníaco e mordi os lábios em seguida, chorando. — Vamos, Arcanjo Uriel, o que você fez para salvar minha mãe? Hein, seu merda! Minha mãe confiava em você! Ela dizia que eu era a bosta de um Anticristo! Se você realmente existisse, com certeza tê-la-ia salvado! Imprestável! Ela. Te. Amava!

Juro, sério, não estou mentindo, que quando um relâmpago banhou o céu com sua luz branca e roxa, vi enormes asas brancas lá em cima, mexendo-se com força, mas depois escureceu e não enxerguei mais nada.

Caí de joelhos e gemi, fechando os olhos.

Estou enlouquecendo. Minha mãe era esquizofrênica e estou indo pelo mesmo caminho. O melhor de tudo... é que não ligo. Na verdade, quero que isso aconteça.

— Me perdoe, mamãe.

Seja lá qual fosse o lugar que ela estivesse... rezei para que soubesse que apesar de seus defeitos e suas loucuras, eu a amava. Sempre amei, por mais que parecesse o contrário as vezes. E não tinha dito o suficiente quando estava viva.

Portanto estava falando agora.

Neste momento que não mudaria absolutamente nada.

Andei como um zumbi para dentro do carro, encharcando o banco. Ela me daria uma bronca. O pior de tudo mesmo, quando se perdia uma pessoa amada, era a saudade. Sabia que tudo o que fizesse, lembraria de suas ações.

De suas palavras doces, de seus olhos felizes.

De... tudo.

Dirigi até a nos... minha casa, abri e fechei o portão e guardei meu carro como um robô. Só tinha noção de que realmente o estava fazendo, nem ligando para os latidos tristes de Bil e Bolinha.

Entrei dentro de casa, suspirando e com os olhos fechados acendi as luzes, deixando a casa totalmente iluminada. Ousei levantar a cabeça, olhando para as escadas. Com um suspiro sofrido, virei-me para a cozinha.

E paralisei.

Um homem estava escorado no balcão da pia. Duas asas brancas emolduravam seus cabelos loiros e seus olhos azuis me penetravam sem pena.

Tinha até um certo sarcasmo lá no fundo.

— Como assim — sua voz me assustou e dei um pulinho ridículo —, você chama o seu pai de merda? Onde está o respeito, garoto? 

--------------

Pausa para a chegada triunfal de Uriel KKKKKKKKKK

Espero que tenham gostado :3

Bjocas da Gótica Suave :)

O Anticristo do Fogo | Vol. III  [DISPONÍVEL NA AMAZON]Onde histórias criam vida. Descubra agora