18: A AMALDIÇOADA

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DANIELLE


Às vezes — quase sempre — imaginava como seria nascer filha de outro Arcanjo que não Lúcifer ou até ser alguém normal. Quando criança.

Mas hoje não, hoje eu tinha ciência que meu pai poderia ser amoroso quando quisesse.

Mas amor era uma fraqueza.

Ele me ensinou da pior forma possível.

Ultrapassei os demônios até chegar a sua saudosa e porca sala do trono com aquela merda negra em que metia a bunda. Lúcifer estava sentado, olhando para o nada e continuou assim até ter certeza que eu estava perdendo a paciência.

Quando descobri que era filha do Diabo, lá no fundo ainda tinha mantido esperanças de que ele seria legal o suficiente comigo.

Que teria prazer em ter uma filha como eu.

Uma garota que não se apegava a ninguém.

Uma guerreira antes mesmo de ser treinada.

Mas não foi o que aconteceu.

Sempre li romances onde os assassinos e monstros se rendiam ao amor. Sempre sonhei secretamente com isso. Mas não Lúcifer. Não o Arcanjo caído e exilado no Inferno.

Ele não amava ninguém além de si mesmo e olhe lá.

— Não vai me responder? — Sua voz saiu gelada.

Segurei um arrepio pois sabia que não podia parecer fraca em sua frente, e também segurei o ímpeto de tocar a grande cicatriz negra em meu pescoço e o encarei diretamente, franzindo ligeiramente os olhos.

— Vou. Se repetir a pergunta.

Ele sorriu.

Lúcifer as vezes gostava de ser confrontado e sabia que eu era exatamente o tipo de pessoa que conseguia fazer isso. Além do mais, ele poderia me torturar a vontade, mas nunca me mataria.

Eu era a sua única filha.

A única forte o suficiente para aguentar seu gene. A amaldiçoada. Todos os outros Arcanjos tinham uma infinidade de filhos — os Ceifadores — mas Lúcifer não.

— Bom, escute dessa vez, pelo menos. Entregou o bilhete?

— Como você mandou. — Cada palavra alfinetou minha garganta e passou queimando.

Lúcifer abriu as asas negras e me encarou.

Mais alguma coisa que eu deva saber?

— Não.

Ele sabia que eu não tinha falado nada — pois estava vendo pelos meus olhos — e minha lealdade não era 100% Lúcifer. Mas meu pai também sabia manipular minha mente o bastante para entender que se fizesse algo a Abaddon... ele morreria.

Portanto não.

Eu não tinha falado nada demais para o seu sobrinho. Para um dos Anticristos mais poderosos vivos. Para o homem que eu queria secretamente que viesse ao Inferno salvar Miguel e me libertar das garras de meu pai.

— Tudo bem, acredito em você. E que fará seu trabalho quando chegar a hora.

Cerrei os punhos visivelmente irritada e dei-lhe as costas. No mesmo instante minha coluna foi atacada e fui obrigada a me curvar sob seu poder e gritar de dor.

Parecia que cada costela estava sendo quebrada e recolocada no lugar.

Uma mão segurou meu pescoço enquanto a outra, os meus cabelos brancos. Não consegui enxergar pelas lágrimas, mas Lúcifer removeu aquela cicatriz nojenta e imunda de minha pele como quem não faz nada.

Depois a dor desapareceu como se nunca tivesse existido e respirei aliviada.

Somente uma das inúmeras ilusões de Lúcifer.

Seus dedos ainda impulsionavam minha cabeça para trás, fazendo-me encará-lo.

— Nunca se esqueça, minha pequena Anticristo. Você me obedece e consequentemente não sofre.

Me desvencilhei de seu toquei e me permiti correr dali, escutando sua risada em meus ouvidos. As lágrimas ameaçaram vir de novo, mas ergui os ombros e resolvi ir para o meu digníssimo quarto.

Vamos, filha, você é metade demônio. Seja má. — Sua voz retumbou em minha cabeça.

Sim, ele veria o que é ser má.

Lúcifer teria uma grande surpresa quando a guerra e Ren chegasse ao Inferno. Ah, sim.

Papai teria muito orgulho de mim.

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