22: NUNCA MAIS OS VI

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REN

Quando servi um ano ao exército, uma das únicas coisas que aprendi com meus amigos, foi fingir dormir e parecer convincente. Não dando chance a vontade de sorrir e piscar quando cadetes passavam em revista.

Eles eram idiotas engraçados. Meus amigos, digo.

Quando saí, troquei meu número de celular. Eu não queria contato com eles quando ingressei no Direito porque pensei que eles adeririam demais a sua profissão.

Bem, era o que eu dizia a mim mesmo quando o ressentimento e arrependimento deixava meu estômago borbulhando.

Mas a verdade que eu não queria admitir, até para mim mesmo, era que tinha medo. Medo de ficarmos muito amigos e qualquer dia desses, servindo, eles morressem.

Eu não queria sofrer.

O Exército era duro.

Mesmo assim, apesar disso, lembrava de nossos melhores momentos. Ainda com os olhos fechados e repassando a discussão de Uriel com Amitiel, e seus pensamentos sobre Analu, permiti que uma lágrima corresse por meu rosto.

***

— Você o quê, Ren? — James indagou, rindo.

Tínhamos dezoito anos, ambos, enquanto Jeff tinha vinte. Nós dividíamos um cubículo com dois beliches. O outro cara, que eu nem lembrava o nome, nunca nos dirigia a palavra e não fazíamos esforço para começar a integrá-lo em nosso trio.

Ri quando lembrei da cena e encarei James e Jeff.

Era noite. Faltava alguns minutos para apagarem as luzes e estávamos aproveitando o tempo, enquanto o outro lia um livro qualquer com fones de ouvido, escutando Rihanna no último volume.

— O comandante olhou para mim e perguntou: "Como é seu nome, cadete?" Eu respondi: "Ren, senhor." Mas não satisfeito, ele olhou-me com desaprovação e mostrou aqueles dentes com musgos verdes.

Os dois começaram a gargalhar tanto que quase não consegui continuar.

— Então ele disse: "Ren é o nome do boneco, marido da Barbie." Como assim alguém diz isso? Eu não aguentei e comecei a rir, quando já estava claro que o "Carcaça de Grilo" estava pronto para me suspender, apenas adotei um ar sereno e retruquei: "Senhor, se me permite, na verdade, o nome do boneco é Ken."

Nós três começamos a ter um ataque de riso. Alto. Recebendo um olhar descontente do nosso acompanhante silencioso.

Apenas dei de ombros para ele.

A piada em si não era engraçada, mas conhecendo Carcaça de Grilo, poderia apostar que ele ficaria de olho em mim até sair daqui. Com esse pensamento parei de rir e sequei as lágrimas, com expressão azeda.

Eu não ia continuar ali.

Tinha recebido uma carta de Cambridge, que entraria na Universidade de Harvard. Já tinha informado minha mãe da decisão na noite passada.

Eu voltaria para casa.

— É muito bom ter conhecido vocês, sério. — Sorri.

Aquela foi minha última noite ali.

De manhã, acordei antes dos rapazes e fui embora. Sem me despedir, com o coração angustiado.

Nunca mais os vi.

***

Abri os olhos, secando as lágrimas remanescentes. Eu tinha muitos problemas para lembrar justamente de Jeff e James agora.

Eles poderiam estar ao lado de minha mãe naquele momento.

Não pude evitar olhar para o teto.

Contendo um arrepio, levantei-me um pouco mais revigorado. Mesmo caindo de mal jeito na praia, meus músculos pareciam ter se recuperado bem.

Massageei minhas costas, depois coloquei meus coturnos marrons do lado da cama.

Hesitei, pousando a mão na maçaneta.

Tudo bem, você consegue... pequeno. Assim que ele me chamara. Me pedira perdão, suas palavras para Amitiel... aquilo me deixou confuso como o Inferno. Uriel me protegendo. Querendo se aproximar de mim depois de vinte e cinco anos.

Trocadilho idiota.

Revirei os olhos e abri a porta, desci as escadas e encontrei todos sentados no sofá. Quatro pares de olhos me fitaram quando me apoiei no último degrau de maneira desajeitada e acanhada, e soltei a respiração contida.

Olhei para Amitiel.

O idiota que tinha me jogado no mar e apanhado de Uriel.

Bem feito, meus olhos diziam. Os dele responderam, Não gosto de você.

Ou talvez fosse tudo imaginação de minha cabeça.

Qual era o problema dos anjos e Arcanjos? Eles só sabiam escolher receptáculos bonitos? Mas que droga. Pareciam até deuses modernos com aquelas roupas. Contando com Dhália, claro.

— Então. — Cruzei os braços e forcei minha voz a sair. — Vamos encontrar os Ceifadores?

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