Os dois ainda tremiam. Aquelas crianças, seja lá o que fossem, os apavoraram.
Não sabiam o que deviam fazer, se falavam com alguém, se nunca mais tocavam no assunto. Tudo parecia uma má ideia.
Alion, a contragosto, se forçou a comer um pouco, precisava disso.
Após uma hora, os dois estavam um pouco mais calmos. Não era grande coisa, mas seria o suficiente para que conversassem. Por quase outra hora inteira debateram sobre o que poderiam ser aquelas crianças e, mais importante, o que significavam as coisas que diziam. Além disso, Isav falou sobre as outras três experiências que tivera, pensando que poderiam ajuda-los a concluir algo.
Não concluíram nada. Não tinham noção do que as supostas crianças queriam dizer a eles, e o melhor palpite que tinham sobre o que eram aqueles seres assustadores era que tinham acabado de alucinar, só não sabiam explicar porque os dois tinham delirado com a mesma coisa simultaneamente. "Não foi uma alucinação", ambos concluíram.
-O que mais pode ter sido ? - questionou Alion.
-Uma manifestação do demônio ? - chutou Isav trivialmente.
-...
-Não vai me dizer que não pensou nisso, né ? Aquilo pareceu muito sobrenatural, até pro meu cérebro lógico.
-Pensei, mas essa possibilidade é particularmente desagradável.
-Eu não consigo pensar em mais nada - afirma Isav.
Alion simplesmente diz que também não consegue, e complementa:
-Devemos falar com alguém ?
Isav leva a sugestão em consideração, mas reluta. Pode não ser a coisa inteligente a se fazer. Não, "Definitivamente não é", concluiu. Compartilhar o pinscher de sete caldas já seria um erro. Crianças de olhos vazios ? Fora de cogitação.
-Não é uma boa ideia. Não temos nada a ganhar, só as pessoas achando que somos loucos, ou então mentirosas.
-Talvez alguém saiba o que é isso. Não temos que falar com todo mundo. Só com alguém inteligente e em quem confiamos. Sua mãe, por exemplo.
Isav fechou a cara. Sua mãe sempre mostrou ter algum conhecimento, sobre qualquer coisa, mesmo que apenas uma mísera informação. Mas, sabendo de algo ou não, Isav não queria falar com ela. Não ainda. Não sobre isso.
-Minha mãe não.
-Por quê ?
O garoto pensou bem no que dizer. Não queria mentir, mas também não queria falar o que aconteceu.
-Porque ela é babaca. Isso resume o motivo - Seu tom de voz deixou claro que não aceitaria contestações.
-Ok - Alion ergue as mãos em rendição - sua mãe não, então. Quem é a segunda pessoa mais inteligente que conhecemos ?
Os dois pensam menos de um segundo e já concluem, dizendo juntos:
-Lara.
Mandaram mensagens e ligaram várias vezes para a amiga, mas ela não lia, nem atendia. "Deve estar visitando o padrasto", pensou Isav. Olhou as horas em seu celular. "15:37". Ela provavelmente ficaria indisponível até as 16:00. Não era muito tempo, mas estavam ansiosos demais. Precisavam falar com alguém, mesmo que fosse a mãe de Isav.
Correram até a casa da família de Isav, os Davis (lê-se "Deivis"). Uma viagem que normalmente levaria 15 minutos foi efetuada em 6.
Ambos chegaram ofegantes, entraram na casa e tomaram água. Na cozinha, encontraram um bilhete preso à geladeira, que dizia "Filho, tenho que resolver uma coisa no hospital, só volto quando você já estiver dormindo. O Alion pode passar a noite aqui, se quiser, só não transe no sofá. Ps: tem frango na geladeira que dá pra vocês dois jantarem. Ps2: Se transar no sofá, cubra ele com um lençol.".
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I.L.A
AdventureUm dia antes de seu aniversário de 18 anos, Isav começa a notar coisas estranhas acontecendo ao seu redor. Enxerga coisas impossíveis, seres que não existem e que ninguém mais parece ver. Esteja ele vendo coisas irreais, ou presenciando verdadeiros...