Confronto no campo florido

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   Isav precisava ser rápido. Drenou a água das flores ao seu redor e, com ela, criou uma ponte entre ele e seu adversário. Gera eletricidade no corpo e toca a água, que conduz rapidamente a descarga elétrica. O loiro move o dedo pra cima, ligeiro, e um grande muro de terra rígida se ergue, rompendo o caminho de água. Com o braço direito, corta o ar horizontalmente e a parte inferior da pedra é quebrada, separando-a do solo. Gesticula um empurrão com a mão esquerda e o muro voa em direção a Isav, que reage empurrando as duas mãos na direção do muro, que para por um segundo e depois voa na direção de seu criador, que imita o movimento de Isav. Os dois homens, cada um com seu poder, joga a parede contra o outro. Isav tem a vantagem. Em questão de poder bruto, ele supera o inimigo. 

-O que é que vocês querem ? - Pergunta. Imagina que talvez possa dialogar com o homem. Ele não quer ter que matá-lo. 

-Não interessa o que queremos, interessa o que o chefe quer - responde o homem em um tom de voz brincalhão.

-Não vou dar a chave pra nenhum de vocês.

-Não precisa, seu namoradinho vai - Isav se enfurece. O homem está questionando a integridade de Alion, e ele não gosta disso. Sente o muro se mover em sua direção por um segundo, mas retoma o controle. "Lembre-se: distrair, não ser distraído".

-Nenhum de nós vai.

-Ainda não. Mas, depois que a cabeça da sua amiga estiver em uma estaca, e colocarmos uma faca na sua gargantinha delicada, aquele vínculo zero com certeza vai nos dar o que queremos, em troca da sua vida - Isav não se deixa abalar.

-Como sabe o vínculo dele e sobre o nosso namoro ?

-A vadia da sua mãe não te contou ? - Isav sente a fúria voltar com o dobro da intensidade, e seu controle sobre o muro vacila. Com um deslize de seu pé, a terra aos pés do loiro afunda, puxando-o pra baixo e o desequilibrando. Isav agora tem controle absoluto do muro e o joga em direção ao homem. "Não quero matá-lo, mas não faço questão que saia daqui inteiro", pensa.

   O homem joga um braço pra trás, se equilibrando no chão, e move o outro pra cima, criando um muro mais grosso, que intercepta e repele o anterior.

   O muro se desmancha em terra fofa novamente e Isav vê o homem em pé, que diz:

-Na presença de um vínculo quatro, as plantas obtém consciência, e contato mental com ele. Tudo que uma planta já presenciou está guardado nela, e o surgimento de consciência traz tudo à tona. Sua mãe tem um girassol adorável na janela da sala de estar. Adorável e fofoqueiro.

   Isav sentiu uma pequena revolta ao saber que sua planta o tinha traído, mas nada que realmente mexesse com ele.

-Sabemos tudo sobre vocês - continua o loiro - mas vocês não sabem nada sobre nós - forma um espinho de terra atrás de Isav, que rápidamente estende a mão na direção do mesmo, cerra o punho e desmonta a lancha.

-Sei que tenho mais poder que você - diz Isav, desafiador.

-Verdade - estala os dedos.

   Isav sente uma rajada de ar o atingir, como um soco, em toda a lateral esquerda do corpo e se desloca 2 metros no ar, até cair no chão. Bate as palmas no chão e a própria terra o ergue. Ele se lembra do óbvio. "Não vou vencer só com poder bruto".

   Quando a luta começou, a inimiga de Alion começou a correr dele. Era óbvio o que ela estava fazendo: separando-os. Os tsitarë claramente acreditam no potencial do dividir e conquistar, mas Alion a seguiu sem medo. Seus adversários também estavam divididos, e ele acreditava nos amigos. 

   A ruiva era rápida, mas Alion conseguia segui-la. O problema era outro. Dois, na verdade. O primeiro era que a garota tirava dos bolsos do grande casaco preto vários ossos de tamanhos variados e ia os soltando no chão, e Alion tem certeza que ela planeja algo, então tem que detê-la rápido, o que leva ao outro problema. Ele atirou várias flechas (nenhuma em pontos vitais, pois ele não acredita que há necessidade de matá-la), mas a garota simplesmente estendeu uma mão em direção aos projéteis e os absorveu. "Vínculo três. Não podia ser melhor".

   A garota põe as mãos nos bolsos mais uma vez, mas dessa vez não tira nada deles. 

-Acabou o estoque ? - pergunta.

   A ruiva para de correr e se vira para ele, a alguns metros de distância, e diz:

-Sim, acho que é a hora - Sorri sádica.

   Alion prepara mais uma flecha, com potência alta, dessa vez, mas se detém. Um brilho fraco chama sua atenção. São os ossos. Um símbolo brilha nos olhos da garota. Uma foice. Os ossos se erguem no ar. Uma luz sai deles ganhando forma. Ratos, macacos, tigres, gorilas, humanos e vários outros animais constituídos de um único osso e o restante do corpo de essência.  Alion se viu rodeado por eles. Um tigre se joga contra Alion. Enquanto o "animal" está no ar, Alion prepara uma flecha e dispara. A flecha simplesmente atravessa o ser. Alion rola para o lado, evitando um golpe fatal, mas sente as garras do tigre arranharem seu braço. Quando olha, não há nenhum ferimento, mas ele sente a dor. Ele está vendo em primeira mão o auge do nível três, seres de essência que causam dano além do físico. As criaturas serem de essência é outro problema, já que seu arco só destrói matéria e corrupção. O animal avança novamente. Dessa vez, Alion mira no osso da coisa: Um pequeno pedaço de seu crânio, que, ao ser atingido em cheio, é destruído, e a criatura desaparece. Alion olha o campo de batalha. Ele pode ver Isav sendo golpeado pelo vento, metros longe de onde está. Vê também uma alta nuvem de poeira e um forte brilho a alguns quilômetros. De repente, as criaturas que o rodeavam desorganizadas se movem, e, em segundos, ele está cercado por elas, que andam em círculos ao seu redor. A ruiva se escondeu por trás delas. Alion prepara uma flecha. "Eu devia ter ido estudar na casa da Lara".

   Lara sente o peso de cada golpe do oponente. O homem é fisicamente mais forte que ela, mas ela se sobressai em velocidade e agilidade.

   O adversário desfere um soco na direção do rosto de Lara, que gira o corpo na lateral, esquivando-se, e então crava sua espada na barriga dele. O homem cospe sangue. Sua mão agarra o crânio da garota, que sente a força dele o esmagando. Lara grita e seu aperto na espada enfraquece. Com a outra mão, o homem arranca a espada do corpo e inicia um corte horizontal, visando o pescoço de Lara, que bate com o escudo no braço que a segura. Ela sente os ossos quebrarem, e se esquiva da lâmina.

   Em um segundo, o braço do careca está intacto de novo. Lara invoca seu machado. O homem avança. O machado é grande de mais. Não é pesado, para ela, mas ela tem problemas para equilibrá-lo ao desferir o golpe, e o homem acaba a atingindo primeiro. Um corte inclinado atravessa o rosto de Lara, a cegando momentaneamente do olho direito. O adversário se aproveita da dor da garota e a soca na barriga. O escudo, preso a seu braço, permanece com ela enquanto a garota voa metros para trás, mas o machado cai no chão e o homem o pega. Lara recupera o equilíbrio no ar. Vira o corpo e firma os pés no chão, se arrastando por ele mais alguns metros. Quando para, seu rosto está curado. Ela encara fixamente o homem, enquanto ele se aproxima lentamente, segurando a espada e o machado que pertencem a ela, respectivamente nas mãos esquerda e direita. Ela sente o suor escorrer por todo o corpo.

   Ao estar a centímetros de Lara, o homem solta a espada e segura o machado com as duas mãos, erguendo-o. A lâmina da arma desce na direção da cabeça de Lara, com força velocidade e precisão. O golpe a teria dividido no meio, se não fosse bloqueado pelo escudo. Por mais que o escudo tenha absorvido o corte, Lara ainda sentiu o impacto vibrar todos os ossos de seu corpo, e o chão embaixo dos dois quebrou e afundou. Uma nuvem de poeira se ergueu, mas ela não impediu Lara de ver o brilho intenso de seu escudo e machado, gerado pelo impacto do metal de um contra o outro. Lara se recompõe. Agarra a espada que caía. O homem se prepara para atacar novamente. Virando o corpo, ele projeta um golpe horizontal, do qual Lara se esquiva ao deslizar com dificuldade pelo chão destruído. Enquanto passava por baixo do adversário, Lara desfere um corte no tendão de Aquiles dele. Ela vê a luz intensa da essência do inimigo vazar brevemente do corte e entrar na espada. 

   Novamente de pé, Lara vê a expressão de dor do homem e vê, pela primeira vez durante a luta, ira no olhar dele. Uma nova confiança nasce em Lara. "Não será fácil, mas a vitória já é nossa".


I.L.AOnde histórias criam vida. Descubra agora