9º Capítulo

587 53 33
                                    

POV Cait

Se estava preparada para tudo o que escutei? Não, claro que não, ainda não conseguia acreditar que aquele Sam alto, forte e corado na minha frente estava sofrendo com algo que não podia nem imaginar, mas era verdade e agora iria tentar lidar da melhor maneira possível. Em nenhum momento passou pela minha cabeça abandoná-lo, não, por mais que nosso relacionamento amoroso não existisse mais, a nossa amizade era forte e teria que bastar.

Já tinha chorado, já tinha o confortado, já tínhamos chorado juntos, mas agora precisava ser forte, por ele, por mim, por nós. Depois de nos acalmarmos um pouco, Sam contou alguns detalhes do que tinha feito até agora para lidar com a doença, Deus, como era difícil lidar com essa maldita palavra que trazia tanta angústia no meu coração. Ele estava fazendo um tratamento conhecido como Imunoterapia, o objetivo dele era estimular o sistema imunológico a combater ou destruir as células cancerígenas. Nunca tinha ouvido falar, mas Sam me explicou que em muitos países ainda não era aprovado e tinha um alto custo. Ele tinha sorte de poder arcar com tudo e evitar a quimioterapia, pelo menos por enquanto, o tratamento poderia durar até dois anos, mas estavam acompanhando para ver se ele não teria avanço na doença.

Sabia que ele poderia precisar de um transplante de medula, mas ele não tocou no assunto e não quis falar enquanto ele parecia esperançoso com esse tratamento que estava fazendo. Agora conseguia entender porque ele não estava bebendo seu uísque de sempre no jantar, ou porque mal tinha tocado no café da manhã que havíamos pedido. Tentei parar com meus pensamentos sobre como isso podia afetar sua forma física, era uma coisa tão supérflua de se pensar, mas infelizmente me preocupava.

- Cait, eu preciso ir senão vou perder meu voo e a Marina vai me matar! – Sam falou se levantando da cama onde tínhamos passado a última hora conversando.

- Mas você tem certeza que quer ir agora? Você pode tentar ir no voo comigo, tenho certeza que consegue trocar a passagem e...

- Cait! – ele falou me interrompendo – Você sabe que estou bem agora, né? Não precisa se preocupar, não depois de tudo o que fez comigo noite passada e hoje de manhã! – ele riu, mas logo ficou sério quando viu o olhar que dei em sua direção. – Sério, não precisa se preocupar, viu, por isso que não gosto de contar para as pessoas, começam a me tratar diferente, como se eu fosse um incapaz! – ele falou frustrado tentando abotoar sua camisa.

- Sam, eu sei que você pode se virar sozinho, só pensei que lhe faria bem uma companhia agora, ainda mais depois de tudo que passamos essa manhã! E quer parar de tentar abotoar essa camisa?! Metade dos botões dela estão no chão! – falei nervosa.

Ele olhou para baixo e riu, lembrando do que tinha feito na noite anterior. Acabou pegando seu casaco e colocando por cima para tentar disfarçar. Acabei rindo junto com ele, como precisava ver aquela risada, sentir a minha também. O ar no quarto estava tão pesado, precisávamos aliviar um pouco. Infelizmente tínhamos que nos despedir, não queria, mas sabia que depois de tudo que tínhamos conversado e vivido, um tempo a sós era necessário para ambos. Colocar os pensamentos no lugar. Mas tinha medo dele se afastar de novo, de não me deixar participar de sua vida:

- Eu não vou fugir, você sabe, não é? – Sam falou parecendo ler meus pensamentos, odiava o quão bem ele me conhecia. – E além do mais, pra saber onde eu moro é só perguntar pra Lauren ou pra Marina, tenho certeza que não vão hesitar nem por um segundo em te passar essa informação!

- Essas duas ainda me assustam, sabia? Acho que sabem mais da nossa vida do que nós mesmos! – sorri. – Mas você sabe que não conseguirá se livrar de mim, não é?

- Sempre soube disso Cait! – ele sorriu com o canto da boca e se aproximou de mim. – Como falei, você sabe como me encontrar, prometo que não vou sumir! – e me abraçou.

Sabia que ele estava se esforçando muito para me manter por perto, sabia como era difícil para ele admitir que precisava de alguém nesse momento da sua vida, pior, que precisava de mim mesmo que fosse apenas como amiga. O apertei bastante para lhe avisar que não iria abandoná-lo, o amava demais para o deixar sofrer sozinho. Antes que mais lágrimas começassem a cair, me separei e lhe dei um sorriso, fraco, mas ainda um sorriso. Ele retribuiu e saiu do quarto sem olhar pra trás.

Quando me vi sozinha, desabei na cama e chorei. Deixei sair tudo o que segurei enquanto ele me contava tudo o que tinha feito nesses nossos quatro meses separados, parecia que o aperto que sentia no peito não passava, e achava que tinha sofrido muito quando ele saiu de casa. Se eu soubesse por tudo o que ele tinha passado, não teria sido tão orgulhosa em não procura-lo. Não, não podia pensar no que poderia ter sido diferente, agora nossa situação era essa e iria fazer o meu melhor para confortá-lo, era isso que importava, teria que deixar meus sentimento por ele um pouco de lado, agora não era hora de pensar no nosso relacionamento, pelo menos não o amoroso.

Minha crise foi interrompida pelo meu celular tocando, era Lauren avisando que meu carro já estava me esperando, era hora de ir embora. Tentei me deixar mais apresentável, mas o rosto inchado era difícil de esconder e infelizmente estava sem os meus óculos de sol. Resolvi não me preocupar mais, duvido que alguém iria reparar e não me importava também. Acabei dormindo durante o trajeto até Salt Lake City, estava exausta, tanto emocionalmente quanto fisicamente.

Quando cheguei ao meu hotel, Lauren já estava me esperando com um sorriso no rosto:

- E como foi a noite? – ela perguntou entusiasmada.

- Desde quando você sabe? – perguntei de uma forma ríspida que a assustou.

- Que eu sei o que? Que vocês iriam ficar no mesmo quarto? Cait, eu falei... – mas a interrompi.

- Desde quando você sabe o que está acontecendo com o Sam, tenho certeza que a Marina te contou, ela não iria conseguir guardar segredo de você!

- Cait...eu...

- Lauren, pode falar, não vou ficar brava com você...no momento estou tão esgotada que nem tenho forças pra discutir algo!

- Ela me contou logo que descobriram, pediu minha ajuda para acobertar tudo da mídia, ninguém poderia saber e infelizmente, incluía você! – ela falou abaixando a cabeça – Mas saiba que foi a coisa mais difícil que fiz!

- E então você e a Marina tiveram a ideia brilhante de nos colocar no mesmo quarto para ver se finalmente ele me contaria?

- Não, na verdade não tínhamos nada planejado, mas quando a oportunidade surgiu, resolvemos dar uma mãozinha no destino! Mas o máximo que esperávamos era ver vocês juntos novamente, não achei que ele iria contar tudo, muito menos a Marina, ela tem tido bastante trabalho com ele...

Ela não precisava completar, sabia o que ela queria dizer, Sam era bem teimoso e devia estar fazendo a Marina sofrer para manter tudo o mais "normal" possível.

- Já que você sabe de tudo, se prepare que quando chegarmos em LA, vou fazer uma visita pro Sam!

- Ué, mas então vocês não...? – ela estava me olhando confusa.

- Não e é muito complicado para te explicar agora!

- Então você não sabe? – ela me olhou apreensiva.

- Não sei o que Lauren??? – já estava ficando irritada.

- Que o Sam não foi pra LA, pegou um voo direto pra Houston, é lá que ele está fazendo o tratamento, no maior e melhor hospital especializado em câncer dos EUA.

- Aquele escocês maldito!!! – esbravejei, ele realmente tinha feito isso? Mas tinha prometido que não iria se livrar de mim e iria cumprir essa promessa. – Lauren, cancele meus compromissos e procure o voo mais rápido daqui pra Houston!

Only YouWhere stories live. Discover now