21º Capítulo

501 52 36
                                    

POV Cait

O jantar havia sido um sucesso, todos estavam querendo ajudar as nossas instituições, principalmente a nova causa adotada por Sam, que aliás estava muito feliz com o que estavam falando sobre sua postura em relação a doença. Sabia que tudo daria certo, ele sempre gostou de se comunicar com as pessoas e sabia que não encontraria problema em assumir que não era perfeito e tinha problemas como qualquer pessoa e que seria apoiado em tudo.

No decorrer das semanas fomos convidados por diversos lugares, tanto outras instituições que ajudavam pessoas com câncer, principalmente leucemia, quanto hospitais. Me espantei por ser sempre convidada junto, achei que seria algo mais para o Sam, mas faziam questão que eu participasse junto e estava adorando poder o ver se sentindo tão bem em ajudar outras pessoas.

O último lugar que havíamos sido convidados para visitar foi um hospital infantil que tratava crianças com todo o tipo de câncer. Sabia que o lugar não era o ideal para o Sam visitar afinal ele estava debilitado também, mas seu médico havia liberado contanto que usasse máscara e não permanecesse muito tempo com crianças que estivessem mais doentes. O diretor do hospital estava eufórico, pois assim como as crianças, era um grande fã de 007 e não conseguia esconder o entusiasmo quando viu Sam chegar vestido como o famoso agente.

Eles organizaram todas as crianças numa ampla sala, que era onde eles passavam tempo lendo, brincando e tentando se distrair um pouco da terrível razão por estarem lá. Nesse dia resolvi ficar vendo tudo de longe, queria deixa-lo a vontade com elas, sem ter que se preocupar em dar atenção pra mim, e adorava vê-lo tão relaxado, diferente de como ele costumava ficar em entrevistas para a imprensa, ali ele podia ser ele mesmo, mesmo que representando por um tempo o seu famoso personagem no cinema. As crianças ficaram vidradas com ele contando sobre como havia feito as cenas de ação dos filmes, como se sentia com medo e muito mais. Elas o encheram de perguntas e todos quiseram tirar fotos. Os meninos queriam fazer pose de luta, já as meninas ficavam um pouco tímidas com a presença dele tão perto, mas não conseguiam segurar o sorriso quando ele as abraçava.

Quando saímos do hospital vi que os olhos de Sam estavam brilhando, não sabia exatamente se eram só de felicidade ou de tristeza também, porque era inevitável não pensar em como era estar sofrendo daquela doença terrível tão novos:

- Você foi ótimo hoje! Como sempre! – falei sorrindo e pegando sua mão que estava apoiada em minha perna. Já estávamos no carro a caminho pra casa.

Ele ficou um tempo em silêncio, sem falar nada, apenas apertando minha mão:

- Obrigado... – ele sussurrou.

- Por que está me agradecendo? Você que fez tudo hoje!

- Não, não por hoje, obrigado por ter me mostrado que poderia fazer tantas coisas boas e não ficar chorando trancado em um quarto sozinho, amargurando e culpando a todos pela minha doença. Cait, ver aquelas crianças hoje...elas não tem um terço da minha idade e me deram um show de como lidar com tudo o que está acontecendo na vida delas, elas teriam todos os motivos para estarem chorando, tristes e sem vontade de brincar, de viver, mas lá estavam elas interessadas no que eu tinha pra contar, eu! Quem é Sam Heughan pra elas? Por que seria tão interessante? E mesmo assim elas ficaram quase duas horas me escutando falar bobeiras!

- Você não é qualquer um pra elas, você é um superagente secreto, tudo o que cada menino sonha em ser, dirige carros legais, pula de prédios, persegue bandidos, quem nunca sonhou em fazer isso quando menino? Você já foi assim! E as meninas não conseguiam resistir a esse sorriso encantador! – falei colocando a mão em seu rosto. – E sabe o que é o mais legal pra elas? O famoso 007 está enfrentando a mesma coisa que elas, isso só deu mais coragem pra elas seguirem em frente de cabeça erguida!

Vi que ele tinha ficado emocionado com as minhas palavras, acho que até então não tinha percebido a importância que tinha na vida das pessoas, a influência, claro que com anos de carreira sabíamos que influenciávamos várias pessoas, isso não restavam dúvidas, mas aquela situação que ele estava enfrentando era totalmente diferente e até duas horas atrás ele ainda não tinha conseguido aceitar que tinha algo poderoso em suas mãos, mesmo que trouxesse tristeza, era algo incrível poder ajudar as pessoas daquela maneira.

- Amo você... – ele falou baixo, segurando minha mão e a beijando.

Levantei seu rosto e enxuguei a lágrima que estava caindo:

- Também amo você, sempre! – e o beijei.

O resto do caminho pra casa foi em silêncio, mas não um silêncio desconfortável, nós dois estávamos contentes, por mais desgastados emocionalmente que estivéssemos tudo o que estávamos vivendo era incrível.

As semanas foram passando rápido e Sam não parava um minuto, os compromissos fora de casa tinham diminuído, mas ele continua trabalhando bastante no escritório, sempre no celular ou no computador falando com alguém. Estava feliz por ele estar fazendo algo que o deixava feliz já que atuar estava em pausa, mas ao mesmo tempo estava começando a ficar preocupado. Havia notado uma perda de peso considerável nele, claro que isso aconteceria, devido ao medicamento e por ele não estar podendo mais frequentar a academia como fazia antes, mas tinha algo além disso, ele mal comia o cardápio que o médico havia passado pra ele, sempre alegava estar com pressa, com muita coisa pra fazer e se eu insistisse, ele fechava a cara como uma criança e ia para o escritório sem esperar eu terminar de comer.

Sempre íamos pra cama juntos, gostávamos de conversar um pouco antes de dormir, abraçados, curtindo um pouco o tempo como casal e claro, curtíamos fazer outras coisas na cama também, aliás essa sempre foi a grande ansiedade do Sam em ir pra cama logo, mas nas últimas semanas ele estava dormindo enquanto conversávamos e ficava com dó de acordá-lo. E o que estava estranhando mais ainda era que Sam, que sempre acordava bem mais cedo que eu, que sempre me irritava com a sua disposição matinal, não estava mais assim, se eu deixasse ele dormia a manhã inteira:

- Sam, você não achava que está trabalhando demais? – perguntei um dia entrando no nosso escritório.

- Eu sempre trabalhei muito Cait, você sabe disso, eu gosto! – ele me respondeu sem tirar o olho do computador.

- Mas agora é diferente... – falei baixo, mas isso bastou para tirar sua atenção do computador e me olhar intensamente.

- Por que? Porque estou doente e deveria estar me arrastando pelos cantos? – ele falou bravo.

- Não Sam, você sabe que acho ótimo você ter encontrado algo com que pudesse se dedicar tanto quanto a atuação, mas estou preocupada, você anda sempre cansado, não está comendo direito e...

- Estou ótimo! E você sabe que é o medicamente que me tira o apetite, o médico já falou sobre isso e já cansei de falar também, não vou comer mais igual comia antes, mas isso não quer dizer que estou passando fome! – ele falou de forma ríspida. – Mais alguma coisa? Tenho que fazer uma ligação!

- Não, mais nada... – respondi baixo.

Saí do escritório rapidamente e só parei quando já estava na sala. Sentei no sofá e segurando uma almofada na frente do meu rosto, gritei até lágrimas de raiva começarem a cair. "Maldito escocês teimoso!" era o que pensava sem parar enquanto sentia um aperto no meu coração.

Only YouWhere stories live. Discover now