13º Capítulo

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POV Cait

A noite logo chegou e só havia deixado Sam sozinho para ir rápido até o hotel tomar um banho e trocar de roupa, fiz tudo tão rápido que só quando estava chegando no quarto que percebi que estava com a blusa do lado do avesso. Ri com essa constatação, mas entrei no quarto sem me importar.

Quando cheguei onde Sam estava deitado, meu sorriso desapareceu do meu rosto com a mesma rapidez que ele havia aparecido. Tentei respirar fundo e entender que aquele ali deitado não era a pessoa por quem me apaixonei seis anos atrás, aquele não era o Sam que sempre estava com um sorriso no rosto, não importava a situação, aquele não era o Sam que tinha os olhos azuis mais brilhantes e expressivos que já havia visto. Não, aquele não era o Sam, não era o meu Sam.

Ele havia me alertado dos efeitos colaterais do medicamento, mas nada me prepararia para a cena diante de mim. Ele estava com os olhos fundos, seu cabelo grudado ao rosto devido ao suor, sua boca e rosto pálidos, parecendo sem vida. Estava completamente largado na cama, como se tivesse perdido a vontade de continuar. Sentia um caroço em minha garganta que me impedia de falar, tentei engolir, precisava falar alguma coisa, precisava ser forte por ele, principalmente quando sabia que parecia sem forças.

- Falei que ia ser rápida! Fui tão rápida que vim com a minha blusa do lado do avesso, provavelmente diverti a enfermeira! – falei tentando esboçar um sorriso, mas sabia que estava falhando miseravelmente.

- Cait... – Sam falou quase num sussurro.

Apertei meus olhos tentando segurar as lágrimas que estavam se formando, não, não podia chorar, ele não podia ver que não era forte o bastante para cuidar dele, e principalmente, não podia achar que estava com pena dele, essa era a última coisa que ele queria e deixou claro várias vezes. Vi que ele estava apontando o copo de água que estava na mesa. Mais do que depressa peguei o copo e entreguei pra ele que agradeceu com a cabeça:

- Cait, você não precisa ficar aqui... – ele falou melhor agora, mas sua voz ainda estava rouca.

- Sam, já não discutimos isso?

- Você não me deixou terminar, você não precisar ficar aqui do meu lado, não vou ser uma boa companhia, vá ver tv, descansar, daqui um pouco vou dormir mesmo... – ele falou olhando para o lado.

Sabia o que ele estava fazendo, ele estava se fechando pra mim, não queria que eu visse mais do que iria acontecer. Não tinha ideia de quão pior ele poderia ficar, mas mesmo assim não tinha intenção alguma de deixar o seu lado.

- Você sempre é uma ótima companhia Sam, e vai ser bom ficar em silêncio ao seu lado, pelo menos por uma vez na vida! – ri timidamente da piada que havia feito.

Sam riu também, ah como era bom ouvir o som de sua risada, mesmo que tímida e rouca, era contagiante como sempre. Quando a risada parou, ficamos em silêncio por um tempo. Voltei a sentar na poltrona ao lado da cama e por hábito peguei na mão de Sam que estava largada. Assustei ao senti-la tão gelada, mas não a soltei, ao contrário, a apertei tentando trazer calor novamente.

Mais tempo se passou, vi que Sam tinha adormecido e comecei a ler um livro que havia trazido do hotel. Nossas mãos ainda estavam entrelaçadas e mesmo estando sentada um pouco desconfortável pra ler, não queria soltar, sentia que aquilo era o conforto que ele precisava para dormir. Estava distraída presa em um trecho interessante do livro quando senti um puxão em minha mão, olhei rapidamente pra Sam que tinha um olhar de alarme no rosto, não sabia o que ele estava sentindo, o que precisava e um desespero tomou conta de mim. Ele soltou a minha mão e se virou rapidamente na cama, quase caindo. Vi que estava se levantando e antes que tivesse tempo de falar algo, ele correu desajeitado para o banheiro, quase tropeçando no caminho.

Sem ter tempo para fechar a porta, em minutos soube a razão de seu desespero, ele estava caído no chão, com a cabeça quase dentro do vaso sanitário colocando tudo para fora. Fiquei parada sem saber o que fazer, não sabia se ia até ele, se perguntava se precisava de algo, claro que ele não estava bem, isso não precisava ser perguntado, mas estava perdida:

- Sam... – mas antes que pudesse continuar, ele chutou a porta, a fechando na minha cara.

É, estava claro que ele não queria minha ajuda ali. Fiquei um tempo parada atrás da porta escutando para garantir que ele estava bem. Após alguns minutos escutei o som da descarga e fiquei esperando por ele, mas nada aconteceu.

- Sam? Você está bem? – falei sem pensar, logo me arrependendo da estupidez da minha pergunta.

- Estou ótimo! – ele respondeu num tom que sabia que era irônico.

- Sam, desculpa, só estou preocupada, não sei se precisa de alguma coisa...

- Preciso ficar sozinho! – ele falou rispidamente.

Aquelas palavras me atingiram com tudo. Sabia que ele não queria falar aquilo, sabia que era por toda a situação, mas elas não deixaram de me machucar. Respirei fundo e me virei para sair do quarto. Quando estava no meio do caminho, escutei ele passar mal novamente, não parecia estar bem, ouvia seu pé bater na porta, provavelmente porque o banheiro era muito pequeno para ele. Não, não iria deixa-lo sozinho, dei meia volta e abri a porta do banheiro com toda a força, o assustando:

- Cait, não... – vi que ele estava tentando fechar a porta novamente com os pés e segurei firme. – Já falei que quero ficar sozinho! – ele tentou gritar, mas logo outra onda de enjoo tomou conta dele, o fazendo virar para o vaso sanitário.

- Seu escocês teimoso! Você pode achar que quer ficar sozinho, mas não é verdade! E se acha que isso é muito pra eu lidar, não esqueça que já cuidou muito de mim bêbada, só estou retribuindo o favor! – falei com determinação.

Abaixei ao seu lado e passei a mão em sua testa, afastando os cabelos molhados de suor. Ele tentou se esquivar de meu toque, mas mais uma vez estava passando mal e sem poder reagir, deixou eu tomar conta dele. Passamos uma parte da madrugada ali, os dois sentados no chão, eu segurando aquele homem de quase dois metros de altura que parecia tão frágil quanto um bebê. Sabia que não podia fazer nada contra os enjoos, mas estava lá segurando sua mão por todo o tempo.

Quando o pior havia passado, voltamos para o quarto. Ele estava fraco, mas vi que tinham deixado no quarto mais água e algumas frutas, não sabia se ele conseguiria comer algo, mas se estavam lá, provavelmente sabiam melhor que eu do que ele precisava. Ele se sentou na cama e pegou a água, tomou alguns goles e parou, me encarando:

- Você quer comer alguma coisa? – perguntei apontando para as frutas.

- Sabia que era teimosa, mas hoje tive a prova que esse seu sangue irlandês é pior que o meu... – ele falou com um sorriso no rosto.

- Sempre falei que os irlandeses são melhores.

- Depende do ponto de vista! Melhores pra quem? – ele riu quando o bati de leve no braço. – Mas pode ficar tranquila, o pior já passou! – ele falou sério.

- Você sabe que estarei sempre aqui, pro melhor e para o pior.

- Eu sei, e como sei... – e com um leve sorriso no rosto, se esticou para pegar uma fatia de maçã do prato. – Ainda bem que sabem que estou sem forças pra fazer qualquer coisa, senão quando vissem você sair do quarto com essa blusa do lado do avesso iriam achar que sua visita foi bem-sucedida! – ele riu.

Senti meu rosto esquentar, mas não aguentei e ri junto com ele. É, ele já estava melhor, aquele sim era meu Sam!

Show me a smile then
Don't be unhappy, can't remember
When I last saw you laughing
If this world makes you crazy
And you've taken all you can bear
You call me up
Because you know I'll be there

Mostre-me um sorriso, então
Não fique infeliz, não me lembro
Quando foi a última vez que vi você sorrindo
Se este mundo te deixa louca
E você aguentou tudo que consegue tolerar
Me chame
Porque você sabe que estarei lá

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