23º Capítulo

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POV Sam

I've gotta keep the calm before the storm
I don't want less, I don't want more
Must bar the windows and the doors
To keep me safe, to keep me warm

Abri os olhos com dificuldade, eles estavam pesados. Olhei ao redor e tentei me localizar, sim, estava num quarto do hospital, as paredes brancas e sem vida logo me deram a dica, mas se isso não fosse o bastante, o tubo ao qual estava preso era outro bom indicio. Tentava me lembrar o que tinha acontecido, estava dormindo na minha cama quando comecei a tossir, já estava acostumado com essa tosse, ela estava sendo recorrente nas últimas semanas, mas ela não parava e fui ficando sem ar e a última coisa que me lembrava de ver eram os olhos azuis desesperados de Cait. Oh Deus! Cait! O que havia feito ela passar? Sabia que ela estava assustada, eu queria a acalmar, mas eu não conseguia, não conseguia falar, não conseguia respirar e aquilo tudo me fez apagar.

Agora estava aqui, nesse quarto de hospital sozinho e sem saber o que me esperava. Na verdade, já sabia que não era boa coisa e que deixaria Cait furiosa depois, pelo menos depois dela ver que estou "bem". Eu sabia que algo estava errado, mas fui orgulhoso e covarde ao mesmo tempo. Orgulhoso por não pedir ajuda dela, de deixar ela cuidar de mim quando precisei, ela sabia que eu não estava bem, que algo parecia errado e eu fui um covarde ao afastá-la com grosserias e frieza, fui mais covarde ainda ao não querer falar para o meu médico que estava sem fome, fraco e com uma tosse que me deixava muitas vezes sem fôlego. Eu não era assim, nunca fui covarde, nunca fugi das minhas responsabilidades, mas agora era diferente. Por que? Porque estava com medo, com medo de morrer, com medo de perder tudo, de perder ela, meu amor, meu tudo...

Meus pensamentos foram interrompidos pela porta se abrindo, olhei rapidamente e um pequeno sorriso surgiu em meus lábios ao vê-la. Cait correu para o meu lado e de leve bateu no braço:

- Nunca mais faça isso comigo! – ela falou com os olhos marejados, mas com um pequeno sorriso no rosto.

- Pode deixar! Não pretendo mais desobedecer às ordens da minha enfermeira particular! – sorri e peguei sua mão, a apertando. – E não quero voltar pra cá nessas condições...

Quando terminei de falar, senti a mão de Cait me apertar, ela estava tensa e o pequeno sorriso que estava em seu rosto, desapareceu. Ela abriu a boca pra falar algo, mas nada saía, ok, algo estava muito errado e antes que pudesse perguntar, meu médico entrou no quarto:

- Sam, precisamos conversar. Antes quero falar que não estou feliz por ter omitido seus sintomas, pelo jeito que chegou aqui no hospital, não foi algo que surgiu de um dia para o outro, você sabe a seriedade de sua doença e omitir de seu médico uma tosse ou um espirro que for, não é certo. Eu havia o liberado para trabalhar contanto que não atrapalhasse sua saúde, mas parece que não foi isso que aconteceu.

- Desculpa doutor, eu realmente achei que tinha tudo sobre controle... – abaixei a cabeça, estava com vergonha de falar isso, claro que não tinha nada sobre controle, estava longe disso.

- De qualquer maneira, suas atitudes não foram as únicas culpadas, sua doença o deixa fraco, assim como o tratamento que estava fazendo e uma simples gripe se tornou uma pneumonia, claro que se tivéssemos começado a tratar antes, poderia não ter chegado nas condições que se encontra agora, mas não poderia garantir que sairia dela tão fácil. Você lembra que quando começamos o tratamento, a garantia de sucesso era grande, mas não 100% e já havia avisado que poderíamos chegar onde estamos agora, em que a única solução é o transplante de medula óssea.

Sim, ele já havia me falado disso, estava consciente de que poderia chegar nessa fase, mas tinha tantas esperanças no tratamento que nunca parei pra pensar muito nisso. Mas agora isso não era só uma possibilidade, e sim a única solução. Minha vida dependia de outra pessoa, outra pessoa que fosse compatível comigo para doar o que tanto precisava. Apertei a mão da Cait mais forte, as lágrimas nos meus olhos lutavam pra sair, mas não queria, não permitiria, nada estava acabado e não iria sofrer por isso, não mais. E tinha que ser forte pela mulher ao meu lado, já havia a deixado preocupada demais, não poderia desmoronar agora. Ela colocou a mão em meu ombro e apertou de leve, como se estivesse dando um sinal de que tudo ficaria bem, ela estava lá.

- Você se lembra que quando iniciamos o tratamento, como precaução pedi para a sua família fazer o teste de compatibilidade e infelizmente o resultado foi negativo. Há um sistema que podemos consultar doadores compatíveis, mas devo reforçar que achar alguém que seja compatível com você é em média, um entre cem mil. Por enquanto estamos aguardando surgir um, por isso permanecerá internado no hospital para tratar dessa pneumonia e não queremos que sofra de algo mais. Se conhecer alguém que esteja disposto a fazer o teste para ver se pode ser o doador, é só me procurar, por enquanto tente descansar e melhorar para poder receber a quimioterapia antes do transplante.

Eram tantas informações ao mesmo tempo que não conseguia assimilar tudo. Vi que Cait estava tentando ficar calmar, mas seu rosto não demonstrava isso, muito menos seu corpo. Sabia que um transplante não era fácil, ele em si era simples, mas achar um doador compatível era difícil e ainda teria que passar pela quimioterapia, algo que tentei evitar ao máximo, mas agora não tinha mais como evitar, teria que encarar todos os meus medos de uma só vez.

Yeah, my life is what I'm fighting for
Can't part the sea, can't reach the shore
And my voice becomes the driving force
I won't let this pull me overboard

Vi que o médico estava falando com a Cait, mas as palavras pareciam distantes, não conseguia focar em nada, mas uma palavra me chamou atenção e fez eu prestar atenção na conversa:

- Eu posso fazer o teste quando? – Cait perguntou.

- Hoje mesmo, só preciso ver como está o laboratório e já podemos encaminhá-la, é um procedimento simples e indolor. É apenas um exame de sangue.

Fiquei apenas observando enquanto eles combinavam quando fariam, ele me passou mais algumas recomendações e que voltaria mais tarde para saber como estava e planejar o resto do tratamento. Quando ele saiu, Cait virou pra mim com uma tentativa de sorriso:

- Quem sabe eu não posso ser a sua doadora? Seria bem romântico.

- Não Cait, você não pode. – falei sério.

- Ah, e por que não?

- Porque não quero vê-la sofrer!

- Então eu posso ver você sofrer? E não fazer nada sobre isso? Você acha que vou deixa-lo aqui esperando por um doador quando pode ter a chance de ser eu? Não, isso é a coisa mais estupida de se pedir! Sam! Quantas vezes já falei que somos um time? E dessa vez não vou deixar você se fechar novamente, se esconder e não me deixar ver o que está acontecendo com você! Olha onde veio parar! Tudo por causa de teimosia!

- Não foi teimosia... – ela me olhou brava. – Pelo menos não tudo...Cait, eu fiquei com medo... – as palavras se enroscavam na minha garganta. – Na verdade ainda estou...

- E você acha que eu não estou? Quando te vi tossindo na cama, quase sem conseguir respirar, mal conseguia ligar para o seu médico, mas Sam, vamos vencer essa luta juntos, como dizia nossos queridos personagens, não tenha medo, agora somos nós dois.

Eu sorri com a sua lembrança, realmente estávamos juntos nisso e não precisaria ter medo, ela estava ali e não iria desistir. Nos abraçamos e finalmente as lágrimas que estava segurando, caíram, mas não era de tristeza, pelo menos não tudo, eram de alívio por ter com quem contar.

God, keep my head above water
Don't let me drown
It gets harder
I'll meet you there at the altar
As I fall down to my knees

Don't let me drown, drown, drown
(Don't let me, don't let me, don't let me drown)

So pull me up from down below
'Cause I'm underneath the undertow
Come dry me off and hold me close
I need you now, I need you most

Only YouWhere stories live. Discover now