22º Capítulo

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POV Cait

Os dias foram passando e Sam se afastava cada vez mais de mim, ainda tínhamos alguns momentos juntos, como quando íamos dormir, ele sempre me abraçava, mesmo que inconscientemente, mas a maior parte do tempo ele passava trancado no escritório ou saía para resolver alguma coisa. Eu sabia que devia confrontá-lo, eu não costumava ser tão apática e ele sabia disso, mas estava preocupada com a sua saúde, com a sua reação em relação ao que iria falar, e se ele me afastasse de vez? Quem iria cuidar dele? Isso era o que me segurava de falar qualquer coisa.

Fomos dormir depois de um dia todo separados, eu precisei sair para resolver algumas coisas em relação aos meus futuros projetos e Sam ficou fazendo algo que não fazia ideia do que era e ele não fez questão de me informar. Nos deitamos na cama em silêncio, mas aquilo estava me incomodando, não éramos nem a sombra do casal feliz que habitava aquela cama, parecíamos mais dois estranhos que apenas dividiam uma cama:

- Como foi o seu dia? – perguntei timidamente, tentando iniciar uma conversa.

Ele ficou em silêncio por um tempo, depois deu uma pequena risada e falou:

- Normal, nada de diferente dos outros... – e logo riu mais uma vez.

- Por que está rindo então? Por um acaso foi engraçado? – sabia que minha voz tinha saído num tom mais irônico do que gostaria, mas estava perdendo a paciência.

- Não, não foi engraçado, mas é que chegamos realmente a esse ponto de que a única pergunta que me faria seria sobre o meu dia? O próximo assunto vai ser sobre o clima? – ele falou de forma debochada.

- Não sei, talvez, já que pelo menos estou conseguindo fazer você falar comigo! – respondi irritada.

Me remexi nas cobertas e comecei a me levantar da cama quando senti a mão dele me puxando de volta:

- Sam...me deixa! - falei tentando me desvencilhar de sua mão.

- Não Cait, fica aqui comigo. – ele falou com a voz num tom que não escutava fazia tempo, um tom carinhoso.

- Agora você quer que eu fique? Não prefere ficar sozinho como todos os dias nas últimas semanas? – sabia que estava sendo um pouco injusta nas acusações afinal não havia o confrontado antes e deixado essa situação chegar a esse ponto, mas naquela hora não estava disposta a aguentar mais de seus caprichos.

- Você sempre fica comigo à noite, sempre dormimos juntos...

- Mas e o resto do dia Sam? Só sirvo como companhia pra você não dormir sozinho? É isso? Para o resto não sou necessária na sua vida? Quando você pediu paciência com você, eu prometi que não o deixaria, mas está cada dia mais difícil cumprir essa promessa! Apesar que você já está facilitando meu trabalho!

Vi que ele abaixou a cabeça enquanto eu falava, provavelmente tentando esconder qualquer emoção que estivesse demonstrando. Sabia que estava fazendo tudo na hora errada, que esse confronto poderia só nos afastar mais, mas não estava conseguindo guardar aquilo dentro de mim, não aguentava vê-lo sofrer sozinho, e sim, ele estava sofrendo e estava sendo péssimo para esconder, mesmo achando o contrário. Me aproximei dele na cama e levantei seu rosto, vi que seus olhos estavam vermelhos e antes que pudesse fazer mais alguma coisa, ele abaixou o rosto novamente e virou de costas pra mim:

- Preciso de você pra dormir...- ele falou baixo, quase num sussurro.

Sabia que ele queria falar mais, mas não conseguia, pelo menos não agora e sentia a dor em sua voz. Engoli a seco, como era difícil vê-lo daquela maneira, tão frágil e sem conseguir fazer nada para melhorar. Sem falar mais nada o abracei e aos poucos fui sentindo seus músculos relaxarem ao meu toque, eu tentei segurar as lágrimas que insistiam ao cair ao sentir como ele estava magro, Sam sempre foi tão forte, tão grande e agora ali nos meus braços parecia uma criança frágil. Fomos deitando lentamente, sem nos soltar por segundo algum e logo notei que ele pegou no sono, ouvia sua respiração alta e calma.

Demorei para dormir, meu corpo estava dolorido, meu braço dormindo pelo peso de Sam sobre ele, mas não ousava mudar minha posição, tinha que ficar o abraçando, ele se sentia seguro e eu me sentia também, tinha medo de soltá-lo e não conseguir mais agarrá-lo. Quando finalmente cedi ao cansaço, senti o corpo dele tremendo contra o meu, ele estava tossindo e muito. Abri os olhos assustada e me soltei dele, o virando de barriga pra cima. A tosse não parava e vi que ele não estava conseguindo respirar direito, estava ofegante, seu peito estava chiando e entrei em completo desespero.

Me levantei da cama rapidamente e procurei pelo meu celular, estava nervosa, não conseguia desbloquear a tela, meus dedos tremiam e ao mesmo tempo que queria fazer a ligação, queria fazê-lo se acalmar, mas estava falhando nas duas coisas. Respirei fundo e tentei me concentrar, meu pânico não ajudaria em nada. Consegui ligar para o médico de Sam que falou que mandaria uma ambulância urgentemente, ele precisava ir para o hospital e enquanto esperávamos, me passou os primeiros passos para acalma-lo. Mal sabia o médico que precisava ser acalmada também.

Minha cabeça estava a mil por hora, estava tentando absorver tudo o que estava acontecendo, mas tudo parecia como flashes, a ambulância chegando, eles colocando Sam na maca, eu sentada ao lado dele, máscara de oxigênio em seu rosto, a sirene em meu ouvido e lágrimas que caíam sem ao menos eu perceber. Chegamos rapidamente ao hospital e fomos recebidos pelo médico de Sam que já estava de prontidão.

Ele falava comigo, mas não conseguia ouvir nada, só conseguia ver o Sam deitado naquela maca e sendo levado para algum lugar, ele parecia tão pequeno e indefeso, mesmo eu sabendo que ele era o oposto disso. Logo ele sumiu da minha vista e o desespero tomou conta de mim, apressei meus passos, queria ir até ele, ele não podia ficar sozinho, mas logo senti uma mão forte me segurando:

- Caitriona? Você está me escutando? – o médico falou sério. – Vamos fazer alguns exames no Sam para confirmar uma suspeita que tenho, mas enquanto isso você terá que esperar aqui, infelizmente, fique tranquila, ele está sendo muito bem tratado pela minha equipe e logo poderá vê-lo.

Apenas concordei com a cabeça e me sentei numa pequena poltrona na sala de espera. O médico me olhou mais uma vez para confirmar que eu estava bem, acenei com a cabeça novamente, não estava bem, mas não iria surtar, se era com isso que ele estava preocupado. Peguei meu telefone e liguei para Lauren, precisava de uma companhia, não conseguiria passar por tudo sozinha.

Em menos de meia hora ela já estava sentada ao meu lado. Marina chegou logo depois, as duas estavam assustadas, mas tentavam disfarçar, sabia disso e também sabia que eram péssimas atrizes. Palavras não eram necessárias, elas apenas seguravam minha mão enquanto esperava pelo retorno do médico que não demorou a aparecer:

- O Sam já está estável e pronto para receber visitas. – o médico falou com um leve sorriso no rosto. – Mas Caitriona, antes de você entrar gostaria de explicar algo. – ele falou mais sério, me levando até o canto da sala, longe de todos. – Como você sabe, Sam estava fazendo o tratamento de imunoterapia, é um tratamento relativamente novo e que tínhamos muita esperança que funcionasse, mas apesar de eficiente no começo, infelizmente não foi o bastante para impedir o avanço da doença. O que trouxe ele hoje para o hospital foi uma simples gripe que com o seu sistema imunológico debilitado, se tornou uma pneumonia. Estamos tratando, mas ele está fraco e provavelmente você já sabia que isso poderia acontecer e a solução agora é um transplante de medula óssea, na verdade essa é a nossa única solução no momento.

As palavras do médico corriam pela minha cabeça, pneumonia, debilitado, transplante, única solução...não sabia se meu coração iria aguentar. Respirei fundo, precisava ver ele, precisava dele para me acalmar, só não sabia se eu conseguiria acalmá-lo. Por que a vida nos pregava esse tipo de peça? 

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