Enquanto seus pensamentos gritavam alto, Sebastian seguia o ex guardião da rainha das fadas. O elfo andava de cabeça baixa dentro do Sitio da família Stone, e foi impossível para o príncipe dos bruxos não lembrar que certa vez estivera ali simplesmente para raptar a princesa das fadas.
- E então? - perguntou ele, uma vez que estavam dentro da sala. - É agora que me mostra o meu suposto irmão?
Colin parou de andar no centro de um circulo feito por rosas, típico de fadas tentar tornar tudo mais bonito.
- Sente-se por favor. - pediu com a voz calma, ignorando a ironia que o outro havia usado ao se dirigir a ele.
Impaciente, Sebastian obedeceu, querendo acabar logo com aquele showzinho patético. Assim que ambos estavam sentados, ele viu o elfo levar a mão ao bolso jeans e tirar de lá um pequeno punhal. No mesmo instante se sobressaltou, pulando para trás e se preparando para atacar.
- Tudo bem. - tranquilizou-lhe o outro, estendendo o cabo para que ele pegasse a arma sem tocar na lâmina que parecia ser afiada. - Isso era de seu irmão. - Colin voltou a falar, enquanto o outro examinava cada parte do punhal, deslizando seu polegar por cada centímetro dele. - Vamos precisar dele para teletransportar você até o esconderijo de Charles. - Os olhos dos dois se encontraram e o elfo encontrou no olhar do outro, muita desconfiança. - Eu ensinei seu irmão a lutar. - explicou sabendo que a pergunta viria em breve. - Era com esse punhal que ele lutava e o trouxe comigo porque sabia que um dia poderia precisar.
Os olhos de Sebastian se dirigiram imediatamente até a arma em suas mãos, era pequena, mas não inofensiva. E aquilo lhe fez lembrar de Mia, a princesa das fadas parecia fraca, mas ele sabia que ela era dona de um poder avassalador.
- Então desde antes pretendia trair minha mãe como fizera com a rainha das fadas?
- Eu nunca teria traído o meu povo e a minha rainha, se Thea não tivesse posto a vida de meu filho em risco. - informou parecendo querer se irritar. - Sua mãe é a traidora aqui, meu rapaz.
Não suportando ouvir tais palavras sobre sua amada mãe, Sebastian empunhou o punhal com certa rapidez, fazendo a lâmina pressionar levemente a pele do pescoço de Colin.
- Vamos acabar logo com isso, não vejo a hora de dar uma serventia melhor para este bebê aqui. - obviamente, referia-se a arma que segurava com firmeza.
Nem um pouco intimidado, Colin esticou suas mãos e esperou que o príncipe a pegasse, depois de relutar um pouco, o menino deixou que o punhal afiado ficasse entre sua palma e a do elfo, enquanto eles davam as mãos. O bruxo perguntou-se brevemente se aquilo não seria uma armadilha, pois ali estava ele, de mãos dadas com o inimigo. Porém, havia um lado seu que acreditava em toda a história de ter um suposto irmão, não queria acreditar, mas tinha suas dúvidas e teria que correr o risco para saber a verdade.
De olhos fechados, sentiu quando a ventania chegou e o ar se tornou poderoso, podia sentir o poder rolando entre ambos e logo em seguida quando os abriu novamente, já não via mais a sala do Sitio e muito menos Colin. Estava agora na floresta de seu reino, o reino dos bruxos. Um lugar sombrio e pouco visitado por qualquer um que morasse ali, diferente do que contavam para crianças mundanas, eles não viviam em florestas ou em casas mal assombradas.
Naquela noite, não havia estrelas e o lugar estava silencioso como sempre, porém sabia que em outras partes do reino, havia muito movimento. Quando pensou em começar a andar, sentiu folhas secas abaixo de seus pés e percebeu que tratava-se de uma distração. Afastou as mesmas com seus sapatos e acabou por revelar um poço. Suspirou fundo se agachando e usando toda sua força para arrastar o tampão, porém o mesmo não se moveu nenhum centímetro.
- Ele não abre. - falou sabendo que Colin podia lhe ouvir. - Estou perdendo tempo aqui.
- Está selado com um encantamento. - informou, sua voz calma. - Somente os que tem o DNA de Thea podem abri-lo, derrame seu sangue e você ira encontrar a casa de seu meio irmão.
Ouvindo as instruções, Sebastian pegou uma pequena pedra pontiaguda e passou-a com força sobre sua palma, causando-lhe um pequeno ferimento. Logo em seguida, apertou seu punho derramando sobre a enorme bola redonda algumas gotas vermelhas. No segundo seguinte, o tampão se arrastou para o lado lentamente, com um barulho quase ensurdecedor. O príncipe dos bruxos esperou que todo o túnel tivesse sido revelado e se surpreendeu ao encontrar um tobogã todo cinza que lhe conduziria para baixo do solo.
- Se isso for uma emboscada, eu mato você e todos que ama. - avisou e se jogou na escuridão daquele túnel.
Durante alguns minutos, ele desceu escorregando, até que seus pés bateram fortemente contra um chão que parecia ser de pedra. Uma vez que estava de pé, passou seus olhos pelo o que deveria ser o esconderijo de Charles, se é que esse realmente existia. Era um cômodo médio, e podia ser comparado com um pequeno apartamento, tinha tudo, a única coisa que deixava claro que não era uma casa como qualquer outra do reino, era o fato de ter sido feito dentro de um poço abaixo do solo...
- Quando eu vou poder sair daqui, mãe? - ouviu uma voz mansa, porém firme. - Você me prometeu que faltava pouco.
- E falta, querido. - foi a segunda voz que chamou a atenção do menino bruxo. - Seu irmão logo voltará com a princesa das fadas e teremos nossa vingança!
- Não... - Sebastian murmurou, pela primeira vez em sua vida tendo que lutar contra as lágrimas.
- Eu não aguento mais esperar... - Charles se lamentava com as mãos de Thea segurando sua face. - Se passaram anos... Os outros vivem em liberdade enquanto eu tenho que viver preso aqui?! É injusto.
- Fique calmo, meu amor. - pediu a fada negra. - Agora estamos perto de destruir a princesa e você poderá finalmente assumir o seu trono.
O príncipe dos bruxos olhava para sua mãe como se fosse a primeira vez. Seu corpo caiu de joelhos e ele observava ali incrédulo a forma amorosa que a fada olhava para o outro filho. Um olhar que ele, apesar de todos os esforços, nunca havia recebido... Sebastian sentia-se morto por dentro, vendo que jamais seria amado por ela, da forma que ela amava o seu protegido.
- Mas o rei dos bruxos vai querer nos matar quando souber a verdade... - dissera Charles. - Ele irá aceitar isso como uma traição.
- Por isso vamos mata-lo antes. E assim, com Mia morta, o trono das fadas será seu! E com a morte de meu marido... Seu irmão assumirá a liderança dos bruxos, reinaremos por direito.
A revelação de que sua mãe pretendia matar seu pai, para obter sua vingança tomando o poder dos dois reinos, terminou de despedaçar seu coração e ele não pode conter uma única lágrima de rolar.
Um dia, quando todo o seu povo havia dado as costas a Thea, Roland havia lhe aceitado em seu reino, mesmo sabendo que ela era uma fada e que isso poderia causar problemas para muitos bruxos que odiavam aquela espécie. Ele havia lhe amado e lhe dado um filho, um recomeço... Havia matado muitos seres mágicos do mundo Encantado, simplesmente para que ela um dia obtivesse sua vingança e agora que ela estava prestes de conseguir o que queria, iria se livrar de quem havia lhe dado tudo? Era muita ingratidão! A tristeza no coração de seu filho foi trocada por raiva e ele com sangue nos olhos desejou a morte de seu meio irmão e também a de sua mãe.
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Encantada
FantasyCriada em um mundo ao qual não pertence, Mia Stone descobre sua verdadeira origem como Princesa das fadas. Por ser a única portadora da magia, sua missão é salvar o Reino Encantado de um grande mal. A jovem nada sabe sobre sua verdadeira origem até...