Adeus Elena.

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As emoções lhe sufocavam, mesmo que estivesse ao ar livre em uma noite estrelada. Sabia que nada do que fizesse ou dissesse seria o bastante para a dor do luto ir embora mas mesmo assim, ali estava ela, sentada na beira do rio no terreno protegido pelas árvores. Vestindo um vestido de debutante negro, com pequenos diamantes cravados na parte do busto. Cassie estava ao seu lado, os olhos azuis cheios de lágrimas denunciava que ela também sofria muito, tanto quanto Mia. Diferente de sua melhor amiga, a loura vestia um vestido curto, tomara que caia, sem nenhum detalhe. Discreto demais para sua personalidade ousada. Quando o olhar de ambas se cruzaram, elas entraram em um mundo somente delas, como se os dois garotos vestindo ternos bonitos e pretos, não existissem. A dor entre as garotas era mútua e havia gravado na memória delas as mesmas lembranças magníficas de suas infâncias e parte da adolescência ao lado de Elena Grigori, que havia partido, transformando o trio em uma dupla.

  Era difícil escolher a forma de dizer adeus para alguém que pediam para Deus mandar de volta. Mia sabia que Elena não voltaria e doía ainda mais ter de planejar uma despedida eterna, queria estar em um aéreo-porto, aonde o "adeus" seria temporário.

    Ao escolher lanternas japonesas para deixa-la ir, ela pensou no quão difícil deveria estar sendo para aqueles que ficaram na terra. Planejar um funeral já deveria ser doloroso o bastante, imagine planejar o funeral de um adolescente cheia de vida, cuja a morte não havia sido identificada...

    Foi tirada de seus pensamentos deprimentes quando Austin lhe abraçou por sobre os ombros, fazendo-na perceber que Cassie segurava sua lanterna japonesa e se preparava para o seu discurso de despedida.

   - Você não sabe como vai me fazer falta. - começou com o choro pendente rolando, olhando diretamente para o céu, como se conversasse com Elena. - Nem sei como prosseguir sem você, pequena. - ela fungou e sorriu ao lembrar do apelido doce que irritava a garota de 1,50. - Tenho certeza que você me diria para ser forte e eu estou tentando Lena, juro. Eu só não consigo imaginar um mundo no qual você não faça parte, com suas roupas engraçadas, suas metáforas idiotas sobre os livros... - ela desatou a chorar e um pequeno tempo surgiu antes que prosseguisse. - Por que você tinha que ser tão teimosa? Eu sempre te protegi das valentonas, mas dessa vez eu não consegui. Me desculpe. - equilibrou a lanterna sobre seus dedos e a soltou, murmurando em seguida: - Espero te reencontrar um dia.

   - Eu não poderia ter tido uma melhor amiga melhor. - Mia começou em sua vez. - A vida levou você de mim antes que eu pudesse ter lhe pedido perdão. - chorou ainda mais, constatando que poderia ter evitado tudo aquilo se tivesse encontrado Elena a tempo.  - Eu sei que fiz você acreditar que tinha que se desculpar, quando na verdade, era eu quem deveria ser perdoada. -ela engoliu em seco sentindo as lágrimas rolarem.  - Se estiver me ouvindo, peço que me perdoe, Lena. Eu amarei você para todo o sempre, e farei justiça em seu nome. - ficou na ponta dos pés e liberou sua lanterna, que flutuou um pouco mais abaixo da de Cassandra, sem nunca realmente conseguir alcança-la.

    Os quatros ficaram parados feito estátua vendo elas desaparecerem, levando para o céu o adeus que as garotas queriam ter e trazendo para a terra muita saudade.

   A dor que Mia sentia era fora dos padrões, mas ela estava aliviada por ter pelo menos se despedido e ter deixado Elena seguir em paz. Sentiu o aperto firme da mão de Austin em seu ombro, descer até que seus dedos estivessem entrelaçados um no outro. Ele passou a mão no rosto dela, ajeitando os cabelos que haviam se balanceado com o vento, Mia sorriu em agradecimento mas sua atenção estava exclusivamente focada na loura que continuava parada encarando o céu, parecia estar bem distante. Acompanhando seus pensamentos, Austin concordou com a cabeça, incentivando-a a prosseguir. A fada então se aproximou de sua amiga com passos calmos, parando ao seu lado e despertando sua atenção. Cassandra tinha o rosto molhado e os olhos vermelhos por conta do choro. Percebeu que a garota tremia, e não soube se era por conta do frio ou por algo emocional que ainda doía.

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