EXTRA I

300 47 25
                                    

Uma criança completamente perdida sentada ao chão coberto por uma camada grossa e empoeirada de um tapete antigo. O menino chorava baixinho para que a vizinhança conturbada e fanaticamente religiosa não o escutasse. No canto da sala ele orava juntando seus pequenos dedinhos e pedindo para um Deus – que as vezes se perguntava se realmente existiu – para que os dias melhores pudessem vir. A chuva caía sem sessar ao lado de fora, da pequena janela da sala ele observou o balançar das árvores e uns de seus vizinhos correndo. Era mais um dia frio e solitário.

A tv estava ligada, mas sempre transmitia programas de religião, pessoas obrigando as outras a pagarem caro por seus pecados. O pequeno menino achava aquilo uma palhaçada, afinal, por que Deus nos perdoaria por alguns reais? Ele não entendia a mente dos fartos de religião e não fazia questão.

A criança era rica em imaginação e pobre de felicidade. Não havia amigos e nem comunicação, era visto como um ser de outro mundo, mesmo sendo tão adorável. Estudou por um tempo até que seu pai decidiu o tirar da escola. Sua mente estava cheia de informações sobre a bíblia e vazia de ciência. Um jovem se tornando ignorante por obrigação. Ah! Uma mente tão incrível e sem conteúdo.

Ele se levantou com cuidado do canto da sala se apoiando na estante da tv e caminhou pelos cantos da parede para que os vizinhos não o visse ali. Seria um grande problema se descobrisse que o Padre mais respeitado da cidade havia um pecado mortal consigo, um filho.

Desde que se lembra ele sempre viveu assim, se escondendo pelos cantos e agradecendo por não ser visto. O pequeno dava passos curtos e calmos para ir ao banheiro do segundo andar porque era proibido de ir ao primeiro, pois a descarga poderia ser ouvida por outra pessoa, assim, deixando que a criança por muitas vezes urinasse nas calças a caminho do segundo andar. E a correria para limpar antes que o pai chegasse o angustiava, era uma lentidão ao tempo. Pequenos passos contra a rapidez dos segundos.

Ah, como era bom estar no quarto. A criança poderia sorrir ao chegar no segundo andar, seria finalmente livre, mesmo que seu quarto só tivesse uma cama e alguns gibis de super heróis. Aquele pequeno local o fazia se sentir vivo e o dava razão para viver.

A solidão o deixou sem saída, ele necessitava de companhia, precisava de alguém que o fizesse se sentir vivo e o mostrasse que a vida ainda tinha algum sentido.

Era noite de Domingo quando ouviu a porta da frente se abrir, ele estava no banheiro quando o escutou. Seus pequenos olhos se abriram rapidamente, ele estava assustado e temia o que veria à seguir. Tentou correr até o quarto e se esconder, mas infelizmente o mau o pegou no corredor. As lágrimas se fez presente ao sentir a mão grossa com calos segurar o colarinho de sua camiseta, parado em frente a porta de seu quarto ele se culpou mais uma vez por não conseguir alcançar.

– Você correu! – a voz rouca do homem o fez tremer. – Não gosto de barulhos, Jungwoo.

O pequeno não tinha reação, não havia muito o que se fazer. O seu coraçãozinho estava batendo tão rápido, sua mente estava em completo branco. Ele se sentia com medo e sozinho.

– Não irá se desculpar?

Jungwoo fechou os olhos e apertou os dedinhos formando punhos. Seu pai ainda estava atrás de si o segurando pela camisa.

– Eu sinto muito. – lutou para manter a voz firme. – Não foi minha intenção o desrespeitar.

Jungwoo tremeu ao sentir a primeira palmada em sua nadega, logo seguido de vários tapas. O pequeno sentiu a ardência, mas nada comparado a dor que obtinha em seu coração.

– Se apoie na parede, Kim. – o pai ordenou e o pequeno filho o obedeceu apoiando os braços na parede. – Ah. – respirou fundo. – Carlos continua se enchendo de álcool e batendo em suas filhas, Maria está tendo pensamentos impuros com outros além de seu marido...

FRAGMENTADO [Revisando]Onde histórias criam vida. Descubra agora