XX - PLANOS

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– Lasanha?

Yuta comentou ao sentar na mesa para o almoço. Ele observou cada detalhe do prato de comida a nossa frente como se estivesse o estudando.

– Yuta lasanha, lasanha Yuta. – apontei do prato para ele.

Ele fez uma careta ao puxar um pedaço com o garfo e o queijo se esticar.

– Você nunca comeu lasanha? – o perguntei assustada. – O mundo inteiro já comeu.

– Não me lembro de comer isso. – deu de ombros. – Mas parece bom.

Peguei um pedaço com a colher e levei até a sua boca.

– Gostou?

– É bom! – comentou de boca cheia. – Diferente, ainda assim bom.

Sorri ao vê-lo satisfeito.

– Nós iremos jantar com a vizinha?

– Não quero desapontar uma senhora, acho que deveríamos. Será bem rapidinho, certo? Só precisamos jantar.

Assenti em silêncio, alguma coisa me dizia que não daria certo. Se eu ao menos tivesse um dom poderia impedir a desgraça que aconteceu à seguir.

Após o almoço fizemos o que fazemos de melhor, dormimos. Com a mente ocupada com sonhos de abelhas não tive tempo para pensar no que estava acontecendo no TCN. Com um psicólogo louco atrás de um paciente e os médicos assustados com a fuga de um. Talvez estivesse tudo sobre controle com o Song e Henry administrando o local, ou não, poderiam estar em guerra com o Estado e suas regras.

Infelizmente o sonho com abelhinhas teve um fim e com ele chegou a imensa preocupação. Um problema psicológico que precisa ser tratado sendo levado como algo normal, pensei em como o rumo da história estava indo e de como Dr. Song poderia ferrar com tudo. Jungwoo era apenas um menino que criou outras personalidades para que suportasse as fases que o mundo te dava, mas dentre elas uma nada legal, a personalidade assassina não pode ser vista como as outras, ela não é capaz de sentir emoções, é uma personalidade vazia e perigosa. Me repreendi inúmeras vezes por tratá-los de diferentes formas e esquecer que são apenas um. Por mais que minha mente negasse, eram todos um. A besta faz tanta parte de Jungwoo quanto Yuta ou qualquer outro.

Os acontecimentos traziam a mente dúvidas horríveis e cruéis, pensamentos que um dia fui capaz de realizar. Será que finalmente estava na hora de deixá-los partir? Assumir que eles são apenas um e que precisam de estudo e cuidado necessário. Talvez estivesse na hora de se entregar e deixar que uma mente inteligente fosse capaz de deixar Jungwoo finalmente em paz.

– Está acordada? – Yuta disse baixinho ao meu lado.

Me virei para o encarar, seus olhos estavam semicerrados e seu rosto inchado, ele havia tido um ótima tarde de sono.

– Acordei faz pouco tempo. – menti.

– Está pensando em algo?

– Eu... – arfei. – Apenas na possibilidade de viver uma vida normal...

– Pretende me deixar?

– Isso não facilita as coisas. – joguei a mexa de seu cabelo para o lado. – Acho que sou nova demais para isso, talvez seja necessário apenas a faculdade.

– Você é inteligente, esperta, fez com que todos se acostumassem com você em poucos meses, sobreviveu, nos ajudou e tudo isso bem rapidinho. – sorriu. – Seja qual for a sua escolha, estarei te esperando no Hospital, quem sabe um dia possa nos visitar e contar sobre sua vida de casada na fazenda com seus dois filhos e inúmeras galinhas. – sorri. – Estou brincando, mas seja qual for, estamos gratos por tentar nos ajudar de alguma forma. 

FRAGMENTADO [Revisando]Onde histórias criam vida. Descubra agora