XXVII - VOCÊ ESTÁ PRONTO PARA SER JULGADO?

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Foram longos dias confinada até que uma luz aparecesse. Não havia notícias do lado de fora, apenas uma companheira de cela que me convencia a fazer o que ela queria. Conviver com Kora foi mais difícil do que lidar com 6 personalidades, a conivência com ela me fez desejar ainda mais a morte.  

No primeiro dia a observei dormir, no segundo ouvi suas histórias de aventura até que pegasse no sono, no terceiro dia sua voz me fez cantar para que o sono viesse, no quarto a dei a minha comida para que me deixasse em paz, no quinto a enforquei até que dormisse, no sexto brigamos até que nos separassem e no sétimo experimentei o que nunca imaginei: a solitária. Foram exatos três dias pensando em como estariam os meninos e o que havia acontecido com o psicólogo que estava atrás dele. Pensei se Jack os achou em casa ou se Song os levou para algum lugar distante.  

Os dias de tortura passaram rápido, aos poucos me acostumei com os olhares atravessados e as mensagens de ameaça. Não os culpo, todas pensavam que eu havia assassinado um policial. Uma das mulheres me desafiou a brigar, disse que quem mata homem pode facilmente bater em uma mulher. Eu não briguei, é óbvio, Kora me disse que era um plano dos policias para que uma detenta me matasse. Kora que entrou como uma inimiga serviu como grande aliada. Ela nos fazia comer frango todos os dias, nos dava o privilégio de tomar suco e ver o céu quando possível. Era como um ciclo sem fim, Kora desgraçou a vida de Doyoung que desgraçou a minha que desgraçou a de Kora.  

E foi em um sábado à tarde que me tiraram da cela para uma sala distante. Estava mais para um cômodo compartilhado, havia mulheres algemadas com pessoas livres. E foi no último banco que a minha esperança se fez presente, era ele depois de tanto tempo. 

– Como está? 

A policial me algemou na mesa e se afastou, me sentei e o observei em silêncio. 

– Presumo que não esteja bem. – continuou. – Seu namorado me procurou e me disse o que havia acontecido. Ele é inteligente e me achou rápido... Confesso que me assustei ao ver Ten ao lado de um rapaz desconhecido, mas logo se apresentou. 

– Ele não é meu namorado.  

– Abelhinha... O que aconteceu? – seus olhos estavam enrugados e com olheiras.  

– Nem ao menos sei. – dei de ombros. – Estou esperando o meu julgamento para saber se estou presa por assassinato ou por assassinato e sequestro. 

– Não ficará aqui por muito tempo, consegui com que seu julgamento fosse adiantado.  

– Nem ao menos sei se isso é bom. – arfei. – Me acostumei com esse inferno, não quero descer alguns degraus.  

– Farei o possível para que sua pena seja mínima... Não havia provas de que você matou o homem, isso é bom. 

– Ah, Dr. Song. – sorri. – Senti falta disso, mas estamos em uma situação séria. Tem joias demais nessa ilha para que o nosso barco saía vazio.  

Ele ficou em silêncio por um momento e então respirou fundo. 

– Vamos abrir o jogo... – endireitou o óculos sobre o nariz. – Não estou apenas como uma visita. Eu a defenderei diante o tribunal.  

Me assustei, além de médico, psiquiatra ele também era advogado? Quantos profissões mais ele tinha?  

– Como fará isso?  

– Temos provas que a incriminam, mas temos peças em aberto que deixam com que a cena do crime tenha sido facilmente alterada. Estudei o local e peguei provas suficientes para que a pena seja reduzida. Preciso que você coopere comigo e me diga o que exatamente aconteceu. 

FRAGMENTADO [Revisando]Onde histórias criam vida. Descubra agora