Capítulo 5- Lugar familiar

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Sophia 

Encaro o médico a minha frente, que olha atentamente para a tela do computador. A sala está em um silêncio mortal, onde nem eu, nem minha mãe falamos nada, apenas esperamos o Doutor Moore dizer alguma coisa.

- Bom, seus linfócitos estão em níveis muito baixo, mas isso já é de se esperar, pelo fato de você ter parado de tomar os remédios- Abaixo a cabeça, envergonhada demais para poder olhar nos olhos do médico que dedicou tantos anos comigo.- Sophia, você sabe como é importante tomar esses remédios, seu sistema imunológico é muito fraco, é precisa de ajuda para produzir tudo o que você precisa.

- Sei disso. Desculpe, Doutor Moore.

- Não me deve desculpas- Ele dá um sorrio acolhedor, mas a culpa ainda parece me corroer por dentro. Ele digita alguma coisa no computador e depois a impressora cospe um papel, que ele entrega pra mim.- Aqui está a receita para os remédios da ansiedade, já que o último está no fim.

-Obrigada, Doutor.

- Não por isso.- Ele move um pouco a cadeira, saindo completamente de trás do computador, e então me olha.- Sabe que precisa tomar eles todos os dias, não preciso pedir que seus pais voltem a controlar isso de perto, certo?!- Nego com a cabeça. 

Mesmo que ele não tenha pedido, meus pais voltarão a me vigiar como gaviões em relação ao tratamento. Me levanto da cadeira no mesmo momento em que minha mãe se levanta, querendo apenas sair daqui e ficar trancada no quarto pelo resto do fim de semana.

- Ah, Sophia, Dalila está aqui, caso queira falar com ela- Ele pisca pra mim, como um amigo e então olho para minha mãe, pedindo permissão para ir vê-la.

Ela confirma com um pequeno aceno, e então começo a correr pelos corredores, sendo repreendida por diversos médicos que já me conhecem há anos. Eles pedem para que eu não corra, mas ignoro todos os pedidos até entrar na ala de oncologia, onde começo a andar. Quando finalmente chego a sala onde sei que ela estará, tenho que respirar fundo para recuperar o fôlego.

Essa vida de sedentarismo ainda vai acabar comigo.

Vejo Dalila deitada em uma das poltronas reclináveis. Ela está com os olhos fechados e fone de ouvido, fazendo qualquer um pensar que poderia estar dormindo,  caso não fosse seus pés mexendo no ritmo da música. Me aproximo lentamente, mesmo que ela não consiga escutar por conta do volume alto. Quando chego perto o suficiente, puxo seus fones, fazendo ela gritar, chamando atenção de todos que estavam na sala.

- Que inferno, Sophia! Quer me matar antes da hora?- Faço uma careta com a fala dela, e a empurro pro lado, para que eu possa me sentar na poltrona. Ela está com a mão direita sobre o peito, tentando acalmar as batidas do coração, já que a mão esquerda está esticada com os cabos conectados a ela.

- Não gosto quando fala assim, Lila.

 Deito minha cabeça sobre o seu ombro, e ela deita a cabeça sobre a minha. Começo a brincar com a cordinha que pendia da calça, enquanto o clima continuava estranho. Ela levanta a cabeça depois de alguns segundos e me puxa para olha-la.

- Eu sei que não gosta, mas é a verdade.

- Não, não é Dalila, você sabe que não é verdade- Me viro para ela, que começa a negar com a cabeça, já tentando argumentar contra mim. Ela parece cansada, não querendo discutir comigo. Sei o quanto o tratamento dela pode afeta-la, não só a disposição, como todo o resto.- Você não pode desistir de lutar.

Tudo culpa da garota do diárioOnde histórias criam vida. Descubra agora