Capítulo 22- Cedo demais

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Alerta sensível

Sophia

   Ver o corpo sem vida da pessoa que esteve do meu lado há tantos anos, fez o meu mundo simplesmente desabar em um buraco negro sem fundo dentro de mim. Seus lábios agora sem cor, sua pele escura que sempre foi tão iluminada agora apagada. Sua roupa era simples, simples de mais para ela- e o que foi para mim- não havia maquiagem, muito menos alguma coisa além de um laço escuro nos pequenos cabelos ralos. Não havia resquícios de vida e da garota maravilhosa que ela foi, mas havia resquícios de amor.

   A aliança dela ainda estava em seu dedo, intocada, sua última lembrança do amor de Zoe. Sua mão estava encosta sobre ela, a segurando, perto do peito e perto de um colar que poderia reconhecer em qualquer lugar, o nosso colar, meu e dela. Um pingente de coração aberta com uma foto nossa de um lado e com nossos amigos do outro. Ele pendia em seu pescoço aberto, como sempre ficava quando ela estava lembrando de algo, e gosto de acreditar que foi assim que ela se foi, apenas se lembrando dos bons momentos que passou ao nosso lado.

   Mesmo em sua própria morte, ela havia deixado um último pedido. E claro que havia deixado. 

"Por favor não venham totalmente de preto, quero algo novo nesse dia"

  E é claro que respeitamos. Estávamos com tênis coloridos diferentes. A única cor nesse mar preto e sem vida, sem esperança. Uma lembrança da vida que ela transmitia a todos que tiveram o prazer de conhece-la.

  Uma nova onde de dor me atinge por pensar que não pude me despedir dela e que ela morreu sozinha no quarto enquanto os pais estavam comendo. Mesmo que no fundo eu soubesse que era assim que ela desejava partir, em paz, sem ter que se preocupar com alguém a sua volta observando ela ir.

   Zoe está praticamente pendurada no Samy já que ela não consegue se manter em pé. Derek está do meu lado, me segurando, porque assim como ela, não consigo encontrar um sentindo sem minha amiga para me puxar a orelha a cada erro que eu cometer.

  Dalila não vai me se levantar para contar uma piada e deixar um clima divertido com as piadas. Não terá mais brincadeiras em relação a ela e Zoe. Sem mais piadas, sem mais momentos.

  Vejo seu caixão ser fechado e então descer no buraco escuro  cavado no chão. Flores coloridas são jogadas em cima, cada flor combinando com a cor do nosso tênis. Ela teria achado incrivelmente brega, mas teria dito que amou no fim. 

  Sei que diria. 

  Derek pede para me abraçar no fim do enterro e não tenho como me afastar, não há forças para isso. Apoio minha cabeça no seu ombro e deixo ela rodar enquanto eu consigo associar onde estou e o porquê. Sinto que não há mais lágrimas depois de passar quase um inteiros chorando sem conseguir fazer qualquer outra coisa que não isso.

  Comida não parava no meu estômago, o remédio estava sendo rejeitado por mim e meu corpo que parecia desistir de mim. Dormir parecia a única opção, mas não conseguia fechar o olho sem ver ela e dormir sem sonhar com a Dalila sem vida na minha frente.

- Vamos, pequena, você precisa descansar- Derek tenta me puxar, mas não me movo, não consigo. Não consigo deixar ela aqui e ter a confirmação de que ela nunca mais vai voltar.- Ela se foi, Sophia. Está em paz. 

  Olho para trás dele e vejo Zoe se debatendo com Samy, gritando a todos os pulmões implorando para voltar. Seu pai ajuda meu amigo a estabilizar ela e carregá-la até o carro. Me desvio de Derek indo em direção onde ela acaba de ser enterrada, deixando meu corpo cair e sentir a grama incomodar meu joelho e a palma da mão.

Tudo culpa da garota do diárioOnde histórias criam vida. Descubra agora