Capítulo 4- Desencontro

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Sophia

Abro os olhos quando sinto uma mão gelada tocar minha testa. A claridade no quarto está forte, mas consigo distinguir os cabelos loiros da minha mãe. Seus olhos azuis, como os meus, estão me encarando com preocupação. Tento me sentar na cama, mas um uma tontura me faz ficar parada no mesmo lugar. Ela tira o termômetro do meu braço e se vira pra alguém, que vejo ser meu pai depois que me acostumo com a luz

 Ava e Derek estão parados na porta do quarto, com rostos preocupados. Sorrio para eles, mas acho que sai mais como uma careta porque vejo Ava rindo baixinho. Minha mãe se senta ao meu lado e começa a acariciar meu braço.

- Como está se sentindo?- Não sei ao certo se estou falando com a minha mãe, que vai me tratar com todo amor e compreensão do mundo ao saber dos remédios, ou a médica séria, que provavelmente vai me dar uma bronca feia e depois me por de castigo.

- Um pouco fraca, eu acho- Ela me encara, com um semblante mais sério e se vira para o meu pai, que nega com a cabeça para alguma coisa. Quando ela se volta pra mim, vejo que seu rosto está um pouco menos bravo, mas ainda irei ter que ouvir um sermão.

- E eu acho que isso se dá ao fato de que suas caixas de remédio estão intocadas, ou estou equivocada?- Papel da médica. Ela balança a cabeça ainda passando a mão no meu braço. Ela não vai acreditar. Tento me levanta de novo, para tentar raciocinar alguma desculpa, mas não há uma desculpa minimamente razoável para o  que fiz.

 Eu os ignorei, agi como se meu corpo não precisasse deles para manter minha imunidade em um nível aceitável para combater qualquer vírus ou bactéria. Eu nem pensei quando fiz isso, apenas por um impulso decidi parar. Depois de tantos anos refém daqueles comprimidos eu queria ao menos um tempo sem ter que me preocupar com a minha saúde. Está óbvio que nunca poderei fazer isso.

- Não, não se levante. Você precisa de repouso. Já injetei  remédio em sua veia, tente descansar um pouco, mais tarde eu trago seu jantar- E então o papel de mãe. Depois de anos tendo que ver elas oscilarem entre quem estava falando comigo, ficou fácil de descobrir. Ela se aproxima, dando um beijo na minha teste e então se levanta e troca de lugar com meu pai.

- Já avisei ao Dr. Moore, acho que é com ele que deveria se preocupar.- Ele tem razão, é claro. Se eu não peguei alguma coisa que pode me matar, ele e a enfermeira Martha com toda certeza o farão e ainda irão chamar Derek. Que falando nisso, está  me olhando como se quisesse ter certeza de que estou escutando para falar alguma coisa.

  Meu pai se afasta e tenta puxar meus irmãos juntos, mas Derek continua parado, estável, mostrando que não sai enquanto falar comigo. Aos protestos, Ava sai do quarto, dizendo que irá voltar depois. Meu irmão mais velho se aproxima de mim e se senta a minha frente. Ele olha para baixo, evitando me olhar.

- Por que fez isso?- Sua pergunta sai embolada, como se as palavras estivessem engasgadas em sua garganta. Então ele me olha e posso o ver de perto.

Olhos marejados, preocupados, mostrando medo. Ele estrala os dedos e continua os apertando, tentando se concentrar em alguma coisa, que não eu.

- Por que parou de tomar os remédios?- Dessa vez sua voz sai sem qualquer ruído, mostrando o quão bravo está.

- Eu não sei, não há uma explicação- Minha voz sai baixa, mas sei que ele ouviu. 

Abaixo a cabeça, encarando o cobertor que me vem até a altura da minha barriga e só agora percebo que estou com outra roupa, não a que vim do colégio. Sinto o colchão se afundar. Seu olhar parece queimar, me obrigando a levar a cabeça e encara-lo.

- Como não há uma explicação, Sophia?

- Eu só não aguentava mais, tá legal?!- A primeira lágrima escorre pela minha bochecha, mas não sou rápida o suficiente e Derek passa a mão, a secando.- Eu convivo com remédios há dezesseis anos, todos os dias eu sou obrigada a lembrar que só estou viva porque engulo aqueles comprimidos diariamente. Eu só queria, por um momento, não ter me preocupar...

Tudo culpa da garota do diárioOnde histórias criam vida. Descubra agora