Ela me abraçou e nos deitamos da maneira que estávamos. Serena pôs a cabeça sobre meu peito, me envolvendo com um de seus braços, enquanto eu fiquei acariciando seus cabelos.
- Eu nunca me senti dessa forma. - Disse ela, brincando com seus dedos em minha barriga.
- Dessa forma como? - Perguntei.
Ela se virou, se pondo de barriga para baixo e me olhando.
- Me sentindo verdadeiramente desejada, a ponto de eu querer me entregar.
- Comigo foi a primeira vez?
- Sim... quer dizer, eu fazia sexo com o Tomás, só que era sempre do jeito dele e quando ele queria. Ele não tinha esse cuidado comigo, como você tem. - Eu sorri e fiz um carinho em seu rosto. - Em dois anos ele nunca nem me fez gozar, e você fez isso em dois segundos. - Nós demos risada. - Sério, Sarah, eu acho que... - Ela fitou a colcha debaixo dela, mas não completou a frase.
- Você acha o que? - A questionei, querendo saber o resto da frase.
Mas Serena apenas negou com a cabeça, depositou um beijo em meu rosto e voltou a se deitar ao meu lado.
E, agora, me vi perguntando o que ela iria dizer. Se há algo que eu quero realmente saber, esse algo simplesmente não sai da minha mente. Será que ela falaria o que eu estou pensando? Não... acho que não. Mas, caso ela dissesse, eu diria que sinto o mesmo.
Eu nunca havia pedido alguém em namoro antes mas, com Serena, a indagação saiu tão naturalmente de minha boca que até eu me surpreendi. Ela tornava tudo tão fácil com seu jeitinho de ser. Eu, definitivamente, não planejei tal coisa, mas na hora me pareceu o certo a se fazer.
(...)
A chuva não parou em hora alguma, e às vezes até parecia que ficava mais forte. Depois de termos tomado banho, resolvemos ir para a sala de estar do andar de baixo e acender a lareira. Curitiba não brincava na hora de fazer frio. Serena preparou um chocolate quente e ficamos sentadas na frente do fogo, conversando.
- Eu gostei dos seus pais, sabia? Eu os imaginava de uma forma totalmente diferente, pelo o que você me falou deles. - Dei um gole em minha bebida.
- Eles também gostaram de você... até porque, minha mãe só conta aquela história do meu pai na cozinha para os mais íntimos. - Rimos juntas, nos lembrando do acontecimento.
- Também pensei que eles seriam mais formais mas, na verdade, eles estão longe disso. - Comentei.
- Ah, isso eles nunca foram. Só eram bem tradicionais, o que dificultou meu relacionamento com eles. Mas ontem foi a prova viva de que eles realmente mudaram. Eu, sinceramente, não esperava que eles fossem tão receptivos com você.
- Nem eu. Estava até nervosa para conhecê-los. - Recordei das palavras de sua mãe antes de nós virmos para cá. - Talvez, eles tenham percebido, finalmente, o mal que eles te traziam ao não te apoiarem.
- Verdade. - Ela bebeu o líquido em sua caneca. - E eu fico extremamente feliz por isso.
Serena me contou também sobre os seus amigos daqui, pois eu a havia questionado, já que nunca comentou sobre.
- E como você conheceu os dois? - A questionei, curiosa.
- A Rebeca eu conheci quando tinha 11 anos e ela tinha 12. Nós fazíamos ballet juntas. Um dia eu não consegui acertar a coreografia que a professora havia nos passado e aquilo me deixou decepcionada, pois tínhamos uma apresentação a fazer num pequeno teatro da cidade. Então ela se propôs a me ajudar. Nisso ela começou a ir para a minha casa com frequência e ensaiavamos lá. E estamos juntas desde então. - Ela fez uma pausa e pensou um pouco. - E o César eu conheci no ensino médio. Ele era o único aluno assumidamente gay da sala e não era um babaca. Como eu não tinha muitos amigos e ele tinha menos ainda, acamos juntando nossos grupinhos. Mas, no final, só eu e ele continuamos a manter contato.
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Um só coração
RomanceSarah é uma garota lésbica, de 20 anos que está decidida a fazer com que esse novo ano seja diferente, em relação a tudo. Arrumou um emprego, resolveu seguir seu sonho e decidiu não focar muito em paixões. Nunca se deu bem no amor, e estava prestes...