Domingo
06:00
Me espreguicei e peguei meu celular, que estava na mesinha de cabeceira ao lado da cama, para olhar que horas eram. Mal consegui dormir imaginando como Serena estava se sentindo por conta do ocorrido no dia anterior. Queria deixá-la dormindo mais um pouco, então aproveitei para ligar pro meu pai, explicar a situação e perguntar se ele poderia ajudá-la. Ignorei todas as mensagens que eu tinha recebido.
- Aí foi isso que aconteceu. Ontem ela estava extremamente assustada e só me contou o que houve quando chegamos aqui. - Finalizei a história. - Falei que ela poderia ficar lá em casa até resolver onde ficaria. Não quero que ela volte a morar com os pais porque, apesar de eles estarem em Curitiba, ela construiu a própria vida aqui.
“Se eu soubesse o que ele tinha feito, teria deixado Pedro dar aquele soco na cara dele. Mas não se preocupe com essas questões de advogado, e outras burocracias. Deixe que disso eu mesmo resolvo. Agora você só precisa estar ao lado dela e dar força à ela.”
- Obrigada, pai. Sabia que você me salvaria nessa. Serena ainda está dormindo, não sei se vai querer tratar disso hoje, mas qualquer coisa eu te ligo.
“Tudo bem, estarei no aguardo. Enquanto isso, contratarei uma advogada mulher, acho que ela se sentiria mais confortável ao falar sobre isso dessa forma.”
- Sim! Isso seria ótimo. Obrigada mais uma vez.
“Não precisa agradecer, faria o mesmo se fosse por você. Agora preciso desligar para adiantar as coisas. Tchau, e se cuidem aí.”
- Tá bom. Beijos!
Coloquei o celular onde estava anteriormente e fui tomar café, deixando-a dormindo mais um pouco. Encontrei minha avó na cozinha e ela já tinha preparado panquecas. Peguei duas, coloquei num prato e derramei um pouco de calda de chocolate por cima. Ela logo perguntou o que tinha acontecido para eu ter vindo ontem tarde da noite. “Incrível como para os adultos da minha família, passou de oito da noite já é praticamente madrugada.” Pensei. Optei por contar de uma vez para poupar Serena de ter que ficar voltando no assunto, só não dei muitos detalhes da situação. Vovó terminou de beber seu chá matinal.
- As pessoas evoluíram muito, mas às vezes é como se houvéssemos dado um único passo para frente e dois para trás. - Comentou, indo até a pia para lavar sua xícara.
- Concordo, e isso me deixa muito triste. Ainda temos muito o que aprender. É desesperador pensar que alguns homens não tratam as mulheres com o mínimo de respeito possível. - Respondi, dando a última mordida na panqueca.
- Pelo menos hoje as mulheres tem mais coragem de denunciar, caso sofram qualquer tipo de violência. Na minha época a gente se escondia.
- É verdade, mas não era para termos sofrido tanto, pra chegar agora e ainda ter um grande caminho para percorrer. - Terminei de beber meu café.
- Mas é com um passo de cada vez que a gente anda, minha querida. - Ela passou a mão em meu ombro e eu sorri.
- Vovó, a senhora sabe se há algum campo com flores aqui perto ou aos arredores?
Ela pensou um pouco.
- Lembro-me de um campo de lírios que há não muito distante daqui. Em direção àquela cachoeira que você tanto gosta.
- Perfeito! - Exclamei, me levantando. - Pode preparar mais café pra eu levar para Serena?
- Ainda tem na jarra, fiz o suficiente para nós três. - Ela serviu o café numa caneca.
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Um só coração
RomanceSarah é uma garota lésbica, de 20 anos que está decidida a fazer com que esse novo ano seja diferente, em relação a tudo. Arrumou um emprego, resolveu seguir seu sonho e decidiu não focar muito em paixões. Nunca se deu bem no amor, e estava prestes...