46 - A conversa.

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Na segunda, fui pro trabalho igual a um zumbi. Mal conversei com o pessoal e cada vez que alguém perguntava se algo tinha acontecido eu dava a desculpa de que a viagem daquela semana havia sido cansativa, e parece que todos engoliram essa. Derek nem tanto, mas se contentou, sabendo que eu não falaria.

Acabando meu turno, liguei para Serena pra confirmar se eu podia ir lá ou não, e ela disse que eu podia. Não sabia bem o que esperar. Fiquei me perguntando se iríamos brigar novamente; com que olhos eu a veria hoje? Os mesmos de ontem, que não a reconheceram?; cheguei até a me questionar se eu sentiria vontade de reatar com ela. Todos esses pensamentos se passavam rapidamente na minha cabeça, quase sem clareza alguma, enquanto estava a caminho do nosso apartamento. Nosso não mais, dela.

18:30

Quando cheguei, estava tremendo um pouco. Não sei bem se era só nervosismo ou se era minha ansiedade se mostrando novamente, mas tentei fazer com que parasse, respirando fundo quando estava no elevador.

As portas se abriram e eu saí, indo até a porta de Serena e dando duas batidas. Ainda tenho a chave, porém, aquele lugar já não me pertence.

Ela abriu a porta e, imediatamente, o Salém veio se esfregar por entre minhas pernas.

- Oi, bebê. - Me abaixei para pegá-lo, antes que ele saísse do apartamento. Então voltei minha atenção para Serena, que me olhava com um sorriso meio fraco. - Oi. - Foi a única coisa que consegui dizer.

- Oi. - Respondeu.

Nosso primeiro contato foi estranho, não sabíamos muito o que fazer, como nos tratar. Os apelidos carinhosos não nos cabiam mais, os beijos muito menos, e um aperto de mão seria, no mínimo, ridículo.

Adentrei a sala e ela fechou a porta. Fiz um carinho no Salém e o pus no chão. Ao me virar, ela estava me olhando, como se, implicitamente, me pedisse alguma coisa. Logo, a abracei. E parece que era isso mesmo que ela queria que eu fizesse. Me agarrou com tanta força que pareceu que estávamos sem nos ver há anos, mas só havia um dia. Um longo e doloroso dia.

Quando menos esperava, senti uma água escorrendo pelo colo dos meus seios. Ela estava chorando. A dor dela era a mesma que a minha. Apesar de meus amigos tentarem dividir comigo o peso do que eu sentia, ela era a única que sabia, exatamente, o que eu estava sentindo. Sendo assim, me pus a chorar junto dela.

Ficamos assim, abraçadas no meio da sala, por um bom tempo. Nossas lágrimas que escorriam representam um grande amor que, infelizmente, se quebrou. Elas estavam limpando nossos corações naquele momento, levando tudo de ruim que aconteceu e foi dito no dia anterior. Mas, aos poucos, elas cessaram.

Segurei o rosto de Serena, delicadamente, e depositei um beijo em sua testa. limpei as últimas lágrimas que escorriam e disse:

- Vamos beber uma água e lavar nossos rostos, depois a gente continua.

Ela assentiu e foi até o banheiro, ao mesmo tempo que eu fui beber água. E bebia o líquido olhando pro nada, mas minha mente não parava. Ali, já tentava pensar no que eu queria dizer. Era tanta coisa. Logo ela voltou e eu fui ao banheiro.

Me olhei no espelho e meus olhos estavam um pouquinho inchados. Fiz um coque em meu cabelo e joguei aquela água gelada da pia em meu rosto. Uma, duas, até três vezes. Numa tentativa inútil de que eu acordasse e nada disso estivesse acontecendo. Fechei a torneira e voltei para o cômodo principal.

Serena estava acomodada no sofá, e eu fui me sentar ao seu lado. Nem muito perto nem muito distante, uma distância razoável.

- Você pode começar a falar, se quiser. Acho que eu não tenho direito nenhum disso. - Indagou ela. E era notório o quão culpada ela se sentia pelo o que fez.

Um só coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora