3 dias antes do fim

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"Se não partir seu coração, não é amor." - Jon Foreman 

Às duas horas da madrugada, o celular tocou.

Uma ligação. De madrugada. Merda.

Eduardo pulou da cama como se ela estivesse em chamas e agarrou o celular como se fosse o extintor de incêndio. Olhou para a tela do aparelho. Congelou por um segundo.

Ah, não, Sofia. Pelo amor de Deus. Droga. Drogadrogadrogadroga.

O medo começou a corroê-lo por dentro. Uma ligação, àquela hora, com certeza não era pra trazer boas notícias. Não queria atender. O que quer que fosse, ele não queria ouvir.

Mas era sobre ela. Eduardo tinha que atender. Finalmente fez isso, com o celular instável em sua mão trêmula. Mas, como ele temia, a voz do outro lado da linha não era a voz que gostaria de escutar.

— Oi, Eduardo. — Era a mãe de Sofia. 

Ele sentiu seu coração acelerar loucamente e achou melhor sentar na cama.

— Cadê a Sofia? Ela tá bem? O que está acontecendo?

Só conseguia pensar que, se Sofia estivesse bem, ele não estaria recebendo aquela maldita ligação às duas da manhã. Em uma fração de segundo, veio à sua mente a sensação que tivera no dia anterior, ao abraçá-la. Tinha sentido o calor da pele dela em contato com a dele. Não achou, na hora, que a febre fosse alta, mas com certeza aquela temperatura não era normal. E, pra completar, Sofia estava tão fraca, tão frágil, que Edu tinha ficado com medo de apertá-la muito forte e quebrá-la ao meio.

Sentiu uma pontada no estômago, de puro pânico, antes mesmo que a mulher começasse a falar:

— Aconteceu de novo, ela teve outra crise. Mas já estamos no hospital, estão cuidando dela, vai ficar tudo bem.

Disse que só estava ligando pra avisar mesmo, porque ele a tinha feito prometer que ligaria sempre que algo acontecesse. Era o combinado. Pediu pra ele voltar a dormir, não adiantaria nada aparecer no hospital àquela hora, Sofia ainda não podia receber visitas de ninguém.

Só que Eduardo nem estava mais ouvindo. Vestiu uma calça jeans e uma camiseta qualquer às pressas e começou a procurar a chave do carro.

— O que foi, filho? — O pai dele acabava de aparecer na sala, sonolento.

— A Sofia foi internada de novo — respondeu, encontrando a chave na mesa de centro — Estou pegando seu carro.

— Espera aí, Edu! Eu te levo até o hospital! — insistiu o pai, pensando que o filho parecia transtornado demais para dirigir.

Eduardo o ignorou completamente. Um segundo depois, o carro já estava saindo da garagem.

O hospital ficava a alguns poucos minutos de distância, e Edu dirigiu até lá sem o menor senso de responsabilidade. Só queria chegar logo.

Ela ia ficar bem, repetiu para si mesmo. Era só mais uma recaída. Nada que ela não pudesse superar. Já tinha superado tanta coisa. 

 Depois de correr pelo hospital, encontrou os pais de Sofia na sala de espera. A tia e os priminhos gêmeos dela também estavam lá. Ele devia ter chegado com uma expressão realmente assustada, porque Luciana, a mãe de Sofia, levantou-se imediatamente da cadeira onde estava e foi abraçá-lo. Edu não gostou nada daquele abraço. Parecia o tipo de abraço consolador que vem antes ou depois de uma notícia horrível.

— O que aconteceu? Ela vai ficar bem, não é?  – perguntou, impaciente.

Luciana não respondeu de imediato. Olhou para o marido, que por sua vez esfregou os olhos e, sem se mover do assento onde estava, disse apenas: 

 — O cateter infeccionou e parece que eles vão ter que trocar de novo aquela porcaria. É inútil você ficar aqui no hospital, por enquanto. Volte pra casa, garoto. Eu aviso quando você puder ver a Sofia.

Outra complicação com a hemodiálise. Aquele tratamento, claramente, não estava mais funcionando direito. Eduardo tentou respirar fundo e se jogou na cadeira mais próxima.

— É, Edu... Parece que vamos ter que contrabandear um rim pra sua namorada. — Júlia, a tia de Sofia, sentou-se ao lado de Eduardo e até sorriu pra ele, numa tentativa de acalmá-lo.

Apesar de ser madrugada, os pestinhas gêmeos não apresentavam o menor sinal de sono. Ficavam pulando de cadeira em cadeira, brincando com seus bonecos de super-herói. Finalmente, Júlia decidiu dizer algo a respeito:

— Enzo e Heitor, já mandei descer da cadeira! Isso aqui é um hospital, pelo amor de Deus! Da próxima vez, vocês vão ficar em casa com o papai!

Só nesse momento os gêmeos pareceram perceber a presença de Eduardo.

— A gente tava jantando na casa da tia Luciana — Enzo se aproximou de Edu e começou a contar a história, num tom de voz mais alto do que deveria —, e daí a Sofia começou a ficar muito quente, tipo o...

— Tipo o Tocha Humana! — Heitor completou, animadíssimo.

— E aí quando ela foi levantar do sofá ela quase desmaiou, e o tio Jorge teve pegar ela no colo, e a aí a minha mãe disse que também queria vir pro hospital, e falou que ia ter que deixar a gente em casa, mas o bebezão do Heitor começou a chorar porque não queria ir pra casa dormir e aí...

— Eu não sou um bebezão, seu cabeça de ovo!

— E aí eu pedi pra ir no carro do tio Jorge porque ele ia acelerar cento e mil quilômetros por hora pra levar a Sofia no médico, mas a mamãe disse que eu só podia ir no carro dela, e a mamãe dirige parecendo uma tartaruga sem perna, e aí o Heitor perguntou se a Sofia tava morrendo, e aí a mamãe disse pra ele parar de falar besteira, mas...

Toda aquela tagarelice interminável perturbou ainda mais a cabeça de Eduardo, e ele deu graças a Deus quando Júlia finalmente conseguiu fazer os meninos calarem a boca por alguns segundos.

— Ela vai ficar bem. — A tia da Sofia deu um tapinha consolador no ombro de Eduardo. — Talvez seja melhor mesmo você voltar pra casa, Edu. Você tem aula amanhã cedo, não é?

Quem se importava com a merda daquele cursinho pré-vestibular? Todo o resto do mundo parecia incrivelmente fútil.

— Não vou sair do hospital enquanto eu não puder ver a Sofia — Eduardo respondeu secamente.

Inferno. Sofia não merecia aquilo. Simplesmente não era justo.

Tentou se acalmar. Precisava manter o controle da situação. Ela ia se recuperar rápido. Logo ele poderia vê-la de novo, e então tudo iria ficar bem.

Olhou para os primos de Sofia. Nenhum sinal de preocupação, impaciência ou tristeza em seus rostos. Estavam simplesmente brincando com seus bonecos. Desejou, por um momento, estar no lugar deles. Parar de sentir tanto medo, nem que fosse por um minuto.

Heitor e Enzo se aproximaram dele de novo, e Eduardo teve que respirar fundo.

— Qual é o melhor super-herói de todos? — um dos meninos perguntou.

Heitor colocou o boneco do Capitão América na frente do rosto de Eduardo, e Enzo fez o mesmo com o boneco do Homem de Ferro.

Edu olhou para os dois bonecos por alguns segundos. Depois sorriu e apontou para o Homem de Ferro.  

***Nota da autora***

Queridos Leitores,

SIM. VOLTEI! Depois de tanto tempo, decidi voltar pra finalmente postar a nova história prometida há eras. Não sei se "Sobre o fim" vai agradar meus leitores de "Sob o mesmo teto" (Nossa, tomara que sim!), mas eu cansei de ficar esperando o momento ideal pra postar essa história, porque descobri que esse tal momento ideal nunca vai chegar! A gente tem que vir na cara e na coragem, mesmo. Então seja o que Deus quiser... kkkkk Conto com o apoio e com os comentários de vocês <3

Um abraço beeem apertado!

Com carinho,

Stella. 

Sobre o fimOnde histórias criam vida. Descubra agora