Naquela noite, ele teve um pesadelo especialmente perturbador.
Sonhou que chegava ao hospital ansioso para encontrar Sofia e encontrava a porta do quarto dela. Quando abria a porta, a cama estava vazia. Um lençol branco dobrado sobre o colchão, um suporte com tubos de soro sem soro, uma máquina de hemodiálise desligada.
O silêncio e o vazio inundando o quarto.
Então ele começava a correr pelos corredores, a gritar por Sofia, por alguma enfermeira que pudesse explicar o que estava acontecendo, um médico que pudesse dizer porque ela não estava no quarto dela, lendo um livro de poesia.
Mas os corredores também estavam vazios. O grito dele ecoava surdo pelo hospital, e não havia ninguém ali pra lhe dar resposta alguma.
E Sofia não estava em lugar algum. Não fazia mais parte do mundo.
Quando acordou, Eduardo estava sem fôlego e molhado de suor. Sentou na cama, tentando expulsar aquelas imagens de sua mente.
Foi até o banheiro e molhou o rosto com água fria. O coração dele continuava batendo anormalmente forte, e a sensação de ter um nó na garganta permanecia.
Pegou o celular e olhou o horário. Três horas da madrugada.
Ele não conseguia se acalmar. Aquela sensação horrível do sonho ainda tomava conta dele. Voltar a dormir estava completamente fora de questão. Seria impossível voltar pra cama, depois daquilo.
Precisava ouvir a voz dela. Precisava saber se ela estava bem. E se aquele sonho tivesse sido, sei lá, um tipo de intuição, ou... Não. Pelo amor de Deus, ela devia estar bem. Quer dizer, ponderou ele, a vida não é uma novela mexicana, o sonho tinha sido só um sonho.
Olhou para o celular novamente. O coração dele continuava acelerado. Ligou para o número dela, apertando os números na tela de forma desesperada, como se estivesse tentando desativar uma bomba e não fazer uma ligação.
Ela não atendeu ao primeiro toque. Nem ao segundo, nem ao terceiro... Edu estava tão aflito que se esqueceu de respirar por alguns segundos. E então a chamada finalmente foi atendida.
— É bom você ter uma ótima razão pra me ligar a essa hora, Eduardo Henrique. — Sofia resmungou do outro lado da linha, com voz de sono.
O som daquela voz fez com que ele soltasse uma risada estranha de alívio, que soou realmente esquisita porque se misturou ao nó na garganta que ainda estava lá e fez com que ele engasgasse um pouco.
— Edu? Você está bem? — Sofia perguntou, e dessa vez a voz dela soou menos sonolenta e um tanto preocupada.
— Eu... Eu estou ótimo! — ele respondeu afobadamente, enquanto recuperava o fôlego — Quer dizer, estou maravilhosamente bem. Muito bem, mesmo. E você?
— Eduardo, eu já te disse pra não ficar tomando aqueles energéticos à noite. Essas porcarias te deixam hiperativo e te fazem ligar pras pessoas sem motivo às três da manhã.
É, ela estava bem. Ouvi-la dizer aquilo, com o jeito mandão de sempre, fez com que ele tivesse certeza de que Sofia estava ótima.
— Eu não bebi nada — ele explicou, rindo — É que... Eu amo o som da sua voz. Eu quero escutar o som da sua voz todos os dias, todos os segundos, pelo resto da minha vida.
Um silêncio se instaurou por algum tempo, até Sofia afirmar, em tom de desconfiança:
— Você tomou umas três latas de RedBull. No mínimo.
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Sobre o fim
Teen FictionEduardo tem vários medos, mas nenhum se compara ao pânico de perder sua namorada, Sofia, que enfrenta uma doença em estágio terminal. Entre o medo e a coragem, a beleza e o caos, o fim e o início vão se entrelaçando ao longo da história de amor vivi...