2 dias antes do fim

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Eduardo não conseguia se acalmar. Com o coração disparado e as mãos suando, ele ainda tinha que ficar esperando sentado naquele banco, porque os pais de Sofia tinham decidido que precisavam de um momento a sós com ela. Edu podia vê-los conversar, ao longe. Sofia provavelmente devia estar levando a maior bronca de sua vida. E deviam estar conversando sobre os detalhes do transplante, sobre o qual Eduardo não sabia absolutamente nada.

Nem os balões no céu e a agitação do festival poderiam distrair Eduardo agora, não depois daquela notícia. Sofia não estava em um lugar muito privilegiado na fila de espera, então como aquilo tinha acontecido? Não dava para acreditar.

Mas as palavras da mãe dela tinha sido bastante claras. Um doador.

Quantas vezes ele tinha sonhado escutar aquilo? Era como uma porta aberta para basicamente tudo o que ele queria na vida. Com o transplante, ele não teria que se despedir de Sofia, não teria que ficar constantemente se preocupando com o fim. Eles poderiam se casar, ter os filhos que já existiam na imaginação dele. Poderiam construir uma vida juntos.

Quando olhou para o céu novamente, com a luz do sol forte em seus olhos, Edu sentiu como se aquele fosse o dia mais bonito e mais importante de toda a sua vida. Pela primeira vez, o mundo, que costumava ser caótico e intimidador, pareceu ser um lugar perfeito. Ele nunca tinha tido essa sensação antes.

Desde que conhecera Sofia, Edu sentia que o prazer de estar perto dela vinha sempre acompanhado por uma pontada de medo de perdê-la. Mas naquele momento, a esperança dominou o medo pela primeira vez. Por um minuto, o medo desapareceu, e ele teve certeza de que tudo daria certo. Teve certeza de que eles teriam uma vida longa e feliz juntos. Naquele momento, ele acreditou com todo o coração que nada a tiraria dele.

Mesmo à distância, Eduardo pôde ver Sofia abraçando Luciana e Jorge por um bom tempo. Olhando atentamente, teve a impressão de que os três estavam chorando. Quando Sofia se distanciou dos pais, aproximando-se de Edu rapidamente, ofegante e com as bochechas vermelhas, ele se levantou do banco num salto e foi em direção a ela.

— É verdade que encontraram um rim pra você? Só me diz que é verdade e que você vai fazer o transplante e ficar bem — ele disse, atrapalhado, as palavras sendo jogadas para fora na velocidade da luz.

Sofia olhou de volta para os pais dela, que continuavam conversando ao longe.

— É verdade, encontraram mesmo um doador pra mim. Mas olha, você devia se sentar naquele banco de novo. A gente precisa conversar.

Meu Deus, eram emoções demais para um dia só. Edu concluiu que, se não tivesse um infarto até o final do dia, poderia ficar bastante confiante na saúde do seu coração.

Ele se sentou novamente no banco. Sofia se sentou ao lado dele, numa posição em que podia olhá-lo de frente, diretamente nos olhos.

— Os rins são de um rapaz que teve morte cerebral, a família dele concordou em doar os órgãos. Eles testaram a compatibilidade com algumas pessoas da fila de espera, e acabou que eu fui a escolhida. Parece que, ainda assim, a compatibilidade não é exatamente a ideal, mas eu não tenho tempo pra ficar esperando um órgão perfeitamente compatível.

Eduardo, que não estava conseguindo processar direito aquelas informações, continuou imóvel e em absoluto silêncio. Aquilo não era o que ele esperava ouvir.

— O doutor Elias disse que vai ser uma cirurgia arriscada, por causa da minha anemia e de todos os outros fatores de risco, e que tem cinquenta por cento de chance de o transplante ser um sucesso. De qualquer forma, eu não iria durar muito tempo com a hemodiálise. Esse transplante é a minha única chance de ter uma vida praticamente normal. Enfim, por causa de tudo isso, ele deu um tempo pra decidirmos. Meus pais têm que autorizar o transplante até amanhã. Eles disseram que vão respeitar o que eu decidir. E eu preciso saber como você se sente com tudo isso.

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