25 dias depois do início

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Eduardo não conseguia tirar aquele olhar da cabeça, não conseguia parar de lembrar da tristeza nos olhos de Sofia. Não conseguia parar de remoer cada segundo daquele encontro que tinha tudo para ser perfeito, mas que do nada tinha se transformado em algo que ele não podia entender.

Ele devia ter dito alguma coisa errada, talvez ele a tivesse feito lembrar de algum trauma ou coisa assim. Ou talvez ela estivesse em perigo, talvez tivesse saído daquele jeito porque estava sendo perseguida por chefes do crime organizado, e talvez aquele "eu tenho mesmo que ir" tivesse sido um adeus e Edu nunca mais a veria.

Aquela situação seria um pouco menos angustiante se Sofia tivesse ido à escola, para que ele pudesse ao menos olhar para ela. Mas ela tinha faltado, e não atendeu nenhuma das oito chamadas de Edu, nem respondeu nenhuma das dezenove mensagens de texto que ele tinha mandado.

Sofia tinha simplesmente desaparecido, e Eduardo estava desesperado o suficiente para pedir a ajuda de Costela. Talvez uma visão de fora o ajudasse a entender o que estava acontecendo.

— Cara, se acalma e conta essa história direito — foi a primeira coisa que Costela disse, espreguiçando-se em sua cama bagunçada.

O quarto de Costela era uma zona, e Edu teve que tirar uma pilha de roupas de cima da cadeira, para conseguir se sentar.

— A gente tava na frente do cinema falando de filmes, eu estava tentando adivinhar qual filme ela ia escolher pra gente assistir, e aí do nada ela soltou a minha mão, disse que tinha se lembrado de uma coisa e que precisava ir embora.

— Me ajuda a te ajudar, parça. Você tem que ser mais detalhista. O que, exatamente, você disse, antes de ela sair voada?

— Eu já disse, a gente tava falando de filmes, ela disse que odiava filme romântico de drama e eu concordei, eu disse que nesses filmes tem sempre uma mulher com uma doença incurável, e um cara burro que se apaixona por ela, em vez de gostar de uma mulher normal que tem um futuro e...

Edu parou de falar quando viu a cara de choque de Costela. Ele o encarava com olhos muito, muito arregalados.

— Que foi? — perguntou Edu, nervoso.

— Eduardo, seu animal, o que você tem na cabeça? Olha o que tu foi dizer pra mina que tá morrendo!

— Pera, o quê?

— A doença dos rins e coisa e tal — explicou Costela, incrédulo. — Você não sabia?

— Como assim, que doença?

— Cara, em que mundo você vive? Todo mundo da escola sabe disso. Ela tem, tipo, um tubo preso abaixo do pescoço, que ela usa pra filtrar o sangue ou sei lá o quê. Você é cego? Acha que ela anda por aí com um baita tubo enfiado na veia por diversão, porque é estiloso?

— Como assim ela está morrendo?

Costela suspirou.

— Ninguém nem achava que ela ia chegar ao ensino médio. Parece que junto com o lance dos rins que não funcionam ela tem um monte de complicações, nas veias, no coração, sei lá mais onde. Enfim, na escola todo mundo trata ela bem, porque, sabe como é, ela pode ir dessa pra melhor a qualquer momento.

Eduardo simplesmente não conseguia processar aquilo.

— Mas a Sofia parece bem, ela...

— Cara, respira. Desse jeito você é quem vai morrer.

Edu tentou respirar profundamente, e então ele se lembrou. Lembrou-se de como ela passou mal depois de fazer esforço físico, no dia em que escalaram a caixa d'água do prédio do museu. Lembrou-se de como a professora de Literatura tinha brigado com eles depois disso, dizendo que Sofia devia pensar mais na saúde dela. E, principalmente, Edu se lembrou dos casacos dela, aqueles malditos casacos grandes que ela usava sempre, mesmo que o sol estivesse fervendo. Os casacos eram para esconder o tal tubo que Costela tinha mencionado. Estava tudo na cara dele, mas ele tinha sido burro demais para notar. Caramba.

Sobre o fimOnde histórias criam vida. Descubra agora