2 dias antes do fim

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As mãos de Eduardo, grudadas no volante, suavam frio.

Que merda eu estou fazendo, era só o que ele conseguia pensar.

Quando Sofia disse que tinha um plano para fugir do hospital, ele não tinha previsto que a parte dele seria só ficar dentro do carro, depois da meia-noite, esperando que ela saísse pela porta da frente.

Talvez tivesse dado errado. Talvez ela tivesse desistido, percebido que aquela ideia de fugir era impossível e absurda.

Mas não, Edu sabia que ela não desistiria. Só se um anjo aparecesse com uma mensagem divina mandando ela ficar quieta no hospital. E olha lá.

Talvez então ela tivesse sido pega. Ótimo. Isso resolveria o problema. É claro, ela não ia conseguir dar o fora tão fácil. Aquilo era um hospital, pelo amor de Deus. Havia enfermeiras, médicos de plantão e seguranças. Alguém a impediria de simplesmente ir embora sem autorização nenhuma.

Ele tinha dito isso a ela, naquela tarde, quando eles conversavam sobre a fuga sentados no chão do banheiro masculino.

— Não dá pra fugir da ala de internação, Sofia.

— É claro que dá, homem de pouca fé. Já tenho tudo planejado. Eu já fui internada nesse hospital umas duzentas vezes. O que você acha que eu fico fazendo nas horas de tédio? Planejando como escapar daqui, é claro. Tudo o que você precisa fazer é me esperar lá fora, no carro. Eu não vou ter problemas em sair do hospital de madrugada. Na verdade, não vão nem perceber que eu saí.

Edu suspirou e olhou para o prédio do hospital pelo vidro do carro, que começava a embaçar. E aí ele viu aquela cena que quase o fez ter um infarto.

A imagem bizarra de uma pessoa sentada no parapeito da janela do primeiro andar. Meu Deus. Era ela.

Edu saiu do carro desesperado e correu, atravessando o gramado como um louco, tentando se aproximar o mais rápido possível da janela. Antes que ele pudesse gritar pra Sofia não fazer besteira, porque ia obviamente se quebrar toda, ela já tinha pulado do parapeito da janela para o tronco da grande árvore que ficava em frente.

Eduardo parou, ofegante, em frente à árvore alta. Sofia estava tentando descer pelos galhos. A distância entre ela e o chão parecia gigantesca. Eduardo sempre teve medo de altura, e agora sentia sua fobia se intensificar em mil por cento. Ele nunca mais ia conseguir olhar pela janela de um prédio novamente.

— Sofia! — ele gritou. — Pelo amor de Deus, não se mexe! Sério, fica quieta aí!

— Para de gritar, você vai chamar a atenção deles, que coisa! — rebateu Sofia. — Eu sei descer por uma árvore, eu tive infância, tá legal?

— Que droga, Sofia, se eu soubesse que você ia fazer essa maluquice, eu...

— Relaxa, menino. Olha só, eu tô descendo com cuidado, na maior calma.

— Você vai cair daí.

Ele desviou os olhos. Ver aquilo fazia com que ele ficasse tonto. Quando olhou de novo, ela estava bem mais próxima ao chão.

— Edu... Sem pânico, mas... Você pode me ajudar aqui? Eu tô com a impressão de que esse galho está...

Quebrando. Estava mesmo, porque antes que ela pudesse terminar a frase, o galho se partiu com um barulhão de madeira sendo despedaçada, e Sofia caiu. Edu só teve tempo de se mover um pouco para frente.

No milésimo de segundo seguinte, os dois estavam jogados na grama. Sofia tinha caído em cima de Eduardo, o que amorteceu um pouco a queda. Pra ela, é claro.

Sofia começou a rir como uma criança no parque de diversões.

— Caramba, isso foi TÃO legal!

— Eu não posso concordar — murmurou Edu.

— Desculpa se eu te machuquei na queda — disse Sofia, ainda rindo. — Você tá bem?

— Tá tudo doendo. Como se uma pessoa tivesse caído de uma árvore em cima de mim.

Ela riu ainda mais e o ajudou a levantar do chão. E então, apesar da cara fechada de Edu, ela o abraçou com força.

Meu Deus. Parecia que aquela menina nunca tinha ficado doente na vida. Ela estava tão feliz e cheia de energia.

Sofia ajeitou a mochila que carregava nas costas, pegou a mão dele e praticamente o arrastou de volta até o carro.

— A gente tem que ir, Edu! — disse, com a voz cheia de empolgação. — Tô sentindo que hoje vai ser o melhor dia da minha vida.     

Sobre o fimOnde histórias criam vida. Descubra agora