Sentado no sofá da casa de Sofia, Eduardo tentou se manter otimista. Não estava se saindo muito bem nessa tentativa, e nem poderia, não com os pais de Sofia encarando-o daquele jeito, como se ele fosse um alienígena maligno que tinha acabado de cair no planeta Terra.
— Então, hmm... É Eduardo o seu nome, certo? — disse Jorge, que estava sentado no sofá, abraçando a esposa pelos ombros, bem ao lado do rapaz.
Edu assentiu.
— E vocês se conheceram...
— Na escola — completou Edu. — A sua filha faz parte de um... Um grupo de estudo da bíblia, e eu participei da reunião, uma vez, e aí...
— Mas você não é cristão — disse Luciana, a mãe de Sofia. A decepção no rosto dela era bem evidente.
— Bem... — murmurou Edu, mas na realidade ele não tinha o dizer. Só queria que Sofia entrasse logo naquela sala para salvá-lo daquele constrangimento.
— Olha, rapaz, eu vou ser franco com você, vamos direto ao ponto — disse Jorge.
Edu teve que se esforçar para encarar o olhar penetrante e intimidador de Jorge.
— Quando a Sofia completou dez anos, um médico me disse que eu não deveria ter esperanças de que ela chegaria aos treze. Você faz ideia do pesadelo que é, pra um pai, escutar uma coisa dessas? Desde então, a Sofia passou por cinco cirurgias, tomou dezenas de medicamentos diferentes, teve que lidar com os efeitos colaterais de todos esses remédios, e sofreu tanto com a hemodiálise que acabou se acostumando. Ela passou por tudo isso, e no meio desse caos, sempre que você olhar para ela, vai vê-la sorrindo.
Jorge aproximou-se ainda mais de Edu e pronunciou, numa calma ameaçadora:
— Eu não vou deixar um moleque entrar na vida da minha filha pra arrancar esse sorriso do rosto dela. Você entendeu?
Eduardo queria dizer alguma coisa, mas estava tão nervoso que as palavras não saíam.
— Se você achar que não dá conta, pode ir embora agora. Vai viver sua vida, curtir sua juventude. Mas se você ficar, vai ter que assumir a responsabilidade. Não vai ser fácil.
Aquela proposta de ir embora foi o que fez com que Eduardo conseguisse dar uma resposta segura. Ele esfregou as palmas das mãos no tecido do sofá e respondeu:
— Eu não vou embora. Conhecer a Sofia foi a melhor coisa que já aconteceu comigo. E eu sei que não vai ser fácil, mas eu prometo enfrentar o que for preciso. Cada segundo ao lado dela vale todo o esforço do mundo.
A mãe de Sofia sorriu, mas o pai manteve a expressão severa.
— É bom que isso aí seja verdade. Porque se você fizer mal pra minha filha, eu juro que...
Jorge interrompeu sua ameaça quando Sofia entrou na sala de repente.
— Ih, nem se deixe enganar, ele finge que é bravo mas tem coraçãozinho de manteiga — disse Sofia para Edu, aproximando-se para abraçar o pai. A expressão de Jorge se suavizou.
— Vocês dois fiquem sabendo que esse namoro vai ser decente, não quero saber de sem-vergonhice — avisou Jorge, e Luciana concordou enfaticamente. A expressão de Sofia deixava claro o quanto ela estava se divertindo com aquele momento.
Mais tarde, depois do jantar, Edu se ofereceu para lavar a louça, e Sofia ficou ao lado dele, secando os pratos. Ela aproveitou o momento em que estavam sozinhos na cozinha para perguntar:
— Numa escala de um a dez, o quanto meu pai te assustou?
Edu ficou pensativo enquanto esfregava vigorosamente uma panela.
— Sei lá, acho que oito. E a sua mãe também não ficou muito feliz. Eu espero que com o tempo eles acabem gostando de mim. Eu não pretendo dar motivo pra não gostarem.
Sofia largou o pano de prato, pensativa.
— É estranho, a gente se conhece há pouco tempo, mas eu não consigo ter esse medo que eles têm, medo de você não ser quem eu acho que é.
Ela fez uma longa pausa, e Edu largou o copo que estava lavando para escutá-la com mais atenção.
— Sabe, as garotas que eu conheço geralmente se apaixonam pelo badboy — disse Sofia. — Elas costumam gostar do garoto misterioso, imprevisível, que picha muros e que dirige sem licença. Sabe, o tipo de cara que é mais capaz de incendiar a sua casa que de lavar a louça. Ainda bem que eu fui pelo caminho totalmente oposto. Quando eu me apaixonei, não foi por você parecer descolado ou misterioso. Sabemos que você não é nenhuma das duas coisas...
— Eu ainda estou tentando entender se isso é um elogio, ou...
— Edu, deixa eu terminar! Tô tentando ser fofa, aqui. Enfim. O que eu estava dizendo é que eu me apaixonei por você porque quando eu olho nos seus olhos, eu juro que consigo ver a sua alma. Você é a pessoa mais transparente que eu já conheci. É como se não houvesse nada que você possa esconder, porque você é puro demais, cristalino demais pra manter segredos. Você nunca tentou fingir ser o que não é, e mesmo se tentasse, não conseguiria. Tudo se revela nesses seus olhinhos de menino bobo, e acho que é isso o que eu mais amo em você.
Caramba, aquilo era uma declaração? Só podia ser, e Eduardo se sentiu a pessoa mais sortuda do mundo. A preocupação do pai de Sofia, com aquela história de "não vai ser fácil", pareceu descabida. Em todas as visões de futuro, com Sofia perto dele, Edu só conseguia se imaginar sorrindo feito um bobo, até as bochechas doerem, como naquele momento.
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Sobre o fim
Teen FictionEduardo tem vários medos, mas nenhum se compara ao pânico de perder sua namorada, Sofia, que enfrenta uma doença em estágio terminal. Entre o medo e a coragem, a beleza e o caos, o fim e o início vão se entrelaçando ao longo da história de amor vivi...