2 dias antes do fim

142 18 50
                                    


O céu estava tomado por balões de todas as cores. Eles flutuavam metros e metros acima, em todas as direções. Alguns deles tinham formatos inusitados: havia um balão em forma de urso e um que imitava uma nuvem. Sofia não parava de apontar, fascinada, para as formas coloridas que sobrevoavam o céu. Edu podia ver as cores dos balões sendo refletidas nos olhos dela, e pela primeira vez soube que tinha feito a coisa certa em levá-la até aquele lugar. Porque, caramba, ela estava tão feliz. Mesmo com aquela profusão de objetos flutuantes no céu, Eduardo não conseguia parar de olhar para o rosto dela, que revelava uma animação diferente de tudo o que ele já vira antes. 

O festival estava lotado: centenas de pessoas passeavam entre as barracas de comida e de venda de souvenires, todas atentas ao show de cores no céu. Também havia música ao vivo, não muito longe de onde Eduardo e Sofia estavam. Era uma banda desconhecida e um tanto barulhenta. Alguns balões, ainda no chão, estavam sendo inflados, o que também era algo interessante de se assistir.

— Olha, eu vou admitir, esse evento é mais legal do que eu tinha imaginado — confessou Edu, depois de parar um pouco para comprar uma garrafinha de água. Os dois se sentaram em um banco, na sombra, para que Sofia pudesse tomar os remédios. Ela engoliu os comprimidos rapidamente, guardou os frascos de volta na mochila e voltou a olhar para o céu.

— E você ainda não viu nada — disse Sofia, que não podia conter sua empolgação. — Imagina só quando a gente estiver vendo o festival lá de cima...

Antes que ele pudesse explicar os motivos pelos quais não iria se matar subindo numa tranqueira daquelas, notou que agora Sofia olhava para frente e que sua expressão feliz mudara de forma drástica, de repente.

E então ele olhou na mesma direção que ela. E entendeu tudo.

— Meus pais estão aqui — ela murmurou. — Corre, a gente tem que fugir e pular dentro de um balão antes que eles me arrastem...

— Muito bonito, dona Sofia! — o pai dela berrou à distância, e então eles souberam que fugir não era uma opção. Já tinham sido encontrados. Segundos depois, os dois foram metralhados com todas as frases de reprovação que poderiam merecer:

— Vocês estão loucos? O que deu em vocês pra fugirem de um hospital no meio da madrugada? Caramba, eu fiquei ligando pro celular de vocês sem parar, e nem tiveram a capacidade de atender uma chamada! Que vergonha, Sofia, que vergonha me fazer passar por uma situação dessas. Eu e sua mãe estamos há horas na estrada, só pra chegar aqui e buscar a dondoca! Muito bom! E você, hein, Eduardo, que decepção, apoiando uma loucura dessas, achei que você tivesse algum juízo nessa sua cabeça, mas é igualzinha à da Sofia, só tem vento dentro!

Luciana, a mãe de Sofia, parecia agitada. Não uma agitação raivosa, como a do marido, mas tinha no rosto uma expressão que Edu nunca vira antes.

— Jorge, deixa o sermão pra depois, temos coisas mais importantes que isso pra resolver — disse ela, aproximando-se da filha. 

Edu e Sofia se entreolharam, preocupados. Depois do que eles tinham feito, o que poderia ser mais importante que levar uma bronca?

Luciana abraçou Sofia com força e anunciou, com a voz embargada:

— Encontraram um doador, filha.

Sobre o fimOnde histórias criam vida. Descubra agora