386 dias depois do início

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Não foi Sofia quem abriu a porta para Eduardo. Ele foi recebido com o abraço de Luciana, a mãe dela, que pediu que entrasse e ainda perguntou se ele queria café.

— Obrigada, dona Luciana — agradeceu Edu. — Eu tô passando aqui rapidinho, só pra ver a Sofia mesmo. Ela melhorou alguma coisa?

— Não parece melhor não. Assim que o pai dela chegar, vamos ao hospital. Ela diz que não é nada demais, mas sabe como ela é, não dá pra confiar.

Ele concordou com a cabeça, e já ia perguntar se Sofia estava no quarto quando Luciana sorriu e deu-lhe um tapinha amigável no ombro:

— Hoje é um grande dia pra você, hein? Que horas é a prova?

— À tarde, tenho que estar lá às treze. Sabe como é, melhor chegar com antecedência.

— Isso aí, rapaz responsável — concordou Luciana. — Você vai passar, se Deus quiser. Vai conseguir essa vaga de Engenharia fácil fácil.

Eduardo agradeceu e foi atrás de Sofia. Ele deu uma batida leve antes de abrir a porta do quarto. Não gostou do que viu. Ela não parecia nada bem.

— Mas que honra receber uma visita nesse dia tão glorioso em que você vai arrasar na prova — disse Sofia, deitada na cama, com um sorrisinho, iniciando uma tentativa de se sentar.

— Ei, pode ficar deitadinha, tá tudo bem — disse Edu, aproximando-se e sentando na cama ao lado dela. Ele se inclinou para beijar a testa de Sofia e acariciou o rosto dela. Sentiu um aperto no coração ao fazer isso.

— Tá com carinha de doente, amor. E sua pele tá gelada.

— Eu tenho cara de doente, isso não é novidade. Não é nada demais, já já passa. E de qualquer forma, minha mãe vai me arrastar pro hospital daqui a pouco, então... Não tem que se preocupar. E hoje não é dia de falar de doença, finalmente é a sua prova. Tá nervoso?

— Acho que só vou ficar nervoso de verdade na hora, sei lá.

— Você vai passar, Edu. Você é inteligente e estudou pra caramba. Semestre que vem você será o calouro mais gatinho do curso de Engenharia Civil.

Ele riu e beijou os lábios dela. Estavam frios.

— Você tem que ir logo pro hospital, Sofia. Já era pra ter ido, inclusive — disse ele. — Não pode ficar vacilando assim não, tem que se cuidar. O nosso aniversário de namoro tá chegando. Eu planejo te levar pra um jantar romântico ao ar livre, e pra isso acontecer a sua saúde tem que estar ótima.

Sofia abriu um sorriso animado que a fez parecer bem menos debilitada do que realmente estava.

— Vai ser à noite? Aí a gente podia olhar as estrelas, que nem em filme romântico clichê, que o pessoal deita na grama e fica olhando o céu. Eu nem ligo se não tiver comida, eu só quero um céu estrelado, já está ótimo.

— Achei que você detestasse esse tipo de filme.

— E eu detesto, mas só porque a minha vida já se parece com um romance dramático adolescente. Agora, sobre ver as estrelas, luzes, paisagens bonitas e essas coisas... Eu adoro, nem ligo se é clichê ou não. Sabe como é, eu sou uma pessoa poética e contemplativa.

— E modesta. Mas enfim, é meio impossível ver alguma estrela no céu dessa cidade, né...

Sofia suspirou.

— É, eu sei, a urbanização mata a poesia do céu.

— Isso é mais uma daquelas frases feitas dos livros de poemas que você lê?

Sobre o fimOnde histórias criam vida. Descubra agora