Júlia entrou no quarto de Sofia acompanhada dos filhos. Estava aberta a temporada das visitas pelo período da manhã. Antes mesmo de dizer oi aos parentes, Sofia sussurrou no ouvido de Eduardo:
— Eu devia ter aproveitado melhor o nosso tempo a sós. Tenho uma coisa importante pra te dizer, e eu não posso falar enquanto tiver mais alguém por perto.
Eduardo ficou bem irritado com aquilo, em ter sua curiosidade sendo atiçada daquela forma. Como assim, uma coisa importante? O que ela tinha a dizer? Aquela agonia iria corroê-lo até eles terem outro tempo sozinhos, e sabe-se lá o quanto isso demoraria. Os pais dela estavam na cola.
Enquanto Júlia conversava com a sobrinha, Eduardo ficou tentando imaginar que raios era a tal coisa importante que precisava ser dita. Depois, quando Júlia e a mãe de Sofia ficaram cochichando num canto do quarto, e os gêmeos começaram a ficar fora de controle porque a mãe deles não estava nem aí, Edu teve que concentrar sua atenção em outra coisa, como no fato de que Enzo tinha achado que seria uma boa ideia brincar de skate com o suporte de soro.
Tirou o menino de perto de Sofia sem a menor delicadeza, conferiu se o tubo ainda estava conectado ao braço dela — e estava, felizmente — e teve que se controlar para não lhe dar a exemplar puxada de orelha que já queria ter dado há tanto tempo.
— Coisa 1 e Coisa 2, vamos brincar de uma nova brincadeira? Ganha quem conseguir fingir por mais tempo que é uma criança comportada, em vez de um pestinha com hiperatividade. Que tal? — anunciou Eduardo, em um falso tom de simpatia.
— Prima Sofia, seu namorado é um chato — Heitor retrucou, e em seguida mostrou a língua para Eduardo. Enzo concordou com o irmão, balançando a cabeça em sinal afirmativo.
— Diz alguma coisa que eu não sei — Sofia respondeu, dirigindo a Eduardo um sorriso adorável.
Era isso o que ele ganhava por protegê-la da ameaça iminente que eram aqueles pestinhas.
Os gêmeos voltaram a se aproximar demais de Sofia, o que manteve Edu em estado de alerta. Não gostava que eles ficassem tão perto, deviam estar cheios de germes. Além disso, podiam esbarrar na menina, pular em cima dela, machucá-la de alguma forma. Enzo começou a falar com sua voz estridente e alta:
— Sofia, cadê aquela máquina que tira o seu sangue de dentro de você e depois bota de volta de novo?
— A máquina não tira o sangue dela, seu bobão. A mamãe disse que a máquina limpa o sangue, o sangue fica todo sujo porque a Sofia não faz xixi — corrigiu Heitor.
Sofia sorriu, sorriu de verdade, e Edu sentiu como se alguém tivesse acendido as luzes do mundo. Por algum motivo, ela adorava aquelas crianças irritantes.
— É isso mesmo, Heitor, eu não faço xixi porque os meus rins não funcionam, então eu preciso de uma máquina pra limpar a sujeira que fica no meu sangue. É essa máquina que me ajuda a ficar viva.
— Então a máquina não vai deixar você morrer, né?
— Eu não sei, priminho. A máquina não faz um trabalho tão bom assim, na verdade. Ela não consegue substituir os rins de forma perfeita.
— Mas, Sofia, não é pra você morrer... — Enzo murmurou, com uma carinha contrariada e meio triste, e pela primeira vez Eduardo sentiu alguma simpatia por ele.
— Mas se você morrer, eu fico com a sua tartaruga, tá? — ele completou, e toda a simpatia foi embora imediatamente.
Sofia riu e se curvou para beijar o cabelo liso da criança.
— Bem, você vai ter que resolver isso com o Edu — ela disse, parecendo se divertir muito com aquela conversa. — É que ele é, oficialmente, o pai. E ele não vai desistir tão fácil de assumir a guarda, porque ele ama muito mesmo o Teodoro, não é, Edu?
— Nossa. Demais — Eduardo retrucou.
Novamente, se lembrou da tal coisa que Sofia tinha a dizer, e voltou a ficar agoniado. Quando teria tempo a sós com ela, novamente? Só o que podia fazer era torcer para que a mãe daqueles monstrinhos decidisse ir embora o quanto antes.
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Sobre o fim
Teen FictionEduardo tem vários medos, mas nenhum se compara ao pânico de perder sua namorada, Sofia, que enfrenta uma doença em estágio terminal. Entre o medo e a coragem, a beleza e o caos, o fim e o início vão se entrelaçando ao longo da história de amor vivi...