Capítulo 5

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    Quando eu ouvi Sabrina ao telefone dizendo que passaria bem cedo para me pegar, eu imaginei que seria algo em torno de 7 horas da manhã. Eu estava enganado. A garota apareceu na porta do meu prédio, eu estou agora parecendo um zumbi que saiu diretamente de um dos seriados americanos, enquanto ela parece estar acostumada à acordar nesse horário.

— Você está dormindo? — ela riu quando me assustei. Esfreguei meus olhos, eles estariam vermelhos, poderia sentir isso. Eles arderam quando eu tentei olhar para fora por conta da claridade.

— Não estou acostumado a acordar às quatro e meia da manhã. — retruquei. Ela riu outra vez , sua risada era doce.

— Ora, precisamos aproveitar o dia. — brincou. E eu me recostei na porta.

— Claro. —  resmungo apoiando a cabeça no vidro do carro.

O sol estava recém aparecendo, as nuvens tentavam cobri-lo. O dia parecia que seria lindo.

Coloquei uma das mãos em frente ao meu rosto para tampar a claridade.

   Na primeira curva, já conseguia vislumbrar a entrada do sítio. O portão era de madeira, como nos filmes americanos. Havia um garoto de aproximadamente 8 anos na entrada.

— Meu meio irmão. — ela apontou com o queixo.

Ela parou o carro e abaixou o vidro. Consegui ver os olhos do garoto, que eram idênticos aos da sua irmã.

— Derik, você cresceu garoto! —ela falou animada. — Onde está nosso pai?

— No estábulo. Desde cedo. — o menino falou. Ele ficou na ponta dos pés para me encarar. — Seu namorado? — ele perguntou sem receio algum.

Eu ri internamente daquela pergunta. Sabrina ficou com os olhos enormes, sua pele branca, ficou vermelha instantaneamente.

— Ele é meu chefe. — ela falou rápido demais, a ideia de ser namorado dela pareceu absurda até para uma criança.

— Seu chefe? Por que ele não veio no carro dele? — céus, que garoto era aquele?

— Derik! — ralhou com o menino.

Logo quando chegamos na casa, fomos recebidos pela madrasta de Sabrina. Ela abraçou a garota, e lançou olhares nada discretos para nós, como se quisesse realmente me deixar desconfortável.

Sabrina me levou até o lago, onde ela dizia que a paisagem era estupenda.

— Aqui é mais fresco, não é ? — senti os pelos da minha nuca se arrepiarem.

— Sim, mas logo você se acostuma. — falou se sentando na grama seca.

-—Acho que isso não irá me ajudar. — falei me abaixando.

-— Eu sempre vinha aqui nas férias. — ela abraçou suas pernas. — Sabe, quando meus pais ainda estavam juntos, antes de tudo acontecer.

— Faz muito tempo que eles não estão mais juntos?

— Nove anos. — disse com a voz fraca.

— Deve ter sido difícil.

— Nunca vou superar isso. Acredito que nunca vou me acostumar, quer dizer, ele é incrível, mas, eu acho que nunca mais vou conseguir ver esse lugar como eu via à nove anos atrás. Não sei se consegue entender.

Fiquei em silêncio, procurando alguma palavra para reconfortá-la. Mas, não encontrei.
Meu braço involuntariamente passou pelos seus ombros.
Ela colocou sua cabeça sobre meu ombro. Ficamos assim por um bom tempo, até que eu quebrasse aquele silêncio, que por mais incrível que parecesse, não era nem um pouco desconfortável.

— Quando eu era pequeno, meu pai dizia que eu seria um ótimo médico. Com o passar dos anos, ele me via escrever e dizia que aquilo só poderia ser meu robe. — balancei a cabeça. — Com dezoito ele mandou eu fazer o vestibular, eu fiz e passei. Só que não era aquilo que eu queria. Ele não entendeu. Sinto que até hoje ele não entende.

— Ele vai perceber que você fez a escolha certa, não se preocupe. — ela deu um sorriso.

— Como você faz isso?

— Isso o que?

— Ter essas palavras que confortam as pessoas.

— Só não gosto de ver as pessoas tristes. — deu de ombros.

Ficamos conversando daquela forma até o almoço, quando Derik chegou de mansinho, ainda acreditando que ei tivesse algum envolvimento amoroso com sua irmã.

Sabrina me contou um pouco de sua vida, sobre sua mãe, como foi sua infância. Enquanto eu apenas conseguia pensar o quão forte ela era. E eu, o quão fraco estava sendo.

O dia parecia lento, as horas se arrastavam, mas eu não estava de olho nisso. Respirava e dava algumas olhadas para Sabrina, que as vezes me pegava à olhando e sorria.

— Espero que isso tenha te ajudado. — ela disse ao parar o carro na frente do prédio onde eu morava.

— Ajudou muito. — falei sem mentir.
— Acho que depois do banho, já irei escrever um pouco.

— Fico feliz. — ela sorriu. — Se precisar de alguma coisa, você sabe o meu número. — piscou.

— Não quer entrar? — falei ao tirar o cinto.

— Acho que não, minha mãe ficou sozinha hoje, quero ir ver se está tudo bem com ela.

— Entendo. — beijei sua bochecha que ficou levemente corada. — Obrigada Sabrina, espero que tenha uma boa noite.

Depois de um banho demorado, sentei na frente da tela do meu laptop, e para minha surpresa, depois de semanas sem escrever, eu o consegui fazer.
Escrevi dois capítulos, antes de apagar por completo.
Acabei esquecendo até mesmo, de escrever algo no meu caderno, o que para mim foi um grande alívio.

Meu Querido Amor - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora