Capítulo 27

64 5 6
                                    


      Tomar a decisão de deixar uma pessoa, não é fácil. Sempre lhe parece menos complexo quando se é um mero espectador, você apenas vê tudo acontecer , sem poder opinar — se o fizer, você opta por dizer "não deixaria isso acontecer comigo". Somos seres humanos, estamos sempre acreditando que coisas ruins nunca nos aconteceram, talvez por termos um grande ego e achar que temos a verdade ao lado.

Quando você está em uma relação tóxica, você nem percebe. Fecha os olhos para a verdade que está gritando para ser vista. Nós colocamos alguma desculpa em relações assim, como: "é coisa da minha cabeça", "ela me ama", "eu a amo" ou "isso é preciso ser feito pelo bem do namoro ou relação". Essa última é a pior desculpa de todas.
Bem da relação?
Se a relação estivesse lhe fazendo bem, você não precisaria mudar quem é.

      A partir do momento em que  me vi finalmente livre de Eloah, eu pude realmente respirar. Eu respirei. Respirei como alguém que não saia de casa há anos, talvez não saísse mesmo. Talvez eu estivesse preso dentro de mim mesmo. Me martirizando por tudo, me culpando e falando que não era bom o suficiente.

— Olá, senhor Durval. — sorri para ele , o mesmo estava lendo seu jornal como sempre. — Pode me fazer um grande favor? — ele se esticou para chegar perto de mim.

— Claro menino, pode me falar.

— Se em meia hora Eloah não sair, o senhor pode subir lá e mandá-la embora?

Ele fez uma careta e coçou a nuca.

— Vocês brigaram? — perguntou envergonhado.

— Terminamos. — afirmei. — Mas ela está dificultando a situação. — tombei a cabeça para o lado.

— Entendo. — ele deu um sorriso. — Nunca gostei dela, rapaz.

Eu gargalhei, seu Durval pela primeira vez estava conversando como se fosse um velho amigo meu. Achei aquilo incrível. E senti culpa por só eu não ter percebido antes que aquela mulher não era maravilhosa — como eu à via.

— Não deixe mais ela subir... — coloquei as mãos no bolso. — Caso ela teime em voltar, entende, não?

— Fique tranquilo. — garantiu , passando tranquilidade para mim.

Fiquei mais alguns minutos conversando com ele. Falamos sobre o jogo que aconteceria à noite, eu não sabia muito, mas tentei passar uma animação falsa. Ele parecia empolgado demais , o campeonato estava "incrível" — ele disse — , se fosse mais novo iria ao estádio, mas não queria ir sozinho, eu me oferecia para acompanhá-lo em outro jogo e ele ficou com um sorriso de orelha à orelha.

Quando empurrei a porta giratória para sair , senti o ar. O ar estava tão leve, eu não o sentia fazia tanto tempo.

Fiquei tanto tempo preso, que esqueci o que era respirar. Respirar sem a pressão das pessoas, sem mentiras, sem máscaras, sem jogos. Apenas respirar.
Sem sentir o peso do mundo sobre os meus ombros, me levando para baixo.
Eu estava vivo, estava respirando outra vez.

Meu carro estava estacionado como de costume na entrada do edifício. Eu não iria pagar para poder estacionar ele lá dentro. Não via perigo deixá-lo ali.

Entrei e abaixei as janelas, estava calor hoje. O frio havia ido embora fazia alguns dias, gostava do calor. Porém, preferia o inverno, ele era melhor de se adaptar, pelo menos  em minha opinião.
Gostava do frio pela manhã, das roupas quentes, dos banhos demorados, do café quente para acordar, dos perfumes doce que as pessoas procuravam usar nesta época. O inverno era a época do ano em que você poderia ser elegante, sem ser forçado demais.

Girei a chave e escutei o motor engasgar.
Girei outra vez, nada.
Girei mais uma vez, agora ele sequer deu sinal de vida.

Desci do carro e ergui o capô, não sei quem eu queria enganar,  eu não sabia bolhufas sobre mecânica. Fechei bruscamente, e ainda de volta para o edifício.

— Senhor Durval! — chamei , ele estava passando um pano no balcão. — Sabe mexer com carros?

Ele soltou o pano sobre o mármore e olhou para o carro que estava estacionado na rua. Olhou com pesar para mim antes de dizer algo.

— Infelizmente não. — disse. — Tem um mecânico que fica aqui perto, posso ligar para ele. — tentou dar um sorriso. — Em meia hora ele deve estar chegando.

Olhei para o relógio, constatei que não tinha meia hora. Sabrina iria sair daqui quinze minutos.
Céus , por que justo hoje esse carro tinha que ficar assim?

— Eu preciso ir em um lugar, tenho só quinze minutos.  — falei com a voz em tom de desespero.

— Quem sabe ele pode chegar um pouquinho mais rápido? — deu dois tapinhas no meu ombro e sorriu.

Suspirei e levei as mãos até o rosto.

Eu precisava falar com Sabrina, precisava.

Sabrina era a única pessoa que vinha à  minha mente à cada segundo e aquilo não me deixava mais tranquilo.

— Posso ligar para ele? — o senhor chamou minha atenção.

— Pode. — falei pesaroso.

Eu precisava torcer para que o mecânico desse um jeito no meu carro em menos de quinze minutos. Mas eu sabia que aquilo não seria possível.

Sentei em uma cadeira que ficava próxima da porta, peguei meu celular, balancei a cabeça em negação.

Faltavam dez minutos.

Olhei para Durval, que parecia estar esperando alguém atender do outro lado, ele estava enrolando seus dedos no fio do telefone. Fez uma careta de tédio, depois de alguns segundos ele deu um suspiro de alívio.

— É moça, eu precisaria para agora. — ele tentou continuar em seu tom de voz normal, mas estava começando a se irritar. — O rapaz precisa do carro. — ele tentou insistir. — Ah, vou avisar. — estalou a língua. — Passar bem. — bateu o telefone.

Ele me olhou, caminhou até mim e parou.
Olhou para o meu carro e abaixou a cabeça.

— Só daqui meia hora, Dylan. — ele disse e eu me remexi na cadeira. — Fiz o possível. — disse tristonho. — Sinto muito. — desculpou-se.

Me levantei, mas antes de sair para fora dei um pequeno sorriso para ele.

— Está tudo bem, seu Durval.

Eu só tinha uma escolha, que causou-me um arrepio. Teria que ligar para Sam e, rezar para que ela pudesse vir me buscar.

🌙

Oi, oi!

Fiz esse capítulo na correria aqui, espero que vocês tenham gostado.

Provavelmente irei demorar para postar o próximo, já peço desculpas antecipadamente!

Não se esqueçam de votar, comentar e compartilhar com o coleguinha sz

Estou muitíssima feliz por estarmos com pouco mais de 400 visualizações, obrigada pessoal sz

Beijos da tia Vitória.

Meu Querido Amor - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora