Eu ia cantarolando pelo caminho quando ouvi o estrondo logo a frente. Todos os meus sentidos se acenderam como uma chama na noite clara e eu corri, corri até o jardim de lírios do campo que compunha grande parte da área do antigo lago. Um avião de médio porte, com uma asa destroçada e a calda arrancada pelos troncos bem ao longe, pendia entre as velhas rochas, o bico arredondado estava em um ângulo estranho e talvez também tivesse se chocado com alguma árvore antes de ser aterrissado.
Congelei por alguns segundos com a voz da minha tia ecoando em minha mente, "O piloto conseguirá pousar, mas não vai sobreviver". Pelos deuses! Eu nunca tinha passado por aquilo, como ia reagir? Entretanto uma fumaça estranha saia da aeronave e temi que se demorasse, a situação poderia ser pior.
Reunindo coragem, eu fui até a calda do avião e entrei no que parecia ser um avião luxuoso antes do acidente, as poltronas eram individuais e haviam pessoas nelas. Estreitei meus olhos tentando enxergar ali dentro, no escuro, mas não podia fazer muita coisa, assim respirei fundo, torcendo para não ser uma mulherzinha medrosa e correr caso eu visse sangue, por exemplo e comecei a trabalhar, agradecendo toda a minha prática de natação pela força dos braços e o curso de primeiros socorros que minha irmã me obrigou a fazer. Soltava os cintos, conferia se estavam respirando e os tirava, uma um, do avião e os arrastava com o máximo de cuidado que podia naquelas circunstâncias para a grama do outro lado da clareira. Ainda assim não conseguia ver perfeitamente os seus rostos, mas percebi que eram orientais. E jovens. Como minha tia disse.
Tinha perdido a noção de quantas viagens eu fiz, porém não havia ninguém mais em poltronas, passei a procurar no chão, foi então que topei com um corpo e me curvei para sentir sua respiração. Nada. Respirei fundo de novo e tentei seu pulso. Nada de novo. Ele estava morto, quem era? Não sabia. Levantei com as pernas bambas e fui até a cabine, a porta estava caída assim foi fácil passar, ali estavam três pessoas, duas sentadas e uma caída sobre o painel de controle. O chão escorregadio congelou meus movimentos. Só podia ser sangue...
A lua saiu de atrás nas nuvens e eu vi dois pares de olhos abertos e fixos para frente, já os olhos da mulher, pois vi seu uniforme de aeromoça, estavam abertos também, mas olhava para o teto. Seu pescoço estava em um ângulo anormal. Todos mortos.
Dei passos para trás tentando não correr gritando, eu fui enviada para estar ali, minha tia já tinha visto, assim eu poderia fazer sem pirar. Sufoquei um grito e sai do avião me segurando aqui e ali para não deixar que meus joelhos trêmulos falhassem. Fui até os nove estranhos desmaiados e voltei a me certificar se estavam vivos, depois busquei os ferimentos com ajuda da boa lua que iluminava o suficiente para poder distinguir sangue de outra coisa. Dois deles estavam machucados, os outros pareciam bem.
Como a tia tinha dito.
Um tinha um corte feio do braço, usei a caixa de primeiros socorros na minha mochila e estanquei a ferida esperando que não infeccionasse até retornarmos para a cabana. O outro parecia pior, a perna estava inchada e a coxa tinha um corte feio e sangrava muito. Lavei o ferimento e agradeci aos deuses por ele estar dormindo, se tivesse acordado ia sentir a dor infernal que eu sabia que sentiria. Fiz o curativo, porém sabia que ele não ia conseguir andar.
Cansada, me deixei cair na grama e fiz uma oração rápida a deusa mãe para que ela me ajudasse, como eu ia levar todos eles para casa sendo que dois estavam feridos e um não ia conseguir andar? Onde minha tia estava com a cabeça para me enviar sozinha? Eu precisava de ajuda! Tinha gente morta naquele avião!
— Mas veja o que temos aqui? Se não é a filhote humana!
Arregalei os olhos quando ouvi a voz familiar. Nossa, e não era que minhas preces foram atendidas?
— Aué!
— Não, sou outra onça que resolveu deixar de comer uma certa bruxa e conversar com ela para passar o tempo.
A onça resmungou. Eu sorri, gostava da fêmea ranzinza.
Ela era uma das maiores que tinha conhecimento, tinha quase dois metros e nos conhecemos por acaso, quando vim pela primeira vez a cabana, ela estava na beira da floresta, irritada por que tinha perdido a caça, mas se distraiu quando eu falei com ela.
Uma humana poderia entendê-la? Era o que dizia a si mesma surpresa, na época. A curiosidade foi maior que a fome e desde então nós sempre nos encontrávamos quando eu vinha para a floresta, ela gostava de me fazer perguntas... Só que eu estava surpresa por ver Aué ali.
— Você me seguiu? Aqui não é sua área de caça.
— Não mesmo, mas eu ouvi um barulho estranho e já sabia que estava para chegar depois que vi a coisa de metal chegar no seu território. Assim vim, fiquei curiosa.
— Graças aos deuses pela sua curiosidade Aué! Eu preciso de ajuda.
— E quando você não precisa, humana? Sempre me pergunto como deve sobreviver na sua selva de pedra que tanto fala. É uma filhote tão tapada.
— Ei!
Eu torci o nariz, ela sempre falava assim de mim, onça irritante!
— Mas me diga, são para comer? Eu já cacei, mas sempre tem espaço no meu estômago, você sabe.
— Não, não são de comer, eu preciso levar eles para casa, Aué!
— Boa sorte, filhote, parecem pesados para você.
— Mas é aí que você entra, podemos...
— Nada disso, sua caça, sua tarefa.
— Eles não são de comer! E não são minha caça.
— É verdade, você não come carne boa, só aquela coisa gosmenta e queimada.
— Deixa para lá, vou pensar em alguma coisa.
— Estão vivos?
— Sim.
— Então faça eles andarem. Simples.
— Mas eles estão desacordados!
— Acorde-os horas! Cada tempo que passa você fica mais obtusa, filhote.
Aué teve a cara de pau de rir de mim, eu evitei rosnar, onça irritante.
— Meu deus!
O gritinho não muito discreto e másculo, agudo o suficiente para entrar no meu crânio e doer, veio do meu lado. A primeira coisa que me dei conta: A língua era coreana. Segunda coisa, eu conhecia aquela voz escandalosa.
Abri meus olhos assombrada e atordoada, me virando lentamente e encarando o baixinho sem de fato acreditar que era ele. Não podia ser, podia?
— Baek?
— Quem é você? Você me conhece? Onde estamos? Por que diabos tem um bicho desse do seu lado e por que você estava fazendo esses barulhos estranhos? Eu morri? Nós morremos, isso aqui é uma floresta? Ahhhhhhh!
Ele tentou se levantar e se deu conta que estava muito tonto para isso. Eu segurei o ser escandaloso antes que caísse de cabeça no chão.
— Boa sorte! Eu vou ficar assistindo dali.
E Aué saltou para uma árvore próxima e se aconchegou no tronco deixando o rabo longo movimentar lentamente de um lado para o outro enquanto Baekhyun continuava em seu surto psicótico pós-traumático.
Eu suspirei, pelos deuses! Eu salvei o EXO? Sério?
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3º Filha
Fiksi PenggemarEla seria uma garota comum, se não pertencesse a uma família tradicional de bruxas e se não acabasse sem querer salvando o EXO de uma queda de avião no meio da floresta amazônica. Eles cruzavam o seu destino ou ela entrava no deles para mudar a vida...