Templo

234 39 1
                                    


  A viagem foi tranquila, sem tensão, sem ataques, pacífica em minha opinião, entretanto não consegui relaxar ou me divertir como os meninos acabaram fazendo, para meu alívio.

Ao menos eles conseguiram relaxar depois de tantas coisas pelo que passaram, eu ficava realmente feliz com isso, contudo minhas preocupações eram muitas para que eu também relaxasse.

Lay ainda sentia dor caso não estivesse com as ervas que aliviavam as dores e aquilo me preocupava, talvez a ferida fosse mais profunda e tivesse danificado algum nervo, eu não sabia, talvez ele nunca mais pudesse dançar e eu sabia como a dança era importante na sua vida, eu tinha tranquilizado ele dizendo que estava tudo bem, mas eu não tinha certeza e essa incerteza sobre seu estado real me deixava com os nervos em frangalhos.

Nós três dividíamos a cabine e até namorávamos um pouco, mas nada como a noite que passamos em Caracaraí, eu estava muito tensa e em alerta para isso e pelo menos eles me compreenderam. Os outros meio que se deram conta de que que estávamos, os três, de certa forma juntos, e fosse porque se divertiam no barco ou por se sentirem mais entrosados comigo e com minha irmã, pareciam não se importar muito.

Eu ficava mais tranquila sobre aquilo também. Os meninos perceberam sobre minha irmã e Min, porque embora o mais velho fosse discreto, os olhares dele para minha irmã eram denunciadores e os sorriso dela para ele não eram muito discretos também. Eu sabia que eles estavam tendo meio que uma lua de mel no barco. Eu ficava feliz por eles.

Na última noite minha irmã finalmente conseguiu falar com nosso tio. Para nossa felicidade ele estava em casa e garantiu que ia tentar ajudar, quase virei uma poça de alivio na proa do barco. Seguindo nossa má sorte na estrada, eu achei que também íamos ter problemas em encontrar o tio em casa. Afinal era quase Solstício de verão, eles e seus companheiros deviam...

Me dei conta de algo muito importante que tinha praticamente ignorado até ali.

— Laine?

Minha irmã estava assim como eu, debruçada no parapeito do barco encarando o céu começar a clarear lentamente. Era madrugada, e nós tínhamos acordado cedo para ter certeza que íamos aportar certinho. Meu tio disse que ia mandar Sebastian e Rafael para nos buscar, eu sorri ao pensar nos dois faz tudo do meu tio.

— Oi, Lulu.

— Nos esquecemos de algo muito importante, bem... Ao menos para os meninos, afinal eles são coreanos e a sociedade deles é muito patriarcal e...

— Se esqueceu sobre nosso tio ter três maridos, irmãzinha?

— É que é tão normal para mim que e eu meio que esqueci.

Suspirei. Nossa família tinha relações poligâmicas, na maioria das vezes com seus consortes destinados. Algumas, no entanto, era por amor mesmo e tio Ali amava absolutamente tio Angel, Kami e Hiata. E eu praticamente cresci com eles, tio Ali nos tinha como filhas e eu passava muitos verões com eles.

Suspirei outra vez, eles já tinham visto coisas estranhas, não seria aquilo que ia chocá-los mais, não é?

— Relaxe, meu amor, eles estão mais relaxados ao nosso lado agora, vão lidar com isso bem. Mas me conte, não é só isso que te aflige, não é?

Minha irmã olhou dentro dos meus olhos e eu abaixei os meus. Ela era tão perspicaz, e eu uma péssima mentirosa.

— Lay pode ter se machucado mais do que acredito, ele não reage bem sem as ervas, acho que algum nervo deve ter sido afetado permanentemente, é só uma desconfiança que não me deixa em paz, Laine, a dança é muito importante para ele, não posso deixar que isso aconteça, eu tenho pensado... Sabe, naquilo.

3º FilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora