Estrada sombria

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Ele se deu conta que dormiu, quando um solavanco o despertou.

Kai olhou pela janela e viu que a floresta já não estava tão escura, mas também ainda não era dia. O jipe ia na frente devagar e eles seguiam o ritmo. Ele olhou para trás e viu que os dois dormiam. Lu ao seu lado murmurava algo em português, mas não era música.

— Está tudo bem?

Ela assentiu embora continuasse a manter os olhos na trilha que sinceramente ele não conseguia distinguir. Não parecia que ela estava bem, na verdade ela parecia bem preocupada. Ele suspirou.

— Me fala, qual é o problema Lulu?

Ela parou de murmurar e deixou os ombros caírem.

— São quase quatro horas da manhã, estamos nas profundezas da parte velha da floresta, é uma hora sagrada por aqui, o orvalho começa a surgir, a natureza começa a acordar, não é bom incomodar os espíritos da floresta...

— Espíritos da floresta...?

Ele não gostava daquela palavra, por algum motivo sentia que significava problemas. Já tinha aceitado que coisas estranhas aconteciam ali e ao redor das irmãs, coisas que fugiam do mundo real, mas que estava nele de alguma forma. Era esquisito. Mas tinha aceitado, principalmente porque sabia que se queria ela, teria de aceitar as coisas que vinham junto.

— Eles ficam mais fortes perto dos Sabbats e estamos próximos de um, além disso podemos encontrar garimpeiros no caminho, eles não respeitam a floresta, são geralmente pessoas ambiciosas, cegas por ouro, nada bom. Os espíritos ficam bravos e...

O jipe a frente parou e Luana teve de parar também. Ela apertou o volante e ele sentiu que havia algo errado.

Espíritos da floresta, garimpeiros maus, problemas, sua mente começou a enumerar, contudo teve de parar quando a irmã da sua garota surgiu na janela dela.

Elas passaram a falar em português rápido e ele ficou ainda mais tenso, podia não entender o que diziam, mas tinha quase certeza que eram problemas, bem ruins. Por fim Luana se virou para ele e o encarou firme.

— Se eu te disser que seria melhor permanecer no carro você ficaria, ou faria como Minseok e iria querer nos seguir?

— Min?

Ele se deu conta que seu young estava ao lado da irmã dela naquele segundo. Ele tinha o semblante preocupado e sério. Kai estreitou os próprios olhos e soube que independente do que fosse iria com elas.

Ele saiu do carro evitando bater à porta para não acordar os outros e contornou a frente até ficar ao lado do mais velho.

— O que você...?

— Não vou deixá-las sozinhas.

— O que houve?

— Você vai ver.

E Lu passou por ele segurando sua mão e indo atrás da irmã.

Ele percebeu duas coisas ali, uma era que adorava realmente quando ela o tocava por si mesma, mesmo que estivessem no meio de uma floresta assustadora. Segundo era que a irmã dela segurava a mão de Min... Ou, ele era quem fazia porque era visível a forma em que ele se mantinha ao lado dela, de forma quase protetora. O que andou se passando, que ele não percebeu? Seu young era sempre tão calado, silencioso, tímido, Kai nunca o viu tocando nem mesmo as fãs sem que elas tentassem tocá-lo antes. Será que aqueles dois...?

— Kai!

E Luana o puxou fazendo o parar no nada.

Ele ia perguntar o que houve quando se deu conta de que estavam à beira de um riacho raso que ele quase pisou e que nele três homens estavam jogados de forma estranha e tinham os olhos abertos, a boca aberta e pareciam gritar horrorizados. Ele deu um pulo para trás assustado.

3º FilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora