Fuga

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Eu tremia entre a tensão e o medo. Minha irmã surgiu ao meu lado e como sempre sabia esconder seus sentimentos bem melhor do que eu. Eu até podia tentar, mas não conseguiria porque a fonte de meus piores medos estavam ali, onde jamais pensaria que estaria um dia.

Eu e Laine chegamos a menos de três metros delas e Laine apontou para o carro, séria.

— Desnecessário, não acham, Maldova?

— Acha mesmo, Meirelles? Eu não acho, afinal saíram da floresta carregada de prêmios e nem iam dividir, sorte a nossa que mamãe tem excelente percepção do espelho, daí soubemos que nossas queridas primas distantes do Sul receberam dos céus nove jovens homens bonitos as vésperas do Solstício de verão. NOVE...

Tália, a irmã mais velha das duas, sorriu irônica e eu evitei socar alguma coisa, droga, eu absolutamente odiava bruxas que se valiam da beleza de glamourização para seduzir homens e ganhar energia, eram como sanguessugas roubando energia alheia para ficarem ainda mais bonitas.

Ela e sua família sempre tentavam ficar longe delas, mas as Maldova pareciam tubarões atrás de um ponta de sangue para vir dar o bote. E como de acordo com as leis da roda da vida, magia era magia, não havia lado, não podiam levar elas para um julgamento, apenas podiam manter distância. E a verdade era que os meninos não foram os únicos que elas já salvaram da floresta, a diferença era que com eles era pessoal, para sua família.

— Eles não são da sua conta, Tália, são nossos protegidos, então esqueça-os e vá embora, eu não quero que haja problemas...

— Mas nós queremos problemas, priminha, dirigimos por horas para alcançar vocês, podemos repartir e então, não causaremos problemas maiores, são nove, vocês podem nos dar dois, certo?

Disse Telma, a mais jovem e na minha opinião, mais cínica. Era por causa de bruxas como elas que o mundo era um pouco mais problemático. Eu bufei.

— É o seguinte, priminhas, eu estou cansada, irritada e nenhum pouco afim de ficar discutindo no meio da estrada. Caiam fora e parem de encher meu saco ou eu vou apelar. Pessoas não são coisas para serem usadas, eu sou obrigada a aturar vocês nos encontros anuais por educação, mas não no meio do nosso caminho, então de verdade, caíam fora, agora.

Elas me encaram assustadas, afinal eu meio que enlouqueci, confesso, mas tratar pessoas boas na minha frente como se fossem sacos de diversão apenas me enlouquecia. Tália veio sobre mim furiosa, mas minha irmã entrou no meio e parou o corpo da outra com o braço.

— Parem agora. Vão embora, por favor.

A voz de Laine soou calma, serena, mas sem indução, afinal não funcionava com bruxas de espelho, elas usavam glamour, aquilo era magia não natural, por tanto nada que fosse magia de ordem, funcionava nelas, sempre refletiam.

— Ah, não mesmo, agora é pessoal.

Telma veio também, mas dessa vez fui mais rápida que as três, me concentrei falando na língua das cobras e torcendo para que elas me ouvissem, ao mesmo tempo que tirava meu átame da bota, agachava e me levantava circulando Telma com o braço e colocando o átame do pescoço dela.

— Se aproxime deles e eu vou fazer isso, sabe, eu fui iniciada, priminhas, e agora essas ameaças não me assustam mais.

Era mentira, mas eu fingi muito bem naquele segundo, sabia que o elemento surpresa era o melhor e eu tinha treinado alguns golpes durante o ano, Mônica tinha me feito aprendê-los por segurança, mas jamais imaginei usar, quem diria... Eu estava ficando mesmo selvagem.

3º FilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora