Véu, ceda e magia

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 Me olhei no espelho e sorri. Minha mãe veio até mim afofando a saia ampla do vestido de noiva costurado em menos de vinte horas pelos meus tios. Eu cobri o véu em meu rosto e desvie meus olhos para os da Mônica de braços cruzados sentada no pufe do meu quarto ainda infantil, decorado em rosa e branco, cheio de estrelas no teto que brilhavam a noite. Sem lua, afinal a brincadeira da família era que eu era a lua, a pequena lua da família.

— Você já os ameaçou, Mônica, todos já estão avisados e com medo de você, então pode tirar essa cara assassina e sorrir? Só um pouco?

— Eu não vou sorrir quando minha irmãzinha está prestes a se casar com dois japinhas metidos a artista do outro lado do globo.

— Coreanos, Mônica, coreanos.

— Que fossem tailandeses, ainda assim não importa. O fato é que eu deveria ir junto, acho que posso transferir a minha...

— Nada disso! – Minha mãe resmungou ainda corrigindo imperfeições inexistes no meu vestido – Não carregue com energia negativa o alinhamento planetário que estamos pressentindo, ok? Sua irmã foi agraciada pela deusa escarlate, aqueles meninos pertencem a ela e você precisa aceitar, eles são novos, filha, tudo vai entrar na órbita certa com paciência e meditação. Vênus está caminhando para entrar em virgens, é um excelente momento para uniões múltiplas, vamos apenas assistir e contemplar.

— Ok, e se não der certo? E se minha irmãzinha inocente vai para Mongólia, faz toda essa mudança e daí eles descobrem que cansaram, que querem outra garota e a abandona? Eu vou ter que sair daqui e ir até lá queimá-los? Sabe quanto de tempo eu iria perder, mamãe? Não, ainda acho errado! Eles não merecem a Lulu.

Eu suspirei, ergui a barra do vestido e fui até minha irmã chutando pouco delicadamente sua canela.

— Primeiro, sua neurótica, é Coréia não Mongólia, segundo se o que você teme, acontecer, eu volto para casa e fim de caso, terceiro, nem brinque sobre fogo e essas coisas, você sabe que é descontrolada quando está brava e quarto, mas não menos importante, você vai entrar lá naquele jardim Mônica e vai sorrir para meus noivos e seus amigos de uma maneira bem legal me ouviu? Não seja chata, eles já estão nervosos com tudo isso, embora foi Lay quem insistiu, não piore a situação, eu só quero me divertir um pouco antes deles irem embora, ok?

— O que você quer dizer com isso, Luana?!

Eu rolei os olhos.

— Vou dançar, ficar com meus noivos, comer e me divertir, simples, dá para parar de pensar desse jeito, não vai acontecer ok? Eles não pensam assim, não é porque eu estou me casando que eu vou ter lua de mel de verdade sua exagerada! Ainda não temos esse tipo de intimidade.

— É bom mesmo, porque se não, eu juro que vou lançar uma maldição naqueles Filipinos!

— Esquece!

Eu dei as costas a ela na mesma hora em que tio Ali entrou vestido em um traje completo tradicional marroquino negro e dourado, com direito a turbante e anéis egípcios.

Ele sorriu ao me ver, abraçou minha mãe mais uma vez, ela tinha chegado poucas horas antes, mas eles tiveram pouco tempo para conversar e quase não se viam, embora tio Ali a considerasse como uma irmã menor. Depois, veio até mim e pegou em minha mão direita com cuidado para não borrar as tatuagens de henna e a beijou suave.

Fui coberta de símbolos celtas, árabes e indianos. Meus pés e mãos estavam decorados e eu era uma mistura de vários estilos que no fim, parecia uma modelo exótica de noiva da vogue. Eu não entendia muito de moda, era desligada, mas meus tios davam tantos pulinhos eufóricos juntos as empregadas que comecei a acreditar, além disso tinha meu cabelo trançado em diversas e finas tranças egípcias decorado com minúsculas flores debaixo do véu transparentemente dourado, bordado com fios de ouro em toda a borda.

3º FilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora