O trio

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Kai acordou ouvindo uma música suave, acompanhada de flauta e risos baixos. Por algum mistério ele reconheceu a voz, já tinha ouvido ela cantar antes e tinha que admitir, gostava da voz dela.

Se levantou com cuidado para não acordar os outros e mais uma vez seguiu pelo corredor até a sala.

Parecia bem diferente da noite anterior.

As janelas, três, estavam abertas deixando entrar a luz do dia, o sol e alguns passarinhos que sobrevoavam o parapeito e depois partiam. Não havia mais velas, nem círculo, e nem Lay, o que o assustou um pouco. A porta de madeira pesada também estava aberta e curioso, seguiu por ela para finalmente conhecer o lugar do lado de fora.

Era gramado, amplo e tinha um grande poço na lateral, perto de uma árvore imensa que tinha um balanço alto. A floresta seguia alguns metros à frente, cortada apenas por uma estrada de terra com algumas pedras achatadas. A música vinha do fundo da casa e ele seguiu a parede de pedra que era ladeada pelo o que parecia ser uma grande horta de ervas que ele não fazia ideia quais eram e alcançou o que deveria ser uma cozinha aberta. Era coberta por estruturas de madeira, mas não tinha paredes.

Ali, sentada diante de uma mesa longa, uma das irmãs da Luana amassava o que ele pensou ser alguma massa de pão. A outra misturava algo em uma vasilha grande de barro e ela, com os cabelos volumosos presos em um coque frouxo, cortava o que ele pensava serem frutas, umas ele conhecia, outras não. As três cantavam enquanto uma das tias, diante do fogo alto, onde um caldeirão estava equilibrado por um tripé de ferro, misturava algo com cheiro muito bom na imensa panela. Aquela devia ser a tia que não viu na noite passada, ela tinha cabelos mais claros, como a irmã mais velha, e era a mais baixa, embora todas eram altas, na sua opinião.

Ao longe, um jipe verde estava estacionado ao lado de uma caminhonete preta. E perto deles estava a banheira ofurô que ele encontrou com água quente no banheiro na noite anterior.

— Bom dia, Kai - Ele se virou e a garota estava ao lado dele. Ele deu um passo para trás assustado. Como era ela silenciosa! Ela riu e apontou para a mesa – Gosta de biscoitos com chá?

— Não s-sei.

Gaguejou antes de se xingar mentalmente. Droga, era um idiota mesmo.

Ela riu de novo e para sua surpresa o pegou pela mão levando-o até a cozinha aberta e o soltou diante de um dos bancos. A mão dela era quente e macia. Ele piscou, mas ela já mexia em algum pote grande do outro lado. Ele olhou para a irmã mais próxima, a de olhos verdes e ela lhe sorriu.

— Speak English, Kai?

— So so... Ah, not very well.

Sinceramente sabia que inglês também não era seu forte, e ela assentiu. Ela apontou para cima e ele ergueu os olhos vendo vários pássaros pousados na viga central do lugar. Eram coloridos, pequenos e assim que ela assoviou suave, eles passaram a cantar. Ficou encantado, devia ter mais de vinte passarinhos ali e todos formavam um arco íris animado.

— Eles gostam da minha irmã, assim que cantamos de manhã eles vem e cantam para nós também, é um costume quando estamos todas juntas aqui. Logo outros aparecem, é divertido. Agora coma e vê se gosta.

Ela colocou um pratinho na frente dele e uma xícara. O cheiro do chá lembrava maçã. Era gostoso.

— Que chá é esse?

Perguntou enquanto sentava e beliscava o biscoito em forma de estrela.

— Maçã e canela. O biscoito é de banana.

3º FilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora