O Caminho

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Ele despertou sentindo que todos os pontos do seu corpo doíam, era horrível. Só que nada se comparava a bola de fogo que explodia ao longe deles clareando assustadoramente a escuridão. Ouviu a voz de Baek reclamando e seus olhos foram atraído para seu entorno.

Os membros estavam ali, alguns acordavam com o barulho da explosão, outros permaneciam imóveis no chão gramado e a garota que ele pensou ser fruto da sua imaginação também estava ali, ao lado de Baek e parecia tentar acalmá-lo. Ergueu os olhos e percebeu que estavam no meio de uma... Floresta?

— Quem é você?

A voz de Suho soou fraca, Kai se virou e viu o líder se erguer com a mão no braço. Ele estava perto, então pode ver o braço dele enfaixado, mas que ainda sangrava. Ele estava ferido!

— Onde está o manager?

A pergunta dessa vez, veio de Min, que já estava de pé e olhava para os lados. Parecia preocupado. Ele não perguntava para ninguém em especial, mas ela respondeu, com uma voz surpreendentemente serena.

— Não há mais ninguém vivo. Só vocês, me desculpe, mas não pude tirar todos os corpos do avião, eu não fazia ideia que ele ia explodir. Me desculpe.

Ela falava em tom muito formal e em um coreano perfeito, só que Kai, mesmo que o lugar não fosse bem iluminado, viu que ela não era coreana. Aliás ela era alta, tinha os cabelos bem compridos e definitivamente era ocidental.

Min suspirou e se aproximou dela, parecia muito preocupado.

— Onde estamos?

— Norte do Brasil, Floresta Amazônica, quase na fronteira com a Venezuela, Serra do Aracá.

— Deveríamos ter chegado em Bogotá...

— Se seu piloto não era experiente, pode ter de fato perdido a rota, estamos próximos da linha do equador, muitas turbulências cobrem esse céu.

— Você mora aqui?

— Não, mas venho de vez em quando, minha família tem uma cabana não muito longe de onde estamos agora. São sete horas subindo o rio e atravessando uma montanha, mas um de vocês está muito ferido, demoraremos mais tempo para voltar.

— Ela fala com aquilo!

Baek interrompeu a conversa dos dois e apontou para uma árvore próxima. Kai deu um pulo assustado, um imenso felino de olhos brilhantes estava deitado sobre um tronco baixo e os encarava fixamente.

— Baek, eu já lhe disse, ela não vai atacá-los, ela sabe que não são comida. Aué é amiga.

— Você é amiga de um gato desse tamanho?

— Ela é uma onça.

E a garota suspirou balançando a cabeça.

Kai tentou ver mais dela, só que a luz da explosão diminuía e sua visão foi escasseando também. De repente ela olhou para o céu e parecia falar sozinha. Estranha.

Por fim ela foi até Min e estendeu a mão.

— Eu me chamo Luana, aparentemente serei a guia de vocês até um lugar seguro. Você é o mais velho, você decide se esperamos o dia nascer para ir, ou vamos agora. Temos um ferido que vai precisar ser carregado, vamos precisar fazer uma liteira para ele, pois a perna está inchada demais e ele vai passar dor se for carregado nas costas, eu posso tentar fazer com alguns escombros, mas vai demorar, de toda forma você é quem sabe. Permaneçam juntos pois a floresta não conhece vocês e tem animais perigosos por aqui – Então ela apontou para o avião, ou o que foi um avião um dia – Eu vou procurar algo que sirva, vocês ficam aqui. Fiquem juntos.

Ela pediu de novo antes de ir em direção as chamas quase se apagando. Kai de repente teve a noção de que seu manager estava morto, engolido pelas chamas e que estavam de fato, sozinhos em uma floresta com uma garota como guia, uma garota não coreana que falava coreano, no meio de uma floresta do outro lado do mundo...

Aquilo seria um pesadelo?

Eu tentava me acalmar, precisava manter a cabeça fria e levar eles para um lugar seguro, tinha plena consciência disso, entretanto duas coisas me perturbavam, e muito. Uma era que o EXO estava diante de mim, os nove membros e todos eles agora eram minha responsabilidade, se um deles não voltasse para casa, eu seria a primeira que iria me odiar, fora os milhões de fãs pelo mundo.

A segunda coisa era que Baek fazia justiça as musiquinhas que colocavam na internet como fundo musical dele. Pelos deuses, como ele era estrelinha! E pior, escandaloso, nem meu melhor amigo da escola, que era gay escrachado, era tão escandaloso! De repente a música da Rosana, que sua mãe tanto gostava, começou a soar em sua mente, Baek era como uma deusa, de fato.

Então riu, tanta coisa para pensar e ela ali ironizando a vida alheia.

— Se concentra Lu, se concentra!

Disse a mim mesma procurando alguma coisa que pudessem usar como liteira. Mais uma vez os deuses da sorte estavam ao meu lado, encontrei uma placa de metal com alça e tecido grosso e mais outras coisinhas. Serviria.

Voltei arrastando o que poderia tornar a viagem do membro da minha boyband coreana favorita que estava muito machucado, menos ruim. Quem era? Eu estava tão nervosa na hora que nem reparei em quem era o dono da perna ferida...

Então o som da discussão entre eles chegou até mim e eu lancei um olhar avaliativo para os cinco acordados. A lua voltava a brilhar bastante e iluminava mais uma vez o lugar. Tinha chegado próxima o suficiente para reconhecer que era Min o que estava vestido em um macacão jeans grosso. A queda ao menos não destruiu a roupa dele. Baek usava uma roupa fitness, que seria ótimo para um lugar seguro ou para academia, mas péssimo para a floresta, ainda bem que estava de tênis. Kai estava de bermuda e camisa polo, outra roupa que seria um problema assim que entrassem na mata fechada, e ainda pior era o sapato chinelo que usava. Já Suho, que era o dono do braço machucado, estava bem coberto, jeans e camisa grossa e coturno. Por último eu vi Chan, tinha que ser ele pois era alto e ria. Só ele iria rir em uma tragédia. Ele também usava roupas fechadas. Menos um problema, pensei.

— Estamos em um país estranho, no meio da floresta seu idiota! Ela é quem pode nos tirar daqui então pare de dar piti e seja racional.

— Baek, ouça o young, a onça não se moveu, ela não vai atacar.

A voz de Suho era séria. Puxa, ele era mesmo sério.

— Fala isso porque não viu as duas conversando!

— Você bateu a cabeça, está delirando, vamos, sente-se e acalme-se.

Min deu um tapinha no ombros de Baek e ela respirou aliviada, sim, era a melhor solução, se eles soubessem que de fato falava com felinos, eles podiam enlouquecer como o Baek, assim ia seguir a ideia do mais velho e dizer que o escandaloso bateu a cabeça.

Se aproximou mais, entrando no campo de visão deles e colocou as coisas que trouxe no chão se voltando para o mais velho deles, Min.

— Dentro da minha mochila tem água, bebam com moderação, não sabemos se vamos precisar de mais em breve. Eu vou fazer uma liteira improvisada. Vocês, por favor, verifiquem se os outros estão bem. O dia nasce em menos de uma hora, não temos tempo a perder se quisermos fugir do calor excessivo da tarde.

E eu me curvei sobre a improvisada cama de metal esperando que ela fosse o suficiente.

"Puxa, tia, isso é um teste de se vire na selva e faça você mesmo?"

Por que aquilo que estava acontecendo era maluco demais para ser só coincidência... Devia ser sua prova e se não fosse ia reclamar até ser, óbvio claro, se conseguisse levar todos inteiros até o outro lado do vale.

3º FilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora