Floresta de outro ângulo

329 53 13
                                    


— Vamos pescar?

Minha irmã falou assim que todos comeram e os meninos passaram a conversar mais descontraídos entre eles.

Tínhamos que pescar, ou não teríamos almoço.

Também precisava conversar com eles sobre o tempo que precisariam esperar até que as estradas fossem de novo transitáveis, mas eu queria esperar mais um pouco, não queria estragar o bom humor súbito geral.

— Eu vou, Laine.

— Leve os meninos juntos, para que passeiem também. Eu cuido de Lay.

— Não, deixa que eu cuido dele. Vão as duas, vocês pescam melhor juntas, Luana é distraída e se for sozinha nós só vamos almoçar amanhã.

Mônica disse rindo, eu bufei.

— Afff Mônica, deixa de ser chata!

— Estou falando a verdade, vão, vão, e levem os japinhas com vocês.

— São coreanos!

— Para mim são todos iguais. Tudo a mesma cara.

Mônica deu de ombros e eu suspirei.

Ainda bem que eles não entendiam o português, porque minha irmã do meio era delicada como um manada de javalis.

— Então vamos nós!

Laine se levantou da mesa e piscou para mim, agarrou a saia com as duas mãos para facilitar os movimentos e saiu correndo da cozinha em direção a trilha que levava a cachoeira, rindo. Os passarinhos revoaram todos juntos e ela riu ainda mais alto desaparecendo pela trilha. Eu me levantei rindo também e me virei para os outros.

— Estamos indo pescar, quem quiser me siga. A trilha é fácil por isso não se preocupem. Vamos?

E eu fiz o mesmo que minha irmã, segurei a barra da saia e corri para a trilha. Ao longe eu ouvia a voz dela cantando em gaélico... Sorri, Laine adorava correr, assim como eu.

E eu respondi cantarolando em contracanto para ela a mesma, então vi Aué surgir na trilha e piscar para mim correndo ao meu lado, antes de desaparecer de novo.

O sol entrava por frestas através das altas árvores, os passarinhos ainda revoavam sobre as copas, e eu cruzava os troncos, a trilha, as plantas rasteiras como uma corça, Aué também nos seguia embora eu não pudesse mais vê-la, todas nós três riamos. A voz da minha irmã foi ficando mais alta, eu passei a segui-la, os sons da floresta também ecoavam o mesmo som.

Quando finalmente alcancei a grande cachoeira larga e farta, minha irmã já estava entrando nela, ela me chamava sorrindo e eu a segui animada, nem sempre estávamos juntas, e eu queria aproveitar o máximo que pudesse. Porque eu era a água e ela a terra, as manhãs orvalhadas, como aquela, sempre nos faziam animadas e contentes.

Eu espatifei água em nós duas e ela devolveu em mim.

Rimos e bagunçamos até ela começar a erguer as mãos chamando os peixes. Era aquilo que eu gostava de ver, o efeito hipnótico me afetava um pouquinho também, mergulhei na parte mais profunda e sai da água junto com o bando de peixes que saltaram para a aba da saia da minha irmã, que ela segurava como uma pequena bacia. Por que as saias da minha irmã sempre tinham tipo mil metros. Era só pano.

Eu saltei mergulhando de novo e jogando mais água nela. E mais peixes, a maioria eu espantei, como sempre, e nós rimos de novo.

— Se quiser comer vai ter que cooperar, sua bagunceira!

3º FilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora