Mesmo sendo "adultos", somos adolescentes

Festa do caos - Parte 3 (Mariana Marques)

Assim que cheguei no salão com aquela quantidade inesperada de gente, reparei que havia uma delas que não estava por lá. Comecei a procurar pela casa por algum sinal de Marcos quando me ocorreu onde ele poderia estar.
Poucos minutos depois eu estava abrindo a porta do estúdio de fotos e, como eu imaginava, ele se encontrava de pé olhando as fotos coladas na parede.
Parecia especificamente interessado em uma foto em que ele me segurava no colo em um dia que fomos todos à praia. A foto tinha sido tirada pela Maia quando ele estava brincando de me jogar na água.
Marcos: Pensei... Pensei que talvez... Você tivesse rasgado essas fotos... - ele disse e sussurrou logo depois: - fotos nossas.
Ele falou tão baixo a última parte que precisei me aproximar alguns passos para poder ouvir.
Mariana: São fotos muito boas e eu gosto delas. - respondi francamente. - Não preciso me desfazer delas para entender que não tenho mais nada com você.
Ele se virou para com os olhos brilhando um pouco e suspirou.
Mariana: Além disso - falei me aproximando do meu mural. - são lembranças felizes. Prefiro me lembrar de vocês enquanto estávamos sorrindo do que quando estávamos chorando, sabe? - dei um pequeno sorriso de lado.
Marcos: É uma forma bem simplificada de ver as coisas...
Mariana: Bem... Você sabe o que eu penso. Os sentimentos já são bastante complicados por si mesmos, colocar a complexidade deles em palavras só os fazem parecer maiores do são.
Marcos: Você tem um jeito bem modesto de mostrar como está certa em relação a tudo. - ele soltou um barulho esquisito que foi uma mistura entre uma risada é uma fungada.
Sem que eu tivesse muito controle, uma lágrima caiu dos meus olhos.

Já está anoitecendo e logo eu teria que voltar para casa, mas estava determinada a convencer o Marcos a desistir da ideia maluca de ir naquela maldita festa.
Eu sabia que ele só queria fazer aquilo para ajudar o Guilherme, mas era arriscado demais e eu estava morrendo de preocupação. Não era um lugar seguro para ir e um monte de gente era presa o tempo todo por lá. Como se não bastasse isso, ele ainda estava arrastando o irmão mais velho dele, Rodrigo, junto.
-Amor, por favor, me escuta. Se o Gui está determinado a fazer essa besteira para bancar o herói eu não posso impedi-lo, mas coloca na sua cabeça que você também não pode!
-Ele é meu amigo e está passando por uma barra, eu preciso ajudar. Não se preocupe comigo, está bem? Vai pra casa que amanhã eu mando notícias.
Ele me deu um selinho e ouvimos o irmão dele chamar no andar de baixo. Marcos beijou a minha testa, pegou a jaqueta e saiu de casa.
Eu voltei para minha e passei a madrugada inteira acordada, esperando ele dar sinal de vida, mas nada aconteceu à noite inteira. Quando fui visita-lo, só no dia seguinte, é que eu soube o que tinha acontecido naquela festa.
Quando a polícia chegou na porta do lugar, um cara tentou se livrar das drogas que estava traficando entregando-as para o Marcos. O Rodrigo, que viu quando um policial se aproximava, pegou tudo e seu afastou. Ele foi preso em flagrante por tráfico.
Alguns dias depois, ele foi julgado e condenado a 10 anos de prisão.

Marina: Como ele está?? - perguntei baixinho.
Marcos: Sobrevivendo. Visito ele todos os sábados e, não sei como, nem ele nem os meus pais me culpam pelo que aconteceu com ele quando, para evitar tudo, eu só precisava ter feito uma coisa: escutado a minha namorada.
Mariana: Aquilo não foi culpa sua. Você só queria ajudar um amigo e...
Ele limpou o rosto na manga da camisa e eu percebi que não poderia falar nada para melhorar a situação. Me aproximei timidamente e o abracei.
Marcos: Você conseguiu ficar ainda mais bonita, sabia? - ele perguntou fungando.
Eu soltei uma risada enquanto enxugava as minhas próprias lágrimas do rosto.
Mariana: Deixa de ser bobo. - eu falei com um sorriso fraco molhado pelo choro que parava aos poucos.
Me afastei um pouco, mas ele me segurou e ficamos nos encarnando por uns minutos que pareceram a eternidade.
Marcos: Como é que eu fiquei esse tempo todo sem você?
E, sem aviso prévio, colocou as mão no meu pescoço e me beijou.