Como ela não me contou? (Milena Vargas)

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Ele continuava exatamente do mesmo jeito que era há 4 anos atrás da última vez que o vi. Olhos esverdeados, o cabelo loiro e tudo exatamente do jeito que era se não fosse por um pequeno detalhe: agora ele era ninguém menos do que o colega de trabalho da minha irmã.
Me virei lentamente na direção da Mia que me encarava completamente apavorada e então olhei novamente para o Bernardo. Pelo visto ele havia conseguido se tornar o professor que sempre quis ser, não que alguma vez eu houvesse duvidado de que ele conseguiria, sempre foi tão inteligente.
Os dois pareciam esperar que eu determinasse como a cena se desenrolaria e, é claro, esperando que eu fosse explodir a qualquer momento. Não podia negar que eu estava brava, não, eu estava morrendo de raiva, mas nada se comparava a decepção de constatar que a Mia teve um mais de mês para me contar isso e preferiu não contar.
Mia: Mi...
Milena: Não fala. - estava tão brava que até eu mesma me surpreendi com a minha voz. - Não se atreva a falar nada.
Umedeci os lábios sem saber o que fazer ou dizer a seguir. Não tinha coragem necessária para encarar Bernardo cara-a-cara. O choque aos poucos foi passando, cedendo lugar a raiva. Uma raiva cega e descompensada que eu não podia e nem queria controlar. Minha própria irmã escondeu de mim nada menos do que o meu ex-namorado. Nossa! Eu devo ter feito algo realmente horrível para merecer um momento constrangedor como esse.
Comecei a me perguntar se eles, em algum momento, falaram sobre mim. Não coisas do tipo como anda a minha saúde, mas coisas um pouco mais vergonhosas da época da escola. A verdade é que o Be foi o meu primeiro (e único) namorado e eu nunca sabia bem o que fazer para manter o que se chama de relação saudável. No primeiro ano eu me saí muito bem e comecei a ficar um pouco mais confiante o que, claramente, foi um erro.
Me virei na direção da Mia apenas por conseguir olhar para ela e me manter furiosa sem grandes riscos.
Milena: Como você pôde me esconder isso? - e sai andando sem olhar para trás.
Cheguei no carro, entrei e bati a porta com força. Sai andando meio no automático e só percebi para onde estava indo quando senti lágrimas queimando nos meus olhos.

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