Encontro inesperado (Victor Moraes)

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Sinto os braços de Luiza me apertando cada vez mais forte, mas a única coisa que sou capaz de fazer é olhar completamente aterrorizado para a Maia, que me encara com tanto pânico quanto eu.
Percebo os olhos castanhos dela olhando ao redor e parando em algum ponto nas minhas costas com certa dificuldade, já que não desliguei os faróis quando desci pensando que tinha machucado a Luiza. Só agora reparo o quanto seu cheiro me lembra da Isabela, ela geralmente usava apenas um perfume específico, mas nunca o emprestava a ninguém. Talvez tenha mudado agora, já faz tanto tempo...
Quando o emaranhado de cabelos castanhos lisos me solta, consigo perceber alguns arranhões em seu braço e, mesmo que Luiza não pareça sequer ter percebido a existência deles, digo:
Victor: Você tá se sentindo bem? Precisa de um curativo ou qualquer coisa? - disse, enquanto ajudava-a a se levantar.
Luiza: Que nada! Eu estou ótima!!
Nos encaramos por um tempo e ela me abraçou de novo, desta vez, porém, cedi e abri um sorriso para seu entusiasmo. Agora eu estava de costas para a Maia, podia imaginar que estava começando a se recuperar do choque inicial de ter encontrado com a Luiza, para ela deve ter sido muito confuso se reencontrar com ela tanto tempo depois de terem parado de se falar.
Quando nos soltamos novamente, olhei para a única menina entre dois garotos que não prestei muita atenção. Logo reconheci que a menina em questão era Natália, uma amiga da Lu na época da escola. Lembro-me que ela, a Maia e a Luiza passavam horas enfiadas no quarto fazendo as mais variadas coisas e sempre deixando o Guilherme carrancudo por ficar de fora. No começo, a Isabela sentia ciúmes da relação da Maia com a irmã mais nova e não gostava muito dela, mas acho que ninguém consegue ter raiva dela por muito tempo e elas viraram amigas. Pelo menos eram, até nós terminarmos e eu perder completamente os laços com essa família.
Victor: Natália?? Nossa, quanto tempo!! - ela concordou com a cabeça, fazendo com que seus cabelos negros e ondulados balançassem suavemente. A Nat se aproximou, timidamente a princípio, e me abraçou.
Somente depois de cumprimentar a segunda menina é que prestei atenção nos dois meninos que continuavam parados encostados em dois carros distintos. Um tinha cabelos castanhos e lisos e olhos da mesma cor, o outro tinha um cabelo castanho bem claro que chegava a ser quase um louro escuros olhos azuis claros. Visualmente não se pareciam muito, o de olhos azuis era uns bons centímetros mais alto do que o outro. No que eles realmente se pareciam era na expressão de pura fúria que se mostrava no rosto de ambos, enquanto os olhos azuis corriam velozmente entre mim e Luiza com uma raiva quase palpável, os olhos castanhos alternavam entre olhar pra mim e olhar para Natália em um misto de ódio e tristeza. Espera um pouco...
Luiza: Lucas, quero que conheça o Victor! - falou alegre até se dar conta de que o amigo não a ouvira, estava ocupado demais continuando as suas encaradas. Lentamente, ela voltou a cabeça para o outro menino e eles se encararam por alguns instantes. - O que é que vocês dois têm??
O estressadinho se virou e foi embora sem olhar para trás, enquanto o garoto que parecia se chamar Lucas deu um breve olhar para Luiza, abaixou a cabeça e saiu atrás do outro.
Luiza e Natália se viraram uma para a outra, aparentemente sem entender o que acabara de acontecer, enquanto eu me virei para a Maia com um sorriso enorme estampado no rosto. Percebi imediatamente que ela notou exatamente a mesma coisa que eu havia notado.
Demos uma gargalhada alta e as duas se viraram para nós visivelmente assustadas.
Natália: O-o que f-foi??
Antes que eu conseguisse recuperar o fôlego, a Maia falou:
Maia: Eu não sabia que vocês duas estavam namorando. - sorriu.
Luiza: O QUE??? Do que você está falando?? Enlouqueceu??
Maia: Hã?? - Maia olhou um pouco assustada para a antiga amiga, como se não acreditasse que ela não tivesse percebido. E ainda dizem que os garotos que são lerdos... Qual é!! Até eu saquei.
Victor: Não é por nada não, mas, se vocês não estiverem afim de ter uma DR mais tarde sobre ciúmes, é melhor irem atrás dos dois logo.
Natália: C-como assim-m??
Maia: Vocês estão falando sério?? Vocês não perceberam?? - disse em um tom definidamente apavorado. - M-mas vocês sempre eram as primeiras a notar esse tipo de coisa, q-quer dizer, na época da escola... Vocês eram mais inteligentes nisso que todas nós juntas-s...
A menção da escola fez todos fazerem uma breve careta como se ela tivesse dito algo como um palavrão, mas ninguém fez comentários.
Luiza: Dá pra um de vocês explicar do que vocês estão falando?!
Victor: Ué, é óbvio!! Eles estão com ciúmes.
Agora foi a vez das duas gargalharem, ou melhor, da Luiza gargalhar. A Nat ficou vermelha feito um pimentão assim que sugeri a possibilidade do garoto gostar dela. Ergui uma sobrancelha para Maia, mas ela acenou rindo junto com uma histérica Luiza.
Luiza: Essa foi boa!! - disse, enxugando umas lágrimas provocadas pelo riso. - Olha, o Lucas gostar da Natália até concordo... - a amiga ficou tão vermelha que eu fiquei preocupado que fosse explodir.. - Mas aquele troll?? Essa foi realmente boa.
Olhei novamente para a Maia em busca de alguma instrução e ela apenas moveu silenciosamente os lábios formando as palavras "vamos com calma".
Victor: Então... Você e aquele garoto, melhor ainda, aquele "troll" não tem nada??
Agora a Luiza também estava ficando corada, só que de raiva. Maia lançou a mim um olhar fulminante e eu apenas sacudi os ombros.
Victor: Só quis saber, ué.
Maia: Você poderia ter sido um pouco mais sensível, sabia??
Acho que a Maia mirim estava com tanta raiva que nem sequer notou o nosso breve diálogo e me encarou como se eu a tivesse ofendido.
Luiza: Nunca mais diga uma coisa dessas!! Eu não me apaixonaria por um garoto como ele nem em um milhão de anos e...
Victor: Mas pegar é outra história. - falei com um sorriso e recebi um olhar ainda mais furioso. De repente, a ficha começou a cair. - Pegar é outra história mesmo. Então rolou??
Virei a cabeça brevemente na direção da Nat, bem a tempo de notar o olhar aterrorizado que ela lançou na minha direção e voltei a olhar a tempo de ver uma mão vindo diretamente na minha cara.
Victor: Bom ver você de novo também, Luiza. Estava morrendo de saudades dessa sua mão pesada aí. - resmunguei irritado.
Maia: Victor, você está bem?? - ela havia corrido na minha direção, preocupada. Percebi a agressora lançar um olhar culpado na direção das ondas castanhas que formavam o cabelo da Maia. - Não precisava de tudo isso, certo?? - ela lançou um olhar ao mesmo tempo repreendedor e fraternal enquanto Luiza mirava o chão.
Luiza: Desculpa... - sussurrou.
Victor: Relaxa, mal nos encontramos e você já meteu a mão na minha cara. Intimidade é um negócio eterno, não acha??
As duas universitárias deram risadas e aquele famoso silêncio constrangedor recaiu sobre os quatro loucos parados no meio do estacionamento.
Victor: Bom... Então, eu encontro vocês na palestra, né? Vou só estacionar o carro e já acho vocês por lá.
Maia:Com certeza. E eu vou voltar antes que o reitor pense que eu desisti de vir.
Comecei a andar para o carro quando ouvi um grito:
Luiza: ESPERA!!! - eu a encarei. - Vocês dois não vão sumir de novo, né?? Quer dizer, a gente vai se falar certo??
Eu e Maia nos entreolhamos e vi seus olhos castanhos brilhando suavemente. Sabia que ela também queria manter contato com ela, mas estava apavorada pelo mesmo motivo que eu: o resto dos irmãos Ferrarini.
Maia: Que tal nós almoçarmos juntos hoje??
Natália e Luiza: SIM! SIM! SIM!
Victor: Então combinado.
Entrei no carro e olhei a Maia pelo vidro, chegamos silenciosamente a mesma conclusão: bastava um FaceTime, uma ligação, uma mísera mensagem de um dos dois perguntando se ela tirou o livro que nem eu nem ela teríamos coragem de olhar para ela de novo. Que droga!! Ninguém deveria perder amigos desse jeito...
Seria um longo almoço...

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