Capítulo 37

1.6K 111 8
                                    

No dia seguinte, Callie resolveu fazer uma visita aos pais.Logo cedo, se vestiu, tomou um café rápido, e aproveitando que a esposa não estava em casa pediu à um dos criados que a levasse numa carruagem.
-Minha querida!- Lucia exclamou, ao receber a filha.- Enrique, venha 
cá!-Chamou, enquanto abraçava Callie.
O pai da morena apareceu momentos depois, fumando um charuto, a expressão séria.
-Olá papai.- Callie foi abraçá-lo.
-O que faz aqui?E seu marido?
A morena recuou, um pouco sem jeito.
- Arizona está resolvendo alguns assuntos e não pôde vir comigo, papai.Mas não está feliz em me ver?-Ela o olhou.
Enrique fez um gesto impaciente com a mão, dando uma tragada no charuto.
-Sim.
-Claro que ele está, meu amor.- lucia sorriu para Callie.-Mas venha tomar um chá conosco.Como vai a vida de casada?
Callie acompanhou a mãe, contente. Enrique seguiu-as logo atrás.

Durante o chá, mãe e filha ficaram conversando alegremente. Enrique só comentava alguma coisa ou outra, e somente quando lucia lhe dirigia a palavra, ou quando ele tinha uma oportunidade de criticar Callie.
-Com licença, vou para o meu escritório.-Ele disse em certo momento, se 
levantando, colocando o copo de whisky na mesinha e saindo.
-Acho que ele não está muito feliz com a minha visita.- Callie murmurou para lucia.
-Não diga bobeiras, Callie .Ele é seu pai.
-Isso não quer dizer nada.-A morena franziu a testa.
Lucia balançou a cabeça e deu um jeito de puxar outro assunto banal com a 
filha.
Decorrida meia hora, a mulher disse que precisava providenciar o almoço com os 
criados, e pediu que Callie a esperasse e ficasse à vontade.
Quando a mãe saiu, Callie encarou as chamas da lareira acesa da sala de 
estar.Logo se levantou, e decidiu ir até o escritório da casa.
Deu duas leves batidas e entrou.
Enrique estava sentado numa poltrona, de frente para a janela e observando o 
lado de fora.
Ele olhou para trás e quando viu callie não falou nada.

-Posso entrar?-Ela perguntou, hesitante, já fechando a porta atrás de si.
-Já entrou.-Ele respondeu com frieza, voltando a encarar a janela.
Callie engoliu em seco e se aproximou...já estava na hora de ignorar seus medos 
em relação ao pai e enfrentá-lo.E aquilo seria agora.
-Não parece muito contente com minha visita hoje.-Murmurou de forma banal.
Enrique deu de ombros.
-Estou normal, Callie.
-Sim, normal.-Ela soltou o ar.-Normal porque você sempre me tratou assim, desde pequena.Mas somente é normal para você, papai.Não para outros pais.
-Do que está falando, menina?
-Eu quero dizer que o normal é um pai amar seus filhos.-Ela respondeu, 
distante.-Dar carinho, atenção, e querê-los bem.
-Agora vai querer dizer que eu não a trato bem, é isso?
Callie soltou um suspiro.
-Só quero dizer que você não age como os pais normais.Você me faz sentir uma 
completa estranha aqui.Me faz sentir indesejada, como algo que incomoda.E me sinto assim desde pequena, papai.
Ele não respondeu, e a morena se aproximou, tocando o braço de Enrique.
-Porquê?Porquê me trata assim?Eu sou sua filha!
Callie estava com vontade de chorar, mas estava prendendo todas as suas emoções.

Enrique voltou-se para trás, encarando a morena.Pareceu avaliar o que diria por um segundo, e logo voltou a virar para frente, ficando de costas para ela.
-Você foi um acidente.-Ele disse de repente.-Eu e Lucia não havíamos planejado você...na época éramos muito jovens e não estávamos preparados.Eu não queria filhos tão cedo.-Ele disse em tom distante. Callie ficou estática.-Mal havíamos casado, um filho iria atrapalhar tudo.Eu...pedi para lucia tirar, quando ela 
engravidou, mas ela não quis.-Ele confessou.Falava tudo sem olhar para Callie, como se falasse sozinho.A morena começou a sentir os olhos arderem.-As pessoas começaram a tentar mudar meus pensamentos...começaram a dizer que se luciativesse um menino, ele seria o herdeiro e que eu poderia ensiná-lo muitas coisas.E era verdade.Aos poucos eu me animei a ter um filho.
Callie sentou-se numa cadeira, calada.
-E foi aí que você nasceu.- enrique pela primeira vez olhou para trás e olhou 
no fundo dos olhos amêndoas de Callie.-Tem noção da decepção que foi para mim?
A morena engoliu em seco, a garganta ardendo pelo nó que havia se formado.
-Uma menina...-Ele continuou, amargurado.-Destruiu todas as minhas esperanças de poder ao menos ter um herdeiro.Você é minha maior decepção, Callie.-Ele murmurou, sem pena.
A morena ofegou, os olhos rasos pelas lágrimas.Mas não ia chorar na frente do 
pai.
-Agora eu entendo.-Ela sussurrou.-É uma pena que eu tenha te decepcionado 
tanto, mesmo que sem querer, papai.
Dizendo isso, Callie se levantou da cadeira e saiu do escritório sem olhar para trás.

Passou pela sala de estar, e saiu da casa sem se despedir de ninguém.Somente entrou na carruagem que a esperava do lado de fora, querendo sair dali o mais rápido possível.

Amor demoniaco (versão calzona)Onde histórias criam vida. Descubra agora