Menton, 1994
A borda da piscina estava escorregadia de tanto que as pessoas pulavam na água. Criavam grandes ondas com seus saltos exagerados e, com a frequência que estavam fazendo, até o fim da noite a piscina estaria vazia.
Não posso culpá-los por estarem se divertindo, mas eu estava bastante preocupada na época. Era uma criança, afinal. Tinha apenas seis anos e uns quebradinhos, e estar naquela piscina cheia de adultos pulando incessantemente e usando apenas uma boia de macarrão para me segurar era como se eu estivesse velejando em alto mar.
Estava bem frio dentro da água para falar a verdade, mas eu sabia que se saísse seria ainda pior. Sabia disso, pois era possível ver os coqueiros logo ao lado balançando com a força do vento naquela noite animada.
Onde eu morava nunca fora tão animado, era um lugar bastante recluso e pouco mencionado nos jornais, era um lugar bonito com orlas encantadoras e portos navais belíssimos. A floricultura também era algo bastante prezada pelos moradores, por isso, se algum dia você quiser visitar o lugar, tenha em mente que verá ao menos um arbusto de flores coloridas por esquina.
O problema é que ninguém ligava muito para a existência do lugar. Por isso, o ano inteiro era bem monótono e sem graça.
O carnaval era a única exceção, pois sempre aparecia uma família imensa para nos visitar. Francamente, eles iam para ficar na sua casa de praia, mas eu gostava de pensar que iam nos visitar.
— Amélie, saia da água ou ficará resfriada — ouvi minha mãe dizendo ao longe.
— Já vou, mamãe! — respondi enquanto tentava não engolir água e nadava nervosa para a beirada da piscina, afim de conseguir suporte.
Já do lado de fora, eu tremia absurdamente por causa do frio que fazia. Água no corpo e vento forte não é uma boa combinação.
Caminhei com o maior cuidado pela borda de pedras finas, como se tivesse evitando minas terrestres, mirava sempre no meio das formas, para não encostar o meu pé nas linhas, um verdadeiro jogo de xadrez, onde as casas eram marrons e bege ao invés de preto e branco.
Não queria escorregar e ser feita de chacota. Sabia que as outras crianças não iam muito com a minha cara por eu ser tímida, então não queria dar-lhes outro motivo para não gostarem de mim.
Aliás, falando em crianças, meu melhor amigo Isaq ficou na piscina brincando com Luna e Antonella, eu era literalmente a única criança fora d'água, e isso me incomodou um pouco. Mas não queria contrariar à ordem de minha mãe, então simplesmente obedeci sem pestanejar.
Quando cheguei próxima à escada, minha mãe me embrulhou numa toalha escura de adulto. Tremendo e encapada até o pescoço, fiquei parecendo um vampiro.
Ela me pegou no colo e me colocou no chão abaixo da elevação da piscina. Sim, a piscina era imensa. Eu mal tinha altura para observar o que acontecia lá dentro quando estava no chão, mas de relance consegui olhar rapidamente para água, onde sem querer dei de cara com o olhar penetrante de Antonella.
Apesar de conversarmos quando estávamos juntas, nós nunca nos demos bem. Foi alguma antipatia logo de início que nos afastou, talvez ela tivesse inveja ou petulância de mim. Seja lá o que fosse, eu com certeza tinha dela.
Adorava sua prima Luna, a mais velha entre as crianças com uma diferença de um ano e meio, sua pele era parecida com castanha-de-caju torrada e seus olhos eram uma explosão de cores!
Além disso, não gostava do fato de que quando àquela família vinha para cá, Isaq sempre agia diferente comigo. Não é que ele me evitava ou alguma coisa do tipo, mas ele sempre brincava mais com as outras crianças, especialmente com Antonella. Pareciam até irmãos quando estavam juntos, principalmente porque tinham o mesmo tom claro de pele e o cabelo preto sem ondulações.
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A Maldição de Luna
RomanceApós a recusa de ter um relacionamento amoroso com sua amiga insamente apaixonada por ela, Amélie LeBlanc recebe uma "maldição" que destrói sua vida aos poucos. Cada dia que passa ela tem uma visão que desmorona alguma parte de sua humanidade, torna...