Perda
Porto, 2008
Minha testa parecia sugar toda dosagem de transpiração presente no meu corpo. Tirei o meu rosto do travesseiro por medo de morrer sufocada, ou talvez por simples e genuíno desleixo. Não queria admitir para mim mesma, mas estava com medo de perder minha vida, estava com medo de perder minha sanidade, estava simplesmente com medo de perder...
Tudo ao redor parecia estar se movendo quando levantei a cabeça, a entrada súbita de luz nos meus olhos após uma escuridão forçada fez pontinhos dançarem no ar, não sabia o que era. Para acompanhar aquela viagem, tudo estava um pouco laranja, me sentia claramente com ânsia de vômito e tontura, tanto pela dor de cabeça que havia voltado como um baque preciso quanto pela transpiração excessiva.
Consegui controlar o desejo incessante de colocar para fora toda podridão dentro de mim, não só em questão de vomitar, mas também de soltar mais gritos a fim de calar meus pensamentos, e de chorar para aliviar minha dor.
Ao invés disso, levantei da cama concentradamente, como se estivesse enfrentando um grande desafio na minha vida e puxei o telefone na mesinha ao lado.
A bateria estava acabando.
Não importava, precisava fazer uma ligação urgente.
Peguei a agenda telefônica próxima e dedilhei as páginas, focada em encontrar o número de Franciele. Precisava confirmar se Luna estava realmente morta, precisava confirmar se ela estava realmente viva. Precisava confirmar qualquer coisa que me ajudar a justificar minhas alucinações então recentes.
— Você sabe que só vai piorar a situação — uma voz feminina veio do fundo do quarto.
Meu corpo ficou inerte. Era a voz de Luna, como era possível que em tão pouco tempo ela havia retornado? Isso só poderia significar que minha mente estava desmoronando em ruínas.
— Mal está aguentando a própria pressão sobre tudo isso e ainda quer envolver mais gente na situação? — Sua voz invadia cada músculo meu e se arrastava em meus ossos como um chicote visitando as costas de um escravo — Acha mesmo que é uma boa ideia? O que você acha que vai acontecer em seguida, hein?
Meu coração provavelmente havia gastado mais atividade corporal nos últimos dias do que comparado com todo o resto da minha vida. Ele saltitava em meu peito como se estivesse desafiando minha pele a se abrir, presumia que em breve conseguiria saltar de meu corpo.
Forcei-me a controlar meus movimentos e pisquei com força enquanto engolia meu espanto goela abaixo. Pousei o telefone relutantemente e virei, com receio, meu rosto para trás, já sabendo o que iria encontrar.
— O que você fez comigo? — perguntei com a voz trêmula.
A figura atrás de mim era uma versão diferente da Luna que eu costumava conhecer, essa tinha um olhar arrebatador e uma postura maldosa. Estava sentada quieta, encostada na parede e com as pernas esticadas para frente.
— Isso não interessa... o que interessa é: o que você vai fazer com isso que eu fiz com você? — Luna perguntou com um sorriso bobo no canto do rosto.
Ela soou bastante filosófica, mas sabia o que queria dizer com aquelas palavras. Queria que eu admitisse que se continuasse acontecendo o que estava acontecendo, eu cederia, me deixaria levar pelo medo de viver, me deixaria levar pelo desejo de...
— O que você pensa que está fazendo? — tentei soar a mais corajosa possível, apesar da sua imagem desleixada no chão me apavorava. — Jogou sua vida fora como se fosse nada? E tudo isso para que... uma vingança boba?
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A Maldição de Luna
RomantikApós a recusa de ter um relacionamento amoroso com sua amiga insamente apaixonada por ela, Amélie LeBlanc recebe uma "maldição" que destrói sua vida aos poucos. Cada dia que passa ela tem uma visão que desmorona alguma parte de sua humanidade, torna...