Epílogo

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Manicômio judiciário, 2019

PACIENTE

Amélie LeBlanc.

MEDICAMENTOS

Valium, Vicodin e Amitriptlina.

DIAGNÓSTICO

Depressão maníaca, desordem de sono e ansiedade social, indício de esquizofrenia.

AVALIAÇÃO

Ao longo dos últimos anos, a paciente contatou poucas pessoas, como amigos que a telefonavam e visitas mais íntimas de familiares, mas não faz questão nenhuma de manter contato social, a menos que fosse sugerido ou requerido. Isso se agravou gradualmente até chegar num patamar de desordem de ansiedade social, fazendo com que ela se tornasse quase incapaz de se relacionar com qualquer um que não fosse da nossa equipe psiquiátrica.

A única conversa que mantinha era com a figura inexistente que afirmava estar vendo de vez em quando. Quando perguntado de quem era a imagem que conversava, a paciente afirmava ser da pessoa que havia assassinado. Em geral, seus assuntos eram peculiares, costumava falar sobre o passado, como se conheceram e os bons momentos em que viveram juntas, mas tinha um comportamento incomum logo depois de começar a falar "sozinha". Por conta desses momentos inoportunos, a paciente acabou desenvolvendo um estado maníaco-bipolar.

Muitas vezes a paciente fechava os olhos e tremia como se estivesse presenciando "um suicídio horrível", como ela própria descrevera. Durante bastante tempo, suas noites de sono passaram a ser quase raras por conta desses acontecimentos, até que passou a desenvolver consciência plena dos delírios que a assolavam e passou a se controlar um pouco mais.

É essencial ressaltar também que em mais de uma das consultas que tive com ela, ouvi-a descrever sobre a noite em que cometera o crime como "um batizado sangrento", mas não dava muito mais detalhes acerca do assunto, além de afirmar que estava, aos poucos, perdendo sua capacidade total de pecar.

Sempre que perguntava para a paciente se ela se sentia depressiva, sua resposta era quase a mesma: "No final, ela estava errada. Não sinto desejo nenhum em morrer, mas para falar a verdade, também não sinto nenhuma ânsia em continuar viva...".

Passava o dia inteiro encarando as paredes e ficava pensativa ao extremo, evitava cada vez mais as consultas e qualquer indagação feita sobre o passado ou as possíveis motivações que ela tivesse tido para cometer seu crime, a paciente simplesmente falava "deveria ter saído correndo todas as vezes...", enquanto me fitava com um olhar vazio.

CONSIDERAÇÃO FINAL

Os resultados obtidos até o momento são quase nulos, fazendo-me crer que a paciente precisa de sua pena estendida afim de ficar sob observação, visto que ela praticamente perdeu sua humanidade.

A Maldição de LunaOnde histórias criam vida. Descubra agora