Capítulo quatro

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Sexo

Porto, 2008

O clima estava ameno e o edredom abafava minha respiração quente. Minha cabeça ainda latejava um pouco por conta da noite passada. Me curvei na cama, e limpei meus olhos com a parte de trás da mão, sem conseguir evitar que uma espreguiçada saísse de minha boca.

— Finalmente você acordou! — era a voz de Vitor, vindo da cozinha.

— Meu deus, que susto! O que você está fazendo aqui? — perguntei sobressaltada, tampando-me com o edredom. Instintivamente olhei para baixo, estava com a mesma roupa de ontem à noite.

— Eu te trouxe para cá, se lembra? Bem, provavelmente não... — ele brincou, sentando-se na beirada da cama. — Fiquei preocupado...

Me ajeitei sentando-me eretamente e o encarei pasma.

— Você ficou aqui esse tempo todo?

— Na verdade não, fui para casa e voltei umas três vezes. Você dormiu igual uma pedra — Vitor respondeu rindo.

Olhei para o despertador, ele falava a verdade, eram 15h12m!

— Minha nossa! — falei levantando-me da cama, me arrependi assim que o fiz.

Minha visão tonteou por um breve momento.

Percebendo minha tontura repentina, Vitor se levantou e segurou meus ombros, indicando que eu sentasse novamente na cama.

— Você ainda não está recuperada. Espere um momento...

Ele saiu do quarto e foi para cozinha novamente, quando voltou, trazia um prato e um copo nas mãos.

— Toma. Fiz um soro caseiro e um pouco de ovos mexidos. — peguei o pratinho incrédula do tratamento que estava recebendo. — Esfriou é claro, mas não posso fazer nada se você dorme sem parar.

Rimos por alguns segundos, peguei o garfo de alumínio e agradeci. Ele esperou eu comer cerca de três pedaços para começar a me bombardear.

— Então, quer me falar sobre o que houve ontem à noite?

Nem eu sabia o que havia ocorrido ontem à noite.

— Quis experimentar coisas que não devia, só isso...

Eu sabia que não era só isso.

Ele sabia que não era só isso.

— Tem certeza? — ele perguntou levantando a sobrancelha.

— Tenho — não tinha.

— Foi uma reação um pouco incomum, sabe, por isso perguntei — Vitor passou o braço sobre meu pescoço. —, mas enfim, espero que fique melhor.

— Obrigada, Vitor. Por tudo, você é um amor!

Ele acariciou o couro cabeludo, enrubescido com o elogio. Levantou-se enquanto eu terminava de beber o soro caseiro que ele fez para mim e acrescentou por fim.

— Então, agora que eu sei que você está bem, acho que já vou indo.

Conhecendo o jeito de Vitor, sabia que ele realmente iria, que provavelmente só ficou comigo porque se sentiu culpado de ter me convidado e ter acontecido o que aconteceu. Mas não queria que ele tivesse essa visão de mim, não queria que ele ficasse ali comigo só por pena.

— Por que não fica mais um pouco? — falei com um sorriso torto.

— Talvez não seja bom eu ficar, porque...

Sabia o que ele iria falar, cavaria alguma bobagem emocional idiota para justificar que não deveríamos ficar juntos, pois ele ainda sentia alguma coisa por mim e isso desencadearia um sentimento que ele supunha já estar...

A Maldição de LunaOnde histórias criam vida. Descubra agora