Capítulo dez

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Reencontro

Porto & Menton, 2008

De volta à casa de Natasha, não vi outra opção senão ligar para Antonella afim de pedir informação. Só precisava me conter e perguntar de uma forma que ela não suspeitasse meu nervosismo.

— Tem certeza que não é arriscado? — Natasha perguntou enquanto eu encarava as teclas do telefone. — Quer dizer, mesmo que ela esteja... seja lá onde, não é arriscado vocês se reencontrarem?

— Acho que é mais arriscado ainda a gente não se reencontrar. Eu preciso terminar com isso o mais rápido possível!

E foi com essa frase que busquei o número de Antonella na lista de contatos e, por sorte ou não, lá estava ele!

— Sim, sim. Entendo, mas... depois de toda essa loucura, tudo que ela fez você passar... — Natasha estava apavorada de terminar a frase, mas sabia o que ela queria dizer.

— Acha que ela poderia tentar me matar?

— Não duvido muito, pelo que você me contou dela... é o tipo de comportamento que se esperaria de uma pessoa assim.

— Tem razão — falei apertando o botão para chamada e colocando o telefone no meu ouvido —, mas não vou permitir que ela me mate.

O toque não se prolongou por muito tempo, Antonella atendeu na segunda chamada. Trocamos amenidades meio cínicas, como já disse, não nos gostamos muito. Por causa disso mesmo fui direto ao ponto, até porque ambas sabíamos que não havia muitos motivos para eu telefoná-la.

— Enfim, queria saber também se você sabe alguma coisa sobre a Luna, ela não responde minhas mensagens e eu não faço ideia de onde ela possa estar...

Não sei como isso soou, talvez meio desesperada, mas estava tão ansiosa que não conseguiria fazer melhor.

— Ué? Achei que ela tivesse te avisado...

Avisado? Do que ela estava falando? Meu silêncio com certeza gritou minha dúvida.

— Bem, ela foi aí para Porto, certo?

— Sim, e foi embora logo em seguida, sem dar sinais, por isso fiquei preocupada e queria saber onde ela estava...

Talvez eu tenha sido meio grossa, não sei.

— Estranho... achei que ela tivesse ido aí para te avisar pessoalmente. Bem, daqui a alguns dias vai ter um final de semana com feriado prolongado de quase cinco dias e decidimos ir para Menton! — o desconcerto na voz de Antonella ficou evidente, aposto que não queria ter sido ela a me avisar isso. — No caso ela já está lá há um tempinho, pois falou que gostaria de "se instalar" antes da gente. Eu até achava que você estava em casa quando ela disse isso... quer dizer, na sua casa original, sabe?

Apesar de Antonella ter continuado falando, me senti atordoada quando ela mencionou Menton. Foi como um soco no estômago me pegando desprevenida.

— S-sei, olha... muito obrigada pela informação, Antonella. — tentei parecer o mais normal possível, sem deixar transparecer o nervosismo na voz. — Fico feliz de saber que está tudo bem então...

Natasha me encarava preocupada enquanto eu me despedia com educação de Antonella. Agora não poderia mais falar que ela nunca fez nada de bom por mim, mesmo ela não sabendo o quanto sua informação significava para mim.

— E então? — Natasha perguntou preocupada quando eu enfim desliguei o telefone.

Encarei-a boquiaberta e pensativa, e falei com toda determinação que consegui reunir.

— Já sei onde encontrá-la...

-✻-

Agradeci imensamente toda ajuda que Natasha me deu naqueles últimos dias, não só em questão de me abrigar e aconselhar, mas também todo apoio emocional e os demais que me ajudaram a coletar as informações. Ainda assim, pedi, ou melhor, quase implorei, para que ela não se preocupasse em ir ao aeroporto comigo.

A cidade era pequena, o aeroporto não era longe e de nada adiantaria. Por isso, lá estava eu, alguns dias depois de ter conseguido uma passagem de volta a Menton — também com ajuda de Natasha —, e uma bagagem de mão média.

Usei o tempo que tinha disponível sozinha para refletir no que faria a seguir. Não poderia avisar aos meus pais que estaria lá, eles simplesmente surtariam comigo, então tentaria fazer tudo na surdina e quando tudo estivesse resolvido, só então contaria para eles tudo que acontecera.

Independentemente de qualquer coisa, faria Luna reverter o efeito que fez em mim com aquela maldita hipnose. Teria apenas que ter cuidado com suas provocações.

Para ela estar em Menton sozinha, é porque provavelmente desde o início ela imaginava que eu descobriria que estaria ali e queria me encontrar pessoalmente. Deveria tomar cuidado também, pois não sei a quão afetada ela estava com sua ideia obsessiva, nem até onde iria para conseguir o que queria.

Ao ouvir meu nome sendo dito por uma voz mecanizada do microfone, me levantei e caminhei rapidamente para dentro do avião, fiquei tão dispersa em pensamentos que quase deixei escapar o voo.

De dentro do avião, pude observar pela janela a beleza que Porto conseguia revelar quando não estava soterrado em neve.

Era impressionante

Estranho era estar decolando, no fundo eu sentia como se estivesse me despedindo para sempre.

-✻-

A parte mais longa da viagem de volta para casa foi quando estava me aproximando, sozinha, da casa de verão da vó de Antonella. Sabia que não a encontraria ali, nem ninguém provavelmente, ninguém além de Luna, é claro...

Sentia minha perna bambear à medida que avançava para perto da porta. Não sabia o que aconteceria a partir dali mas sabia que não poderia recuar. Estiquei minha mão para a maçaneta e como esperado, ela estava aberta.

Girei-a e abri a porta calmamente. Deixando para trás a rua vazia e silenciosa, como eu disse, aquele lugar costumava ser bastante parado em quase todas as épocas do ano.

Deixei minha bagagem de mão no chão descansando do lado da porta e observei ao redor antes de avançar mais. As janelas estavam fechadas e as luzes do andar de baixo estavam desligadas, nenhum sinal de que realmente havia alguém ali.

Quase por intuição decidi atravessar o pequeno jardim de gramado baixo e ir em direção à piscina, passando pelo caminho da garagem, para não ser pega de surpresa.

Ainda assim, fui surpreendida com a visão de Luna, usando um top preto e um short curto, descalça e distraída, de costas para mim, mexendo na folha da bananeira bem à minha frente. Não havia como ela saber que eu chegaria àquela hora, então por que tudo parecia tão... premeditado?

— Estava te esperando — ela falou sem se virar, enquanto terminava de fazer seja lá o que estivesse fazendo com aquela folha de bananeira. —, seja bem-vinda de volta!

Só então ela se virou, com um grande raio solar cruzado em seu rosto, abriu os braços como se esperasse por um abraço e sorriu alegremente para mim.

A Maldição de LunaOnde histórias criam vida. Descubra agora